capítulo V 🍂

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14 de outubro.

Sábado - 20:19

Roseanne.

𝐄u ainda não consigo acreditar. Não consigo acreditar que perdi alguém tão importante.

É estranho como um dia você tem uma pessoa contigo em todos os momentos e depois...a perde como se nada tivesse acontecido.

Eu ainda amo Jennie, e sempre vou amar. Independente de tudo.

Foi ela que me tirou das ruínas, devo tudo a ela. Mas...ela me trouxe às ruínas novamente. Uma sensação familiar que eu odeio.

É como se eu estivesse me afogando em um poço sem fundo e eu tento de todas as formas emergir e ser resgatada, mas quanto mais eu tento, menos eu consigo.

Por que tudo na minha vida tem que dar errado?

Por que nada dá certo para mim? Por que eu nunca sou suficiente? Por que as pessoas sempre me deixam mesmo eu tentando meu máximo para que elas fiquem?

Ainda sinto as lágrimas quentes rolarem pelo meu rosto, que já está grudento de tantos riachos que já chorei em pouco mais de uma hora.

Ainda estou no chão da sala sentada. Mas é como se num piscar de olhos eu saísse daqui e fosse para o poço sem fundo.

A sensação de não conseguir me livrar daquilo estava me causando náuseas. Eu sinto minhas pernas tremerem em um ritmo que me deixava mais ansiosa ainda.

Mas eu preciso dar um jeito nisso. Preciso...arrumar uma solução.

Talvez eu posso mudar a mente de Jennie.

É isso!

Eu vou mudar o pensamento de Jennie.

Me levanto cambaleando um pouco e subo as escadas.

Entro no banheiro e observo meu estado deplorável no espelho. Cabelos embaraçados, oleosos e ressecados ao mesmo tempo. Uma bagunça.

O rosto inchado e vermelho com alguns fios grudados.

Oh céus, estou terrível.

Prendo os cabelos em um coque improvisado e lavo o rosto com a água fria. Lavar o rosto com água gelada, de alguma forma me fazia sentir viva, como se minha energia fosse revitalizada e as impurezas fossem junto com a água pelo ralo da pia.

Sequei o rosto com papel higiênico porque não achei a droga da toalha. Meu rosto estava menos inchado e com sua coloração normal. Eu finalmente não estava parecendo um pimentão estragado.

Me forcei a passar um gloss nos lábios e uma máscara de cílios que achei no fundo da gaveta. Não tinha marca, não tinha data de validade e nem nada. Não sabia nem que aquele treco existia.

Fui até o quarto e voltei para o banheiro com uma escova de cabelos.

Me olhando no espelho comecei a pentear o mesmo e desfazer todos aqueles nós. Meu Deus, havia muitos nós para desfazer.

Cada vez que eu passava a escova nos fios eu sentia alguns caírem no chão.
E minha tese foi confirmada assim que terminei, quando olhei para o chão e achei matéria-prima para fazer uma peruca nova.

Recolhi os fios do chão e joguei no lixo.

Encarei novamente meu reflexo no espelho.

"Vamos Rosé, você consegue!" - Disse ao meu próprio reflexo.

Desci as escadas correndo e a cada degrau pensei se pular direto para o chão seria uma ideia ruim. Deveria ser, então continuei apenas correndo e pulei o último degrau.

Passei pela lavanderia e achei meu all star branco imundo. Já estava cinza, coitado. Mas foi o primeiro que vi na frente.

Coloquei o calçado e analisei minha roupa: uma camiseta branca lisa e uma calça de moletom cinza clara. Tá ótimo. Ah tá que eu vou trocar de roupa para ir até lá.

Não que eu não me preocupe com isso, era preguiça mesmo.

Peguei as chaves e sai de casa antes que mudasse de ideia.

A noite estava escura e a lua cheia surgia tímida entre algumas poucas nuvens. A brisa fresca bagunçava meus cabelos e fazia meus braços se arrepiarem.

"Merda! Eu deveria ter trazido uma jaqueta" - Penso.

Ando um pouco mais rápido a fim de não sentir tanto frio. É em vão.

Observo as árvores sem folhas das ruas balançando pelo vento que parece tão leve a elas, mas tão forte para mim.

De certa forma isso me lembrava eu e Jennie. Eu era eu mesma, Jennie as árvores e o vento, o término.

Ok, talvez eu esteja com muito sono e não estou pensando direito.

Paro em frente à casa de tijolos brancos e porta laranja, de número 105.

Era engraçado pensar que Jennie morava na casa 105, porque no alfabeto a 10° letra era J e a 5° era E, e isso formava as duas primeiras letras de seu nome.

Beleza, eu realmente preciso dormir. Mas não antes de ir falar com Jennie.

Pulo o pequeno cercadinho com dificuldade e ando pelo caminho de ladrilhos brancos em cima do jardim bem aparado.

Subo os dois pequenos degraus em frente a porta e com uma dose de adrenalina que atingiu minhas veias, toquei a campainha.

Esperei alguns segundos até ouvir sons de andar cansado, como se estivesse usando chinelo e caminhando com sono.

A porta se abre fazendo com que meu estômago revire.

A imagem de Jennie então aparece. Ela está bem diferente.

Está com cabelos ruivos, lisos e na altura dos seios. Antes, ela tinha cabelos castanhos ondulados que batiam na cintura.

Usava uma regata de cetim branca e uma calça de moletom rosa clara.

A mesma estava com os olhos concentrados no celular, nem ao mesmo levantou o olhar e parecia entretida com o que quer que fosse que ela estivesse fazendo.

Então levantou os olhos e seus olhos se arregalaram ao me ver. A porta foi fechada, mas antes que se fechasse por completo, a segurei com minha mão.

A porta então foi aberta novamente.

ー Rosé, saia por favor - Jennie segurava a porta como se fosse fechá-la a qualquer instante.

ー Você não me expulsaria de casa depois de tudo, não é? - Eu engolia as lágrimas que escorriam escuras devido à máscara de cílios barata. Merda! Eu comecei a chorar de novo.

ー Quer mesmo saber? - Jennie pressionava a maçaneta da porta, sentindo o metal frio na ponta dos dedos.

Rosé assentiu e então a porta foi fechada na cara da loira, que pôs-se a chorar novamente.

Rosé perdeu total controle do que estava fazendo e chorou alto como uma criança com fome.

Rapidamente Jennie apareceu na janela de seu quarto no segundo andar.

ー Pare de chorar Roseanne e vá embora. Quero dormir - Jennie gritava para que Rosé pudesse ouvir melhor.

ー Jennie? Por favor, nós podemos consertar isso, eu posso mudar - Roseanne se levantou dos degraus onde havia sentado e agora estava em frente à janela de Jennie.

ー Vai embora Roseanne, agora - Jennie usou o dedo indicador para demonstrar para onde ela deveria ir - Vá para sua casa.

ー Jennie, por favor, eu... - As lágrimas consumiam a loira novamente.

Jennie saiu da janela por um instante e surgiu com um celular na mão.

ー Eu vou ligar para a polícia se você continuar - A voz da Kim soava cansada, mas ainda falava alto demais.

ー Tudo bem...eu vou embora - Roseanne balançou a cabeça - Seja feliz.

Disse por último e mostrou o dedo do meio, arrancando uma risada sarcástica de Jennie, que fechou a janela e logo as luzes de toda a casa se apagaram.

we broke up || chaennie >Onde histórias criam vida. Descubra agora