CAPÍTULO 13-O PRIMEIRO PASSO

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Era uma casa pequena e simples, numa rua tranquila de um bairro mais afastado do centro da cidade. Tinha duas árvores floridas na frente e um jardim bem cuidado. Havia também uma pequena varanda. A casa ainda não estava pintada. Na lateral, a pequena garagem...vazia. Onde estaria o carro de Harley?

Edson lembrou-se que o irmão chegara de carro no dia da tragédia...depois não vira o carro dele mais...Que fim teria levado?

_Não é lá grandes coisas, mas depois que pintar, deve valer um bom dinheiro, não acha?_disse Ariel sem muito entusiasmo.

Edson ficou calado, apenas com um sentimento de culpa por nunca ter ido conhecer a casa que era o orgulho de Harley. Ele estava tão feliz por conseguir ter a sua casa própria, que merecia que o irmão mais velho tivesse ido lá, que fosse uma tarde, para ajudá-lo na construção.

_Mamãe tem pressa em vender e disse que não é pra gente se preocupar nem com a pintura. O que você acha? Nos livramos dela deste jeito mesmo?

Edson sentiu um mal-estar de indignação, pois realmente era cedo demais para a mãe e Ariel  já ficarem dispondo dos bens do seu irmão.

_Você não acha que é muita falta de respeito falar assim da casa em  que o nosso irmão investia todas as suas economias, Ariel? Esta casa era o sonho do Harley e ele tinha muito orgulho de ter conseguido comprar o lote e fazer a casa praticamente sozinho! Tivéssemos nos unido a ele um único final de semana e talvez pelo menos a frente da casa pudesse ter sido pintada! Eu sinto remorso por nunca ter valorizado esta conquista dele! Lembro que a gente trabalhava duro a semana inteira e nos finais de semana, ele levantava cedo e vinha pra cá, só retornando à noite.

O irmão estranhou:

_Olha, Edson, tudo bem que não tem nem uma semana que o Harley se foi, sei que você teve todos estes problemas aí com a Glória, aquele sufoco com a possibilidade da doença dos seus filhos...Mas não dá pra esperar mais, Edson, porque assim que todos ficarem sabendo que o dono da casa  morreu e que agora ela está vazia,  só vai dar vadio querendo invadir! A gente tem que ser mais práticos e agir logo!

O pedreiro tentou se controlar:

_Vamos ver...por ser prático você entende o quê?

_Encerrar esta merda toda logo! É entrar, tirar aquela bichinha daí aos pontapés e vender a casa, simples assim! Já me informei...é tudo questão de conversar com o comprador...fazer um acordo, até a papelada toda ficar pronta...

Edson perdeu a paciência com o irmão caçula:

_Não é tão simples assim, Ariel! Não dá pra gente simplesmente expulsar o companheiro do nosso irmão assim!  O que não vai faltar é gente pra testemunhar que os dois estavam juntos por tempo suficiente para ser considerada uma união estável! A gente tem que ver o que diz a lei...

Ariel interrompeu o irmão de maneira grosseira:

_Que se dane a lei, Edson! A gente vai dar uma lição neste desgraçado...é ameaçar mesmo...fazer o terror...colocar pra correr sem dar chance nem dele pensar em recorrer à justiça! Se fizermos o serviço direito, ele não vai se atrever nem a procurar os direitos dele,  que aliás, estou pensando aqui...veado tem algum direito?

Edson não respondeu e desceu do carro batendo  a porta com força! Admitia que nunca havia aceitado completamente  a união de Harley e Cristiano, mas daí a tomar  medidas tão extremas pra se livrarem do viúvo, realmente era demais!

Ariel comemorou também descendo do carro cheio de adrenalina!

_É isso aí, mano! Agora eu gostei! Dá pra ver que você está com sangue nos olhos! Vamos mostrar para aquela vadia quem é que manda aqui!

NÃO ME CONTE SOBRE MIM!-Armando Scoth Lee-romance espírita gayOnde histórias criam vida. Descubra agora