o feedback da oneshot foi maior que eu esperava ou já tive em qualquer outra fic (suas safadas), então resolvi dar uma colher de chá pra vocês e escrevi uma continuação que ficou ainda maior que a oneshot original
espero que gostem :)
a música dessa é wildflower, do beach house
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Era só manhã de segunda-feira e Soraya Thronicke já não aguentava mais participar de reuniões. O resultado do segundo turno tinha saído no dia anterior, mas ela nem sequer pisou em Campo Grande. Não iria votar, mesmo. Ficou em Brasília, e reuniu-se com a Executiva do seu partido para decidir os rumos que tomariam a partir dali, com a eleição de Lula. À noite, conseguiu falar com Simone apenas brevemente, ela estava em comemorações com a família – bem, pelo menos com a parte da família que estava torcendo por aquele resultado.
Soraya... bem, ela não tinha tomado um lado naquela eleição, pelo menos não publicamente. No seu íntimo, torcia para que Lula vencesse. Não por uma questão de vaidade e histórico com a família Bolsonaro. Não. Ela queria ver Simone feliz.
Sabia como ela tinha lutado pela eleição de Lula, tudo que abdicou e a resposta negativa que recebeu do seu eleitorado sulmatogrossense. Admirava aquilo na outra mulher. Admirava porque era algo que ela mesma não tinha coragem de fazer.
Suspirou, segurando sua bolsa que parecia pesar uma tonelada, e entrou no seu gabinete. Pousou tudo no sofá mesmo e sentou à enorme mesa, ligando o computador. Demoraram bons vinte minutos até ela notar que uma das gavetas ao seu lado estava meio aberta.
Estranhou, e sua expressão de estranhamento foi rapidamente para uma de surpresa e depois uma de incredulidade quando viu o que tinha ali. Uma calcinha, de tecido verde escuro, com detalhes discretos em renda, que reconheceria de olhos fechados como sendo de Simone. Pelo tato, ou pelo cheiro.
Não era essa calcinha que ela estava usando naquele dia, foi o que Soraya pensou, imediatamente, mas afastou o pensamento, levantando da cadeira, indo até sua bolsa e tirando alguns papéis que não iria necessitar. Pelo menos não para o que estava determinada a fazer naquele momento.
Substituiu os papéis pela calcinha verde, colocando-a dentro de um reco bem no fundo, não podia correr o risco dela escapulir ou de algum desavisado encontrá-la ali.
Atravessou o Senado a passos largos, com cara de poucos amigos, para que ninguém lhe abordasse e quisesse conversar. Não queria perder mais nem um segundo.
Fez menção de bater na porta do gabinete, mas Simone foi mais rápida: abriu-a, acompanhando o Senador Kajuru para fora do recinto.
– Olá, Soraya...
– Simone...
– Oi, Senadora, querida! Como estamos? – perguntou um Kajuru obviamente alheio à eletricidade da troca de olhares que ocorreu brevemente ali.
– Tudo bem, Kajuru. Estavam em reunião?
– Sim, estava acompanhando o Senador até a porta – Simone falou, meio tímida – Posso lhe ajudar, Senadora?
– Tenho assuntos... importantes a tratar, Senadora Simone, se puder me conceder alguns minutos do seu tempo.
– Sim, claro – Simone sinalizou com uma mão para a outra mulher entrar – Pode entrar.
– Combinado, então, Simone, você me avisa quando tiver a resposta.
– Claro, Senador. Agora, se me der a licença.
Simone entrou de volta ao gabinete, onde Soraya já estava, de pé, no meio do cômodo, segurando a calcinha verde com um dedo para cima.
– E se alguém entrasse no gabinete, Simone? Você deixou a gaveta aberta – Simone sorriu, sabia que a outra mulher não estava tão brava quanto queria parecer.