2. A neve que caiu aquele dia

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Sou acordado por um vento gélido em meu rosto, havia deixado a janela aberta durante a noite. Quando vou fecha-la, me deparo com a visão da cidade toda encoberta pela neve e por mais que estivéssemos no inverno, era a primeira vez que via tal cena. Estico meu braço para tocar um floco de neve que logo derrete ao encontro do calor da minha mão. Dou um leve sorriso, estava nevando... Dançar balé na neve, com certeza eu queria fazer isso, mas obviamente ficaria apenas em minha imaginação.

Quando desci a sala, estranhamente meu pai estava com seu uniforme. Era domingo e ele nunca trabalhava aos domingos. Sempre íamos a igreja pela manhã. Mudanças de rotina na minha família era algo para se intrigar. Já é a segunda vez que me surpreendo hoje, tinha algo estranho, diferente dos demais dias.

-Querido, você vai trabalhar nos finais de semana?- minha mãe perguntou colocando o café dele.

-A fábrica irá pagar um extra para os operários que forem aos fins de semana. Será bom ter essa renda agora que Namjoon não está mais aqui para ajudar nas finanças.

- O senhor insistiu para que ele fosse para o exército.- disse num tom baixo, mas meu pai tinha uma ótima audição e não deixaria meu comentário passar em branco.

- Homens de verdade servem ao seu país! Pelo menos um de meus filhos pode honrar nossa família.- fiquei cabisbaixo. Sempre tentei de tudo para ele ter orgulho de mim, mas nunca conseguia.

- Já que o senhor irá ao trabalho, posso ir a biblioteca?- ele assentiu, uma reação rápida demais.- O senhor...- antes que eu pudesse completar minha pergunta a campainha tocou.

-Quem será essa hora da manhã? Que falta de respeito! - ele bufava enquanto mamãe foi atender e logo voltava com as correspondências em mãos.

-O carteiro entregou uma carta, deve ser do nosso Namjoon.- seus olhos encheram de lágrimas.

Meu irmão mais velho, Namjoon, foi para o exército no começo do mês e ainda não tínhamos recebido carta alguma, o que deixava minha mãe apreensiva. Eu sentia muita falta dele, o único que sempre esteve ao meu lado e que conversou comigo de verdade nessa família. Ainda assim, não pude contar a verdade para meu irmão, por mais que fosse meu melhor amigo, tinha medo que pensasse como meu pai e não aguentaria ver o Namjoon olhando para mim com repúdio.

- Pode ler, Jimin?- ela me entregou a carta porque não havia aprendido a ler e eu li enquanto os dois ouviam atentos. Ele dizia que estava bem e que a guerra no Vietnã estava perto de seu fim. Que logo estaria de volta.

- Com certeza, meu filho trará a glória para nosso país.- afirmou com brilho nos olhos.

- Que Deus acompanhe nosso filho, querido. Temo tanto por ele no meio de tanta violência, com essa carta fico mais tranquila. Graças a Deus, minhas orações estão sendo atendidas.

- O hyung é forte, mamãe. Ele com certeza irá voltar para nossa família.- tento lhe acalmar.

- Certamente, meu filho não é um fraco e muito menos covarde. Tenho orgulho ter tido um filho como ele.- suas palavras novamente me fizeram me sentir mal.

Meu pai sempre quis que eu fosse como meu irmão. Forte, imponente e autoritário, mas desde criança ele percebeu que eu era diferente, mais delicado e frágil. Claro que ele não usa esses termos, mas sim "estudioso". Meu pai percebeu que eu não era bom em esportes, nem em luta ou nada do tipo, então se conformou apenas por eu ter notas perfeitas no colégio, mas um filho inteligente nunca será motivo de orgulho para ele.

-Eu já vou. Até mais tarde.- fiz referência aos dois e saí de casa.


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