Heaven on earth

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Adrienne chegou perto das cinco da tarde, com mais perguntas do que respostas. Sua cabeça estava doendo muito e ela tinha certeza que o cemitério precisava de mais investigação. A igreja, agora com as luzes acessas, esperava a noite. Adrienne também esperava a noite - contava com ela. Hoje não seria um dia para investigar. Ela precisava pensar, e precisava muito dormir.

O caminho de névoa até a igreja era, em sua opinião, parecido com um filme de terror de muito mau gosto. Daqueles com final previsível. Ela imanava que final esta saga teria. Como tantos outros, seu medo era que fosse uma assombração residual. Ia tentar o método do espelho. Tinha que tentar. Claro, primeiro tinha que tirar William do seu caminho para entrar no cemitério de noite.
Na soleira da igreja, parado, estava seu padrasto. O mesmo sorriso. O mesmo estilo de roupa. Não era possível. Ele estava morto. E estava em Cadiz. Mortos não saiam tanto de sua zona... não é mesmo?

- Você está atrasada de novo. - O padrasto falou, com seu cabelo loiro queimado e limpando o nariz com as costas da mão.
Não. Ela estava cansada. Ele não poderia estar ali.

- Você sabe o quanto eu trabalho para por um teto na sua cabeça? Você não vai me tratar assim, sua aberração!

A figura do padrasto dela começou a andar em sua direção, e com o coração começando a pulsar forte demais, Adrienne tentou manter a sanidade.

- Fique longe de mim! Você não está aqui! Eu não sei que truque é esse, mas não é você!

Ela levantou uma mão no ar, com um sinal de pare.

- Você é a vergonha desta família, Adrienne! Sua mãe devia te jogar na rua!

- Você não está aqui! - Gritou.

William, ouvindo a conversa, pelo menos a parte de Adrienne, andou até a porta da igreja, curioso. E viu a menina com o rosto vermelho, quase chorando e olhando algo que ele não via.

- Estou sim... - William falou. - Ade?

O olhar de Adrienne focou nele. Ela parecia...transtornada. Parecia sem ar, triste e com medo.

- Adrienne, venha. - William esticou a mão. - Venha comigo, ovelhinha. Está esfriando.

- Eu... mas eu... - Adrienne focou de volta o olho na figura de seu padrasto. Ele estava sorrindo, com os braços cruzados, como se estivesse esperando Adrienne fazer algo.

- Ade, está tudo bem. - Garantiu William. - Nada vai te fazer mal. Venha.

Adrienne correu. Era a única reação que poderia ter. Correu com toda força e velocidade que tinha e foi direito para William. Ele podia não ser sua pessoa preferida desde o dia anterior mas ela queria segurança. Naquele momento, William era segurança. Abraçou William, se deixando envolver pelos braços dele que a apertaram contra o peito.

- Deus do céu, Adrienne, você está gelada. - Ele falou surpreso pelo abraço e surpreso com como ela parecia assustada. - Venha... vamos entrar.

William a guiou, com o braço enlaçando a cintura dela. Mantendo-a perto de si. A levou até o seu studio, sentando-a na cama e se abaixando na frente dela, com a mão em seu joelho.

- Ade... o que foi? - Ele perguntou.

- Eu vi... algo que não pode ser.

- O que você viu? - Ele perguntou apertando o joelho dela carinhosamente.

- Meu padrasto. Eu vi meu padrasto. Meu Deus, era ele. Parecia ele.

William mordeu o lábio inferior, um pouco preocupado com a informação. Adrienne estava se afundando naquela igreja rápido demais. Ela era emotiva e estava se deixando envolver pelos espíritos que invocava nas suas investigações.

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