Untitled Part 1

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O RIO DO DESTINO

Capítulo 1

-Feche os olhos e se concentre na minha mão, esqueça por um instante de tudo, esvazie a mente, tente não pensar em nada, agora existe apenas a minha mão. A mão espalmada do Doutor Cabral passava com movimentos horizontais para direita e para a esquerda, indo e vindo em frente ao rosto de Cícero. Os seus olhos vacilaram e se fecharam sonolentos, uma, duas vezes, logo surgiram em sua mente imagens que vinham e passavam. Imagens de uma floresta tranqüila com sons e vida palpitando, os pássaros cantando saltitantes, o sol brincando entre as folhagens, o riacho de águas tranqüilas e cristalinas refletindo os raios solares bailaram ante os seus olhos, depois aos poucos foram mudando de cor e o espelho das águas se tornou vermelho e agitado. Um rio de sangue correu transformado e os respingos vermelhos das águas revoltas se chocaram contra o seu rosto. Ele despertou agitado e assustado, correu ansioso para a janela e a abriu, colocou a cabeça para fora e respirou várias vezes apressadamente como se estivesse a sufocar, depois de alguns minutos, mais calmo voltou e se dirigiu ao médico.

-Desculpe-me Doutor Cabral, acho que isso não dará certo, já são quatro sessões e sempre acontece a mesma coisa.

-Calma Cícero é assim mesmo, precisamos ter paciência e persistência para vencer esse bloqueio. Uma hora você atravessará essa barreira e verá o outro lado do que aconteceu, o motivo que faz você ver essas imagens em sonho. Por favor, não desista ainda, o caminho é longo, mas sei que teremos sucesso. Vamos fazer o seguinte, daremos um espaço maior para a próxima sessão, assim você relaxa e ganha uma folga maior.

-Está bem Doutor, quando volto?

-Daqui a um mês, dia quinze de maio.

-Está bem então Doutor.

Cícero saiu do bairro de Botafogo e foi para o seu escritório no centro do Rio de Janeiro, estacionou no subsolo do prédio onde trabalhava e subiu a pé as escadas, queria ordenar os pensamentos. Estava tenso e quando se sentia assim precisava andar, correr, se movimentar. Resolveu andar, seguiu pela Rua São José, atravessou o Largo da Carioca e pegou a Uruguaiana, caminhava rápido entre os transeuntes. O dia estava fresco e se sentiu melhor, mas quando voltava esbarrou numa moça, o material que ela carregava caiu e ele se abaixou para recolher as pastas e os papéis espalhados - Mas que desatenção, estou atrasada tenho uma audiência agora e você ainda aumenta meu atraso.

-Você é advogada?

-O que você acha? Não pareço uma?

-Desculpe-me gostaria de reparar isso, deixe-me chamar um táxi. Dito isso ele nem esperou pela aceitação da moça, chamou o táxi que parou, ela entrou ele tirou uma nota e deu ao motorista – Por favor, a leve onde ela indicar, com urgência, mas sem riscos. Quando ele ia perguntar a ela o seu nome, já era tarde, o táxi partiu. O perfume e a imagem dela ficaram ainda em seus sentidos e assim voltou para o escritório e esqueceu pelo menos momentaneamente dos seus problemas.  Ao chegar bebeu um copo de água e chamou a secretária.

-Andréa chame, por favor, o Aldo, preciso conversar com ele sobre o andamento dos negócios.

Aldo entrou e se sentou à mesa de reunião.

-Trouxe os processos Aldo?

-Sim os mais urgentes, os demais podemos tratar depois.

-Quantos são?

-Quatro, mas o mais premente é o do senhor Gerson Andrades.

-Sei, então vamos a ele. A audiência é daqui a três dias, você já preparou a defesa prévia?

-Sim, me deixe explicar qual a minha visão de defesa.

Quatro horas depois, encerrada a reunião, Aldo perguntou.

O Rio do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora