ɢᴇᴛᴀᴡᴀʏ ᴄᴀʀ • ʟᴀʀʀʏ

five

Harry descobrira que a Rua Cornelia era ainda mais calma à noite.

O ambiente tranquilo daquela rua transmitia-lhe paz, mesmo quando seu coração continuava ligeiramente acelerado, embora ele não conseguisse distinguir se a reação involuntária era pela expressão concentrada do motorista enquanto esse dirigia ou se ainda se devia à adrenalina de escapar da mansão naquele anoitecer, aproveitando o momento da troca dos seguranças para deixar o local pela porta da frente. Suas bochechas ruborizadas em exaltação quando adentra o automóvel estacionado no lugar onde costumavam parar.

Eles criaram alguns hábitos cuidadosos durante as três semanas seguintes à tarde que eles chamavam carinhosamente de "a tarde no parque", buscando não levantar suspeitas de que se encontravam mesmo quando saiam juntos quase todos os dias para se conhecerem melhor. O cacheado jamais estivera tão apaixonado, conhecendo aquele sentimento enquanto ele cresce gradativamente em seu coração a cada beijo do adorável alfa.

Quando saiam juntos para encontros simples que envolviam explorar áreas da cidade onde nunca estiveram – onde caminhavam de mãos dadas explorando vitrines e cafeterias – ou simplesmente para aproveitar a companhia alheia no escuro do cinema, o cacheado mantinha segredo sobre sua infeliz sina. Ele decidira fingir que nada lhe mantinha acordado à noite, mantendo-se normal inclusive em casa, pois depositava suas últimas esperanças na milagrosa possibilidade de mudança de ideia do pai, então tentava ser o melhor filho do mundo...

O cacheado achava complicado se abrir nos encontros quando guardava tantos segredos, sabendo que o mais velho sempre contava histórias de sua infância e comentava sobre a família arruinada pela sua. Era impossível não se sentir injustamente culpado por aqueles pequenos e incontroláveis detalhes que o acompanhavam cronicamente na insônia, ansiosamente pensando naqueles absurdos até as pálpebras pesarem mais do que a consciência.

Mesmo dormindo pior que nunca, o ômega continuava adorável aos olhos do alfa quando esse desviava o olhar para checá-lo no banco do passageiro.

Embora tivessem se encontrado quase todos os dias nas últimas semanas, aquela seria a primeira vez que o cacheado visitaria o apartamento do motorista, então estavam ansiosos e nervosos por aquele passo no relacionamento que fluía naturalmente. Harry sente um frio na barriga quando param diante do apartamento do menor, temendo que descobrissem que não estava em sua cama naquela noite, embora estivesse animado com sua rebeldia.

Depois de tantos anos como um pássaro castigado na gaiola, o ômega finalmente encontrara forças para querer voar juntamente do alfa que segurava sua mão quando deixou o veículo, os dedos entrelaçados quando sobem as escadas amplas até o segundo andar, onde o cacheado finalmente conhece o apartamento do mais velho:

- Fique à vontade – Louis novamente parecia encabulado ao tirarem os sapatos para enfim entrarem no apartamento simples, lembrando-se do luxo com o qual seu convidado estava acostumado e imaginado que seu quarto valeria mais que todo o apartamento.

- Uau – o cacheado não se importa com o tamanho do local, seguindo diretamente à bela coleção de discos herdada de seu falecido pai, algo que não tivera coragem de vender mesmo quando estava desesperado por dinheiro o suficiente para entrar na gangue, sabendo que jamais superaria o valor emocional com o valor monetário.

- Você gosta de vinis?! – ele esquece suas inseguranças quando segue para junto do ômega ajoelhado diante da coleção que analisava com os olhos brilhantes de euforia quando assente, maravilhado pelos discos raros dispostos na estante da sala-cozinha.

Louis decide não mencionar a origem daqueles discos, sabendo que o cacheado se culpava sempre que mencionavam a morte do pai do alfa.

Ao invés de falar sobre heranças, os dois conversam sobre os álbuns que consideravam mais interessantes e descobrem mais gostos similares – o que dá ao cacheado uma ótima ideia de presente para quando chegasse seu aniversário, embora ainda não soubesse o quanto aquele relacionamento sem definição exata duraria, torcendo que esse fosse forte o suficiente para enfrentar os segredos escondidos por receio.