Teimosia e Impulsividade

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O corpo de Neo tremia quando ele apoiou First e o levou em direção ao carro de um de seus homens. Mesmo horas depois, já adentrando pelos portões do casarão de First, ele ainda tinha dificuldade para controlar os tremores.

First tinha perdido a consciência algumas vezes durante a viagem e mesmo quando o sangue já estava seco em seu ombro, Neo sentia seu estômago embrulhar toda vez que olhava a bagunça que o rapaz tinha se tornado. Ele não estava com medo apenas da reação de Khaotung, First estava com a pele branca demais, os olhos fundos, cabelo bagunçado e a respiração falha. Ele parecia pior do que horrível.

Um filho da puta teimoso.

Neo tentou de novo e de novo levá-lo até o hospital ou a qualquer lugar onde pudessem encontrar um médico disposto a tirar aquela maldita bala de seu ombro, mas First gritou com ele e o mandou voltar para casa com uma voz muito mais forte do que era possível nessas condições. "Lá é o único lugar onde vamos encontrar quem pode cuidar disso."

Neo desconfiava que esse maldito tiro tinha levado o fio de sanidade que ainda restava em First. Foda. Ele não tinha como discutir, ele foi quem deixou a merda toda desandar. Khaotung o avisou sobre a mania insistente que First tinha de fazer coisas estúpidas, mas estava tudo bem, tudo sob controle, e Neo não tinha como adivinhar que First se colocaria na porra da frente de uma arma, assim, como quem não quer nada.

Neo apertou o volante até o nó dos dedos ficarem brancos, uma lufada de ar saiu por entre seus lábios e, antes que desistisse, saiu do carro e se preparou para o pior.

Quando eles entraram na casa, First tinha apenas parte de sua consciência. Ele sabia que tinha alguma coisa errada o bastante para ser carregado por um dos homens de Khaotung, mas ter seu corpo parcialmente entorpecido e sua mente tão enevoada, não o estava ajudando a reunir as informações e descobrir qual era sua real situação.

Tudo aconteceu como um borrão. A cabeça de First doía com os gritos exasperados que Khaotung soltava.

"Finalmente, porra!"

"Por que vocês pararam de mandar notícias?"

"Sabe como eu estava preocupado?"

E então ele pareceu ter notado como First nos braços de Neo. Um silêncio ensurdecedor durou cerca de trinta segundos antes que se desesperasse ainda mais.

"Porra. Porra. PORRA!"

"QUE MERDA ACONTECEU?"

"Ah meu Deus, First!"

First teria rido se pudesse. Ele nunca admitiria isso em voz alta, mas Khaotung até parecia meio fofo desse jeito, tocando-o por toda parte, como se First estivesse em pedaços.

— Senhor, eu preciso levá-lo até o quarto. - A voz de Neo parecia estar muito longe, mesmo que First pudesse sentir seu peito reverberar por estar encostado contra ele.

— Como assim até o quarto? Nós temos que levá-lo ao hospital! - Khaotung tentou pegá-lo dos braços de Neo, First se sacudiu e gemeu dolorosamente com o esforço.

— Khaotung. - Ele pensou ter chamado, sua voz não tinha realmente soado.

— Ele se negou a ir, senhor.

— Então chame um médico, alguém de confiança que possa ficar em silêncio sobre isso. - Neo balançou a cabeça.

— Khaotung. - First tentou de novo, sua garganta arranhando, o esforço deixando-o mais fraco.

— Então o que eu faço, porra?

— Khao. - Khaotung congelou no lugar. — Você precisa fazer isso. - Os olhos de Khaotung o encararam, enormes e brilhantes.

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