1. Máscaras

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▪ Chapter 1; Máscaras

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Chapter 1; Máscaras

Lembro-me que aos doze anos percebi que gostava de garotos quando comecei a me sentir atraído por James Dean, no filme Juventude Transviada, o qual assisti escondido de meus pais na casa de um amigo. Eu e Eun woo éramos inseparáveis, mesmo eu sendo de uma família simples comparada a dele. Apesar de muito jovem ter reconhecido meu interesse por garotos, nunca o vi com segundas intenções. Até que um dia, aos quinze anos nos beijamos, incrivelmente por iniciativa dele. Nunca havia percebido que Eun era gay, talvez estivesse tão preocupado em esconder quem eu era, que também não poderia reconhecer as pessoas ao meu redor. Depois daquele beijo, não éramos apenas amigos. Após um ano perdi a virgindade com ele, a sensação foi como se estivesse alcançado o paraíso, o amava muito e não me importaria de fugir para viver esse amor. Era como se eu estivesse vivendo um sonho, mas logo tornou–se um pesadelo.

Descobri que tudo aquilo foi uma mentira. Por mais que me desse beijos às escondidas, não demorou muito para que arrumasse uma noiva. Tentei pensar que era algo que o mesmo não pudesse decidir, mas no fundo ele nunca assumiria um relacionamento gay e me dei conta quando me propôs ser seu "amante", que nossa relação não precisava acabar por conta de seu matrimônio. Aquela desilusão quebrou meu coração em mil pedaços, o odiei bastante pelo que tinha feito comigo. Por ter sido covarde, mas não poderia julgá–lo.

Que outra opção temos a não ser vivermos entre as sombras? Sabia que ele não seria feliz em seu casamento e isso por si só já era triste demais. Mesmo o condenando pelas mentiras, vivo imerso nelas. Nunca tive coragem para dizer aos meus pais sobre minha orientação sexual. Todos os dias havia notícias de homens mortos por se deitarem com outros homens. O ódio e o preconceito estava em todos os cantos. Meu medo era maior, mesmo eu detestando viver fingindo. Não tinha outra opção a não ser mentir.

— Hoje não vai ao clube de luta, Jimin?— meu pai me perguntou com um tom ríspido. Parecia que minha presença sempre o incomodava.

— O professor está adoecido, pai.— ele assentiu.— Vou ajudar a mamãe a por a mesa.

— Isto é trabalho das mulheres, que eu saiba eu não tive filhas. Então apenas deixe–a fazer suas obrigações.

Minha mãe apenas me olhou e continuou a colocar o jantar. Ela quase nunca falava quando meu pai estava em casa e eu também não. Tinha que fazer suas vontades e ir ao clube de luta era uma delas. Sempre fui péssimo em esportes comparado com os outros garotos, não tinha músculos e era pequeno, mas meu pai disse que todo homem que se preze tem que ser bom em algum esporte e me colocou no clube de luta contra minha vontade. A única coisa que aprendi lá foi como ser um saco de pancada, mas no andar de cima havia aulas de balé o que me iluminou.

Descobri minha paixão pela dança muito antes da minha própria sexualidade. Quando tinha oito anos e a professora de artes levou toda a turma para ver "Lago dos cisnes". Meus olhos brilhavam á cada passo que a bailarina dava. Fiquei tão encantado que decorei cada movimento e os repeti sozinho no meu quarto. Quando eu ia para o clube de luta, sempre matava aula para ver as bailarinas. A professora notou minha presença e um dia me pediu para participar. Após isso, eu saí do box e comecei a fazer balé. Faço tudo às escondidas, vivo sob uma máscara, coberto de farsas. Me sinto preso, sufocado. Apenas queria seguir meu sonho, viver sendo eu mesmo sem medo do julgamento e da perseguição.

Hoje já tenho dezessete anos e ainda não tive a coragem de me assumir. O único que sabe é Eun Woo, a quem não vejo a certo tempo. Apesar da mágoa que deixou, era com ele que eu me sentia mais a vontade, sem as amarras da sociedade homofóbica e dos valores conservadores.

Odeio vivermos numa maldita realidade que nos reprime, que vê homossexuais como doença, criminosos foras da lei. Por acaso é crime amar e se sentir atraído pelo mesmo sexo? ... Para meu pai e o resto da Coreia? Sim.

Estamos no ano de 1972 e ainda somos vistos como aberrações da natureza. As igrejas pregam que somos pecadores. Todos estão contra a homossexualidade. Segundo as leis somos errados e obscenos. Me pergunto se algum dia essa realidade irá mudar... Talvez não nessa época, mas algum dia seremos livres para sermos quem somos e amar que quisermos?. Suspiro triste com estes pensamentos. Observando meu pai sei que isso nunca irá acontecer.

Fomos a mesa e agradecemos pela comida. Meu pai me olhava com repreensão, eu nunca fui como meu irmão mais velho e ele nunca teve orgulho de mim. Minha mãe sempre mostrava um semblante triste, sabia que eles não se amavam, por isso acho que ela nunca conseguiu ser uma mãe muito carinhosa a e temia que um dia tivesse que terminar assim como eles, em um casamento infeliz.

Logo após o jantar, meu pai foi para sala assistir tv. Minha mãe veio logo após arrumar a cozinha.

" Dois garotos são espancados até a morte depois de serem vistos se beijando frente á um restaurante..." — dizia o noticiário na televisão.

— Meu Deus, o mundo está tão violento. Espero que descansem em paz.- minha mãe dizia com um terço na mão. 

—Esses dois depravados vão arder no inferno, isso sim.- ele dizia calmamente sentado em sua poltrona bebendo de seu café.

—Não acha que foi cruel demais matar os dois? O que eles estavam fazendo de mal? O assassino é quem deveria ser condenado.— tentei responder.

—Foi mais do que merecido. Me dá nojo só de imaginar tal coisa... repugnante. E você Jimin não defenda esses imundos. Sei que tem a alma boa, mas aberrações como eles não merecem pena.

—Querido, não fale assim. Esses jovens são pecadores, mas merecem nossa piedade.

—Não vamos mais falar desse assunto. Já está me embrulhando o estômago. Este tipo de discussão está proibida nesta casa. Não quero sujar nosso lar com este tipo de falatório.

—Eu vou para o meu quarto. Boa noite, pai.— disse fazendo referência para ele. Não conseguia mais ouvir uma só palavra.

—Tão cedo, Jimin?— minha mãe perguntou.

— Estou com dor de cabeça. Boa noite, mãe.— dei um beijo na bochecha dela e subi para meu quarto. Meu pai apenas ignorou e voltou sua atenção ao noticiário.

....

Aos fechar a porta do meu quarto, tirei meus óculos e me deitei tentando encontrar o sono, mas ele não vinha. Meu coração estava apertado e uma angústia tomava todo meu corpo, minhas lágrimas e choro foram abafadas pelo travesseiro.

E se um daqueles garotos mortos fosse eu? Meu pai ainda falaria essas crueldades?

Se eu pudesse escolher teria nascido hétero só para agradá-lo, mas eu não sou e não sei por quanto tempo mais conseguirei sustentar essa mentira. Cada dia está mais difícil continuar assim.

Semana passada meu pai me perguntou se eu tinha alguma namorada e eu apenas disse que estou focado nos estudos. Sendo que nunca ao menos beijei uma menina em minha vida, ele obviamente desconfiou.

Eu vivo com uma máscara que esconde não só minha essência, mas que me prende em meio a repressão e me aprisiona dentro de mim mesmo.

Eu tenho muitos segredos, muitas máscaras... E pressinto que a cada dia está mais perto de todas elas caírem por terra... Isso me dá muito medo, como se eu estivesse indo em direção a um precipício sem alguém que pudesse me salvar. Me sinto sozinho, com medo e sem forças para lutar contra o mundo.

Outlaws of loveOnde histórias criam vida. Descubra agora