Death bed

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- Eu estou me sentindo fugindo em um campo minado. - Disse Omar, atrás de um arbusto, segurando uma caixa de espíritos, enquanto Adrienne segurava um espelho. - De novo, por quê eu trabalho pra você? O pagamento nem é tão bom assim...

- Você morreria de tédio se não trabalhasse pra mim. - Falou sem tirar os olhos da igreja. - A missa está começando, ótimo. Vamos nos estabelecer nos túmulos de trás, não queremos ser vistos.

Omar seguiu em silêncio sua chefe e fiel amiga. Claro, Adrienne tinha planos mirabolantes, mas eles costumavam funcionar e ele aprendeu isso. Por isso, ela tinha que ter liberdade para investigar. O caso estava caminhando bem, um dos melhores casos que eles já tiveram. O sucesso e os artigos depois desse caso atrairiam muito mais clientes - e clientes eram dinheiro.

Adrienne escolheu um local perto das árvores, e foi se sentando no chão, com um espelho na mão, que ela segurou na frente do rosto, pronta para olhar pelo reflexo qualquer espírito atrás dela. Omar, por sua vez, balançando a cabe negativamente, colocou a caixa de espíritos no chão e pegou o gravador de bolso.

- Tem certeza que quer fazer isso? - Ele perguntou.

- Vamos lá... temos que fazer progresso.

- Aqui é Omar. Estamos em uma sessão no cemitério, é cerca de 7 e 10 da noite. Adrienne é a médium condutora, fará uma sessão de espelhos, e estamos com uma caixa de espíritos ligada - Ele falou pra o gravador. - Ade, quando quiser...

O som da missa e do vento estavam perfeitos, ela pensou. O cemitério estava coberto por uma névoa leve e o ar estava frio.

- Aqui é Adrienne. Tem alguém que gostaria de se comunicar conosco? - Perguntou olhando pelo espelho por cima do ombro. - Eu sei o que aconteceu com vocês. Essa terra era de vocês. Essa terra é de vocês. Eu lamento que tenham morrido tentando defender ela.

Silêncio.

- Alguém gostaria de falar? Eu quero ouvir sua história. Você estava aqui quando o veneno foi colocado na terra de vocês?

"S... sim".  - Disse a voz no meio da estática da caixa.

- Como é seu nome?

"M... or...M... te".

- Morte. - Omar entendeu.

- Eu sei que você morreu. - Adrienne falou. - Você morava aqui quando sua terra foi envenenada?

"E..eu venho".

- Você veio? Você não era daqui? - Tentou compreender.

"Adrienne".

- Sim, meu nome é Adrienne. Qual o seu?

Adrienne viu uma mancha no espelho, há cerca de 5 metros de distância das suas costas. Era uma mancha escura, como fumaça, que se movia lentamente para cima e para baixo.

- Esse é você?

- Você está vendo ele? - Omar perguntou.

Adrienne começou a ver uma imagem mais clara. Parecia um homem... e tinha chifres. Dois deles, enormes, na cabeça. Na sua frente.... Empunhava o que parecia um escudo.

- Ele tem chifres. - Comentou Adrienne, engolindo seco. - Escuros...

- Ade... isso não parece bom...

- Como é seu nome? Me fale seu nome!

- Ade....

Omar deu um passo para trás quando escutou um estalo vindo de trás de Adrienne.

Neste instante, a imagem de Nora passou correndo, com seu vestido ao vento, bem pelo espelho.

Omar arregalou os olhos, vendo a imagem, mesmo sem o espelho, clara como o dia, da jovem menina correndo.

- Adrienne! Hora de sair! - Ele falou sério.

- Se você quer descansar em paz, me diga seu nome, eu posso te ajudar. - Ofereceu ela.

"MORRA!!!"

A voz quase estourou a caixa de som, e com um urro, a imagem do homem começou a correr, com passos audíveis altos na direção de Adrienne.

Omar começou a correr, em direção à igreja, e Adrienne tentou acompanhar. Ela estava correndo, atrás de Omar, pois gastou meio segundo se levantando, quando sentiu uma mão puxar ela com força para trás. A força foi tanta, que o impacto foi sentido em todo seu corpo, que se arqueoou para trás e caiu.

A queda, se aloongou por um período de tempo, no meio da névoa e Adrienne viu terra ao seu terror. Muita terra, e de repente, suas costas bateram no chão.

Ela estava em uma vala.

A vala, enorme. Tão grande... ela respirou, e suas costelas doeram. Tentou se mover, mas não conseguiu. Havia ondas de dor na sua cabeça e no seu corpo.

Ela levou a mão para a nuca, esfregando a mesma e sentindo a mão molhada. Puxou a mão até o campo de visão e viu sangue.

- Merda. - Tentou focar a visão meio borrada. Como ela tinha caído em uma vala? O que estava acontecendo?

Na beirada da vala, lá estava. A figura do homem, agora mostrava os chifres, e o escudo, com olhos que pareciam fogo. Por quê os olhos dele pareciam fogo?

- EU QUERO AJUDAR! - Ela gritou.

- Esta terra não é sua. - Ele falou com a voz firme, como se estivesse ali mesmo. - Você vai morrer aqui.

- EU NÃO QUERO A SUA TERRA!

Então, como mágica, corpos começaram a aparecer ao lado de Adrienne. Corpos putrefatos, com meias caveiras e pedaços de carne escura e suja de terra.

Adrienne começou a gritar. Enquanto tentava se mover, mesmo com a dor da queda, a montanha de corpos começou a engolir seu corpo.

- NÃO! NÃO! OMAR! OMAR!

Ela tentou se agarrar em algo, desesperada. Sentia os ossos a arranhando enquanto seu corpo afundava cada vez mais. O homem, sorrindo, olhava seu desespero.

Ela tentava sair. Tinha que sair. Fechou os olhos, quando perdeu a luz da lua. Seu corpo era mais um naquela vala infernal.

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