purgatório

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— Há equívocos no livro? — Hongjoong o questionou ao fechar por um instante o documento com o pré-projeto de dissertação que aceitara orientar sobre as influências greco-romanas na angelologia cristã contemporânea.

O tema evidentemente fizera-o consultar Seonghwa e seu anjo respondera que, se o ajudaria nisso, então gostaria de primeiro ler sobre os sussurros levianos que os seres humanos tinham transformado em verdade.

Enquanto Hongjoong relia documentos religiosos dos quais não se lembrava com exatidão, Seonghwa fazia anotações à lápis em teses publicadas como livros e artigos recentes sobre o assunto que eles imprimiram.

E fora particularmente uma delícia ouvi-lo ser despretensioso em sua arrogância ao dispensar os volumes da Torá, do Antigo Testamento e da Teogonia pelos quais o professor de semiótica decidira começar porque o anjo sabia recitar os versos relacionados ao tema contidos em cada um deles. Em seu idioma de origem.

— Não é isso — Seonghwa respondeu, embora as linhas de seu rosto estivessem levemente contraídas e ele houvesse fechado o livro com um estalo seco. Usava apenas uma túnica larga, tecido negro em um deslizar vagaroso por seu ombro direito, deixando o peito quase completamente visível. As mãos dele se escondiam por dentro dos punhos da blusa, apenas a ponta dos dedos que seguravam o lápis se fazendo visíveis. Seu cabelo branco caindo pela testa, ocultando-lhe os olhos quando ele se inclinava para frente.

Em contraponto, as pernas esguias se estendiam nuas sobre a cama e Kim Hongjoong quis ir deitar ali, no encontro entre elas, para que pudesse tocá-lo desde a pele sensível sob seus pés até a parte interna dos joelhos enquanto mordia a carne macia de suas coxas.

Desligando o computador, Hongjoong se distanciou da escrivaninha e sentou na ponta do colchão, o incentivando com um aceno de cabeça a prosseguir e elaborar melhor seu argumento.

— A grande falácia em eu ter me voluntariado para ajudá-lo está no fato de que sei a verdade sobre nós — ele enfatizou, o tom veemente em sua voz não sofrendo perturbações quando Hongjoong puxou um de seus pés para o colo e começou a massageá-lo ainda que o Kim tenha notado a leve insinuação de um sorriso amenizar sua expressão. — Seus estudiosos falam sobre influências, sobre tradição oral, corrupção religiosa e mentiras, mas...

O anjo lhe chamou para perto e Hongjoong aceitou o convite se inclinando por entre as pernas dele, primeiro com um aperto perverso em seu tornozelo, depois subindo com as mãos espalmadas por sua panturrilha e joelho, as unhas passando a arranhá-lo quando chegou no interior da coxa, subindo quase sem pressa por baixo do tecido e o trazendo para si quando por fim o agarrou pelo quadril.

Após fitar por um instante seus lábios, Seonghwa voltou a encará-lo e sussurrou em seu timbre rouco que tinha gosto de cristais de gelo e fogo azul:

— Sermos retratados como criaturas aladas fisicamente parecidas com vocês como faziam os gregos porque o catolicismo considerou esteticamente mais viável que um triângulo com olhos não é relevante — ele entrelaçou as mãos atrás de seu pescoço ao dizer, trazendo-o para que Hongjoong deitasse a fronte em seu colo conforme voltava a se inclinar contra a cabeceira. — O que suas tradições esotéricas contam sobre não termos vontade própria é o ponto no qual devem se ater realmente — confessou enquanto dedilhava um carinho por sua têmpora antes de enfiar a ponta das falanges por entre os fios tingidos de azul, fazendo com que Hongjoong sentisse espasmos lhe beijarem a lombar.

— Por quê? — questionou, sua mão voltando a descer pelo corpo dele, acariciando-lhe a perna em uma parcela de pele morna muito próxima da virilha.

Sentiu Seonghwa arfar antes de propriamente escutar o murmúrio lhe cortando por dentro. As pálpebras do anjo se fechando por um momento breve antes dele se recompor.

— As histórias dos gregos contam que os filhos da Noite poderiam fazer o que quisessem contanto que mantivessem o equilíbrio do mundo a partir da execução de suas funções. Desde que Tânatos desse o beijo da morte aos condenados a perecer e Hipnos entorpecesse a espécie humana com sonhos e esperanças enquanto ela caía em desgraça, ninguém questionaria suas escolhas — e foi Seonghwa quem o trouxe para ainda mais perto, contra a curva de seu pescoço, permitindo que Hongjoong o beijasse ali se quisesse.

O que ele fez. Deixando estalos molhados em sua clavícula.

— Ao contrário de nós, esses anjos poderiam agir de acordo com seus próprios interesses, ainda que de modo limitado em alguns casos — nesse ponto a respiração de Seonghwa já estava irregular e Hongjoong se afastou o bastante para voltar a olhá-lo.

— Mas se um dos anjos do Senhor faz uma escolha, ele é expulso do Céu... — Hongjoong viu-se quase que recitar. Fora coroinha, conhecia as tradições católicas, sabia porquê o Arcanjo Samael tinha se tornado o primeiro príncipe do Inferno.

— Não, criança — e, pela primeira vez, escutou Seonghwa soar indulgente. — Os anjos do Senhor caem porque Ele deseja que caiam. Os anjos do Senhor não têm a capacidade de fazer escolhas por mais que tentem. Somos amaldiçoados com nossos destinos, sabendo que cairemos se Ele quiser. E do modo como tiver vontade.

— Suas asas...? — Hongjoong não tivera coragem de questioná-lo sobre elas desde que ajudara a cortá-las, temendo que falar sobre o assunto pudesse ferir Seonghwa, mas naquele instante não pôde evitar mencioná-las.

Para seu alento, escutou a risada breve do anjo quando ele se aproximou e deslizou o nariz contra o seu.

— Eu não as perdi realmente. Elas se recuperarão com o tempo, mas é melhor mantê-las dentro das costas para ajudar no processo — ele umedeceu o lábio inferior, sua língua esbarrando contra a boca do outro por conta da proximidade.

— Dói? — Hongjoong sussurrou.

— Dói — ouviu Seonghwa praticamente ronronar, olhos nos seus.

— Eu sinto muito — disse contra sua boca, provando da textura úmida conforme proferia aquilo.

— Então me faça pensar em outra coisa — sua voz baixinha, quase um suspiro. Os olhos dele se fechando e seu rosto inclinando para o lado, permitindo que Hongjoong finalmente o beijasse.

O mordeu primeiro. Puxando a carne sem dó. Sorrindo ao perceber que as mãos do anjo foram para seu ombro, apertando-o talvez para conter mais um murmúrio arfado.

Colocando as duas mãos em sua garganta, porque era assim que preferia fazer as coisas, abocanhou primeiro o cantinho dos lábios dele, dessa vez seu sorriso silencioso transformando-se em uma risadinha perigosa ao escutar o protesto de Seonghwa quando parou antes de beijá-lo propriamente.

— Abra a boquinha pra mim, anjo — provocou contra a orelha dele. — Você vai aprender rápido que ganhará bem mais me obedecendo.

E quando viu os lábios carnudos se abrirem para ele, aumentou a pressão em seu pescoço, a língua provando da linha de seu maxilar antes de tocar os lábios de Seonghwa com os seus e procurar pela língua dele para chupá-la com um estalo.

Nesse ponto Hongjoong tinha sentado entre as pernas dele e Seonghwa pressionou o corpo contra o seu conforme o beijo se aprofundava, sentando em seu colo, arranhando suas costas ao subir as mãos por dentro da camisa que o Kim usava.

Quando sentiu Seonghwa inconscientemente rebolar contra o que era o início de uma ereção, Hongjoong o parou. Testa contra a dele enquanto tragavam o ar de forma descoordenada buscando regular as respirações.

— Por que você caiu? — o questionou, rouco. Seu peito ardia em busca de oxigênio — De que modo Deus escolheu que você falhasse para vê-lo cair?

Buscou os olhos dele, mas talvez aquilo tenha sido um erro porque a resposta de Seonghwa o deixou completamente vulnerável:

— Me apaixonando por você.

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⏰ Última atualização: Jan 25, 2023 ⏰

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