CAPÍTULO 10-UM DIA LONGO DEMAIS

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Edson sentiu um arrepio percorrer todo o seu corpo,  quando entrou no hospital. Ele  não sabia se era porque a noite trouxera um vento gelado, após a chuva que caíra à tarde, ou se era porque estava acima de suas forças  encarar duas mortes no mesmo dia.

De repente, era como se ele vivesse um dia que parecia que nunca iria acabar!

Difícil acreditar que naquele mesmo dia o irmão morrera em seus braços, ele o velara, fora ao seu enterro e que agora estava vivendo aquele novo pesadelo que era descobrir a morte de sua filhinha, que nem tivera a chance de nascer.

Ele quis ver Glória, mas uma enfermeira avisou que os pais da garota estavam com ela e que era melhor ele esperar para não cansar a paciente.

Ficar longos minutos solitários esperando no corredor do hospital foi uma experiência realmente desagradável para Edson.

A todo momento, ele tinha ímpetos de parar algum dos médicos ou  enfermeiros que iam e vinham pelos corredores e  queria dizer que ele era o pai daquela criança que morrera...que eles nunca a conheceriam correndo e brincando, mas que ele, o pai, já visualizara a pequena Flora fazendo aquilo...e que o vazio que estava em seu peito parecia crescer cada vez mais! Diria que tinha enterrado o irmão e que precisava de um ombro onde chorar por tanto sofrimento de agora precisar fazer outro velório e sepultar outra pessoa amada  em tão curto espaço de tempo.

Edson controlou-se e não fez nada daquilo, pois teve o bom senso de pensar que talvez cada uma daquelas pessoas estivesse indo salvar a vida de quem ainda tinha salvação e que seria errado ele atrasá-las.

Quando os pais de Glória saíram do quarto da filha, não disfarçaram a mágoa que sentiam em relação ao  genro.

Humildemente, o pedreiro os cumprimentou e não se surpreendeu quando nenhum dos dois veio lhe dar os pêsames pela perda de uma filha.

_Ela precisou de você ao lado dela e onde é que você estava?_perguntou a mãe de Glória.

Edson não se controlou:

_Enterrando o meu irmão, caso já tenha se esquecido!

O pai de Glória deu um passo a frente e também ficou na defensiva:

_Não exigiríamos que você abandonasse o velório do seu irmão, mas que tivesse tido a consideração de ter ido até ela quando ela te chamou! Nossa filha passou mal lá no velório e você foi incapaz de dar meia dúzia de passos e ir até ela!

A mãe aproveitou-se para descarregar também:

_Eu fui atrás de você, falei que a minha filha estava passando mal e você foi grosso comigo!

_Eu não sabia que era grave!_defendeu-se.

Controlou-se a tempo, pois não era o momento de dizer o quanto a sua namorada era mimada.

_Como não seria grave? A nossa filha é uma garota frágil, sensível...presenciou o seu irmão despencando de uma árvore e não teria ficado impressionada com isso?_o pai falou revoltado.

_E a pobrezinha nem se deu conta do que acontecia com ela, pois só dizia que queria ficar ao seu lado, te dando apoio, te consolando..._choramingou a mãe.

O marido a abraçou e voltou a falar visivelmente indignado:

_Você sabe que ela gosta mais deste daí do que de si mesma! Deu valor a quem não merecia e olhe aí o resultado!

Edson suportou aquele desabafo dos pais de Glória, pois se sentia merecedor de todas aquelas acusações. Péssima hora a que escolhera para reconhecer os defeitos da namorada...Ali, ao lado do caixão do irmão dele, a julgara chantagista, mimada a ponto de querer disputar com o falecido a atenção das pessoas! Ali decidira que iria dar as costas a Glória porque não mais a suportava e agora percebia o quanto fora injusto com ela! 

NÃO ME CONTE SOBRE MIM!-Armando Scoth Lee-romance espírita gayOnde histórias criam vida. Descubra agora