"Cicatrizes fazem quem nós somos,
Corações e lares estão quebrados..."— Outlaws of love
Com dificuldade tento me erguer até onde eu guardava um kit para primeiros socorros. Meu braço estava muito dolorido por conta da força que fui arrastado até aqui, mas ainda sim consegui cuidar das minhas feridas. Sabia o básico para poder me virar sozinho por causa dos livros que já li. Com isso pude amenizar um pouco a situação.
Fico todo o dia trancado em meu quarto, quando a noite chega começo a sentir fome, mas é certo que não vou jantar. Minha mãe até poderia me trazer algo, mas duvido, meu pai não iria permitir.
Minha cama fica bem perto da janela, abro as cortinas pretas podendo admirar o luar, as estrelas... Cada uma delas, cada constelação, ainda nevava e deixava a vista linda, logo se embaçando. Algumas lágrimas caem sem que eu perceba, por mais que eu não queira chorar, isso se torna inevitável. O que eu esperava exatamente? Que meus pais, logo eles, me aceitassem? Não, isso sim seria sonho, mas em meio a tanta tristeza, no fundo do meu peito sinto libertação. Um sorriso fraco escapa dos meus lábios, eu finalmente enfrentei meu pai e isso foi o primeiro passo. Adormeço deixando o ar frio escapar pela pequena fresta da minha janela.
(...)
Na manhã seguinte me sinto aparentemente melhor, troco os curativos e então vejo a minha mãe entrando no quarto com uma bandeja de café da manhã. Ela logo a deixa sobre minha cômoda e se aproxima de mim em um misto de compaixão, tristeza e vergonha, tudo bem visível em seus olhos repressores.
—Meu filho, volte atrás. Diga à seu pai que tudo não passou de um devaneio seu.—me levanto da cama com certa dificuldade e mancando um pouco.
—Eu diria se fosse verdade, mas não é.- agora seu rosto era de espanto.— Chega de mentiras agora, mãe. Tudo que eu disse é verdade e talvez tenha sido a única vez que fui verdadeiramente sincero em tantos anos.
—Jimin, como você pôde? Você é um homem, se comporte como um. Eu não o criei assim. Deveria dar orgulho a seu pai e não tanto desgosto.
—Eu sou homem, mãe. Um homem que gosta de balé, dançar... E que gosta do mesmo sexo.— ela me deu um tapa na cara, não teria doído se não fosse pelos machucados que eu já tinha.— Me batem por que acham que isso muda algo? Eu nasci assim por mais desgosto que possam sentir.
—Eu n-não quis...- ela começou a chorar.- Não seja como esses pecadores, meu filho. Você não. Será castigado por isso. Seu pai e eu te ensinamos os mandamentos de Deus, como pôde...?
—Amar é um pecado? Dançar é minha paixão... Eu gosto de garotos. Isso não é errado, mãe. A senhora e o papai são preconceituosos, isso sim é pecado. Quando seu ódio é maior que o amor pelo próprio filho. Acha que Deus perdoará você por rezar seu terço todo dia, mas renegar seu filho e ser conivente com a ira de meu. Porque excluem os pecados de vocês?! Não tem o direito de me julgar.
—A gente só quer o que é melhor para você, Jimin. Veja que isso que faz está errado e implore o perdão de seu pai e de Deus.
—O melhor pra mim não é me casar com uma mulher e viver num trabalho que eu não amo. Isso é o melhor para vocês.- ela suspirou e pausou, no fundo sabia que eu estava certo. — A senhora vive infeliz mesmo seguindo o que é "certo"...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Outlaws of love
FanfictionEm 1972, os desafios de um jovem que teve que encarar o preconceito e rejeição do pai, após o mesmo descobrir os segredos do filho. Park Jimin, foi mandado a força para um internato militar, porém lá conhecerá Jeon Jungkook, seu colega de quarto. Ji...