First estava quase no automático quando levantou da cama naquela manhã. Ele passou a noite num estado de semiconsciência que o tinha deixado mais cansado do que se, de fato, não tivesse dormido. Ele não podia dizer que não estava nervoso, seu corpo parecia uma pilha. Mesmo depois de ficar na banheira até a água esfriar, degustar de seu melhor Whisky e assistir seriados até que os olhos estivessem se fechando por conta própria, ele ainda não conseguia pegar no sono.
Ele ficou repassando cada etapa do plano, cada posicionamento que seus homens deveriam ocupar, tentou ao máximo visualizar como cada cena iria se desenrolar, até que sua mente entrou em um estado de torpor e começou a ser inundada por um rosto e uma voz que parecia o abraçar, o consolar e o apavorar. Khaotung entrava e saía de foco por trás de seus olhos fechados; sua voz o chamando "baby", de novo e de novo, o atormentando durante toda a noite.
Por volta das 5 da manhã ele finalmente se deu por vencido e despertou, vestiu roupas confortáveis e foi até a academia que era destinada a seus subordinados. Ele ficou cerca de 3 horas por ali, ora se exercitando, ora encarando o teto e tentando focar seus pensamentos no que estava por vir. Às 9 da manhã, já de banho tomado e devidamente vestido, ele foi até seus homens e tirou suas dúvidas sobre o plano. Ninguém sabia que ele estaria presente, a não ser os motoristas com quem ele e Khaotung tinham conversado no dia anterior.
First olhou o relógio na parede pelo que parecia a milésima vez, os ponteiros marcavam 9:45 da manhã como se estivessem zombando dele. Khaotung ainda não estava lá. Ele balançou a cabeça em negativa e se conformou com o fato de que ele não viria. First tinha estragado tudo.
Um mordomo bem vestido saiu do closet, botou uma almofada com seus acessórios em cima do criado-mudo e caminhou até First, o ajudando a acertar os detalhes de sua roupa.
— O senhor parece nervoso. - First apertou os lábios um contra o outro. — O senhor acha que ele não vem?
— Não importa. - O mordomo assente e passa primeiro o relógio para First. — Hoje é um dia importante, não posso perder meu tempo com esse tipo de pensamento.
— Eu achei que ele estava te ajudando com isso? - Devia ser uma afirmação, mas soou como uma pergunta, uma que First também estava se fazendo.
— Acha que eu não deveria confiar nele? - O mordomo lhe passa o cinto balístico e observa enquanto First o veste.
— Pelo contrário, senhor. Se me permite opinar, acho que o senhor realmente deveria confiar nele. - First trava e ergue os olhos com dúvidas estampadas neles.
— O que quer dizer? - O mordomo abre a boca para responder, mas é interrompido por batidas na porta e um Khaotung aparentemente muito ansioso entra por ela antes que possa ser convidado.
First sente todo o corpo esquentar com a presença de Khaotung, mas ele está chateado, mesmo sem saber porque, e um silêncio desconfortável se estende entre eles. Ele tenta ser indiferente e continuar suas coisas como se o rapaz não estivesse ali, mas ele e seu mordomo não estão mais conversando e ter os olhos de Khaotung perfurando sua nuca não está ajudando a deixá-lo menos nervoso.
— Senhor? - Seu mordomo o chama quando First pensa estar tudo pronto. Ele ergue os olhos e percebe que esqueceu o item de maior importância.
— Obrigada por isso, Arun. Não sei onde está minha cabeça essa manhã. - Seu mordomo assente.
Khaotung ainda não consegue entender o motivo para First não estar falando com ele ou ter dispensado Arun para que eles possam ter uma conversa a sós antes que ele tenha que partir. Sua cabeça está doendo de preocupação desde que saíra daquela residência no dia anterior. Saber que First estaria indo para a linha de frente e se pondo em um risco desse tamanho, fazia seu coração se apertar e ele quase tinha decidido deixar sua impulsividade tomar conta para ir junto. Khaotung sabia que não podia fazer isso, muitas pessoas dependiam dele, muitas pessoas dependiam de First também, mas ele não podia dizer a First o que fazer ou não, então ele selecionou Neo para acompanhá-lo.
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Toxic
FanfictionDepois da morte trágica, First e Khaotung foram obrigados a herdar o posto de seus pais no trono da máfia. Mesmo que tivessem sido preparados pra isso, eles nunca se imaginaram tendo que negociar drogas, artefatos e botar suas vidas em risco. Não...