Kauane Mesquita.
Sexta é dia de estrago mas antes de beber e arrastar com a gurizada sempre tem um dia de trabalho puxado. Hoje não foi diferente, tive que levantar 6h da matina pra trampar. Queria que vida de traficante fosse boa que nem falam por aí, por aqui o plantão é quase 24/7.
Minha cabeça tava latejando de tanto ver número, papo reto. Tava vendo tudo embaralhado e não tava conseguindo fechar nada da contabilidade. Resolvi dar uma pausa, larguei os papéis que eu segurava na mesa e alcancei o radinho pra falar com algum dos moleques.
- Qual foi Vitinho, busca um remédio pra dor de cabeça na farmácia, deixa na conta. - falei sem enrolação encostando minhas costas na minha cadeira.
- Pode cre, deixo aí jajá. - ouvi a resposta e soltei um riso nasal. Os moleque novo querendo mostrar serviço rende muito.
Respirei fundo fechando meu olhos e massageando minhas têmporas. Suspirei quando meu celular vibrou indicando uma ligação e eu vi o nome "Ingrid" exibido na tela.
Porra.
Sem disposição nenhuma pra essa mina. Ignorei a ligação colocando a tela do celular pra baixo, em alguns segundos ele parou de vibrar. Logo depois escutei mais 5 notificações. Preferi olhar antes que ela brotasse aqui pra encher minha cabeça.
"Por que vc tá me ignorando, cara?"
"Quero conversar com vc"
"Quando puder vem pra cá"
"Quero me resolver contigo, amor"
"Mais tarde vou pra casa da minha mãe"Se antes de decidir namorar eu pudesse prever toda a encheção de saco que eu ia passar, teria esquecido essa merda de relacionamento ou pelos menos pensado bem antes de pedir a Ingrid em namoro. Bagulho é uma maravilha nos primeiros meses mas depois só traz dor de cabeça e problema.
Eu nunca consegui ficar com alguém por muito tempo 'tá ligado? Desde que eu descobri que era lésbica eu fiquei com muitas meninas, muitas mesmo papo reto, mas nunca por mais de alguns meses e nunca namorei com nenhuma delas. Ingrid foi a única exceção até hoje.
Ela é amiga da minha prima Manuely, conheci ela numa resenha, vi que a mina era gatinha e papo vai papo vem, a gente ficou. Depois disso ela foi se aproximando mais de todo mundo aqui no morro, dos meus primos, dos meus irmãos. Acabou que a gente ficava sempre que ela vinha, isso durou uns 3 meses.
O negócio era que eu tava cansada de cachorrada, eu vivia em festa desde que me entendo por gente e me envolvendo com pessoas provavelmente desde os 14, com 24 era impossível não ter cansado né? Eu não sei o que me deu, mas eu resolvi pedir ela em namoro e aquietar, o resultado é que tô me fudendo até agora por isso.
Eu me amarrava nela, não vou mentir, ela é gente boa pra caralho e muito parceira, mas depois de 8 meses acho que comecei a perceber o famoso "desinteresse" que falam. Feião da minha parte dizer isso, mas eu meio que enjoei, ta ligado? Não tenho mais tanta vontade de ficar com ela, nem sexo, nem curtir, nada.
"Não tô com tempo hoje"
"Quando voltar da sua mãe a gente conversa"Respondi silenciando minhas notificações logo depois.
Olhei no relógio vendo que recém marcavam 16h. Levantei indo em direção a porta pra logo depois sair da boca, tava cheia de fome e maior vontade de comer uma coxinha na padaria, encontrei Vitinho no caminho e o moleque já estava com a sacola do remédio na mão, peguei e agradeci continuando a descer a ladeira.
Enquanto descia ouvi no radinho a voz do meu tio Marcelo, Rasta pros menos chegado.
"Brenin, Kau e Kaká desce aqui na 17, tem um bagulho sério pra resolver"
Respirei fundo ao ouvir o meu nome ser chamado e guiei pro beco da 17, demorou uns 5 minutos andando até lá. Assim que entrei no barraco, vi um aglomerado de cabeça, já saquei que o bagulho era sério mesmo.
Meu tio deu dois tapinhas nas minhas costas quando me viu, olhei ao redor, meus primos já estavam aqui, meu pai e mais uns de fé, não eram família mas eram de confiança, além de todos esses, um cara estranho, lembrava meu pai, devia ter uns 40 anos, negrão e sério.
- Que que ta pegando? - perguntei cruzando os braços encarando meu tio e meu pai.
- Esse aqui é o Sorriso, meu irmão. - meu pai falou na lata e eu o olhei com a sobrancelha levantada.
Desde quando meu pai tem mais um irmão?
- Iiih qual foi? Do nada isso? - Breno foi o primeiro a dizer algo depois da declaração, esse moleque não sabia segurar a língua dentro da boca.
- A história toda é uma novela, mas nós tem um pepino maior pra resolver agora. - foi a vez do meu tio Marcelo dizer olhando entre todos nós - Dá o papo aí, Dimas.
- O Dadinho tá atrás da família dele. - apontou pro tal Sorriso que era meu tio pelo visto - Os cara do Alemão peneirou o carro do negão hoje de manhã, sorte que esse bicho tava sozinho e conseguiu sair - meu pai Mario, vulgo Dimas, explicou - Mas o negócio é o seguinte, a filha do Sorriso tá no shopping essas hora, nós tá achando que eles vão tentar pegar ela, pra possivelmente fazer uma troca depois.
- Isso aí é quebra de acordo, se a facção pega é cobrança na certa. Qual que é o problema de verdade? Abre o jogo. - falei já prevendo que tinha algo mais.
- O Capão tem uma dívida com o Paraíso, história antiga mas é papo de 1 barão na ideia deles. Parece que resolveram cobrar. - meu tio explicou sem enrolação.
Ponderei, com a nova informação, se nós supostamente mantínhamos uma dívida não paga há anos - o que parecia ser - então eles podiam cobrar como quisessem. No crime era assim.
- Independente de qualquer coisa, homem que é homem não coloca mulher e criança no meio de cobrança. - Sorriso finalmente abriu a boca, o cara tinha uma voz firme.
- Se eles tão atrás da família, é porque tão dispostos a ir longe. - um dos caras falou.
Kaká assobiou entre dentes, trocando um olhar rápido comigo e Breno. Parece que o bagulho era sério mesmo.
- Então, qual vai ser o desenrolo dessa história toda? - Kaká perguntou, olhando pro tio Marcelo em busca de orientação.
- Primeiro, a gente tira a Yolanda de lá. Depois, resolve o resto. - meu pai falou com firmeza, deduzi que o nome da filha do cara era esse. Em seguida, bateu no ombro do seu mais "novo" irmão - É o sangue pelo sangue sempre. - ele disse e Sorriso acenou com a cabeça em concordância.
- Beleza é isso, eu, Kauane, Kaká e Sorriso vamo pegar a menina... - Marcelo falou, olhando para cada um de nós passando as ordens. Juntou mais um grupo que iria em um carro atrás do nosso para ajudar caso alguma coisa saísse dos trilhos.
A ideia era simples e podia ser executada rapidamente. Ir até o shopping, pegar a garota tranquilamente sem causar alarde ou comoção entre outras pessoas e depois trazer pro morro onde nós teríamos total controle da situação, afinal aqui eles estariam protegidos de quem fosse, Dadinho não invadiria o Capão, só se estivesse muito louco.
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𝖼𝗈𝗅𝗈𝗆𝖻𝗂𝖺𝗇𝖺
Romance𝘤𝘰𝘯𝘩𝘦𝘤𝘪 𝘶𝘮𝘢 𝘤𝘰𝘭𝘰𝘮𝘣𝘪𝘢𝘯𝘢 𝘶𝘮𝘢 𝘵𝘢𝘭 𝘥𝘦 𝘮𝘢𝘳𝘪𝘢 𝘫𝘶𝘢𝘯𝘢 𝘮𝘰𝘳𝘦𝘯𝘢 𝘥𝘢𝘴 𝘪𝘥𝘦𝘪𝘢 𝘣𝘢𝘤𝘢𝘯𝘢 𝘯𝘢 𝘧𝘳𝘰𝘯𝘵𝘦𝘪𝘳𝘢 𝘦́ 𝘦𝘭𝘢 𝘲𝘶𝘦 𝘮𝘢𝘯𝘥𝘢. - 𝗰𝗼𝗹𝗼𝗺𝗯𝗶𝗮𝗻𝗮, 𝗆𝖼 𝗌𝗎𝗋𝗒𝖺