Tá pegando fogo!

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Dia 11 de Primavera

Hoje não vou precisar ir ao trabalho, deve ter acontecido algum problema na Joja. Então, aproveitei para acompanhar Jas em suas aulas com Penny. A Penny é uma mulher jovem, mas parece tão dedicada. Todos têm um talento, qualidade ou algo do tipo, eu não pareço ter nada. Entro de mãos dadas na biblioteca com Jas, Penny e Vicent estão sentados na mesinha estudando. Penny percebe minha presença e se levanta para me cumprimentar.


- Olá Shane, você por aqui? - Penny aperta a minha mão e se abaixa para falar com a Jas - E você garotinha, fez aquela tarefa que eu passei? - Jas sempre parece feliz com ela, Penny realmente sabe lidar com as crianças.

- Ei, Shane. A gente pode conversar um minutinho? Crianças, fiquem aqui e façam a página dezenove do livro de Artes, por favor - Jas e Vicent acenaram e fizeram que sim com a cabeça.

Eu e Penny andamos um pouco até as estantes mais escondidas e nos sentamos. O que ela quer saber? A Penny sempre passa no rancho da Marnie ou fica passeando pela região próxima a ele para ler. Ás vezes ela me dá um "oi", porém não somos próximos. Gunther está lendo no balcão, ele parece ser um homem inteligente, mas todos o desconhecem.

- Shane, eu tenho que te perguntar uma coisa. Alguns acontecimentos tem chamado a minha atenção... A Jas sempre chega tristinha aqui, às vezes preocupada e aflita. Me preocupa o fato da família dela, como está em casa? Sei que você é como um pai para ela... Está tudo bem? Desculpa me intrometer... - Eu entendo a preocupação de Penny e que ela não saiba o que acontece. Eu me senti um lixo.

- Bem, é que... Os pais da Jas morreram sem causa anunciada. E ela só tinha a Marnie. Você sabe a teoria do apego? Que quando uma criança perde os pais, ela se apega a pessoa mais próxima? Eu sou como o pai de Jas, porém eu também sou como um fardo na vida dela, não consigo cuidar nem de mim mesmo, imagine de uma criança? Queria ser alguém melhor pra ela, eu nunca tive bem uma família quando criança... Não queria ser a pessoa que estraga tudo na vida dela. Eu estou tentando melhorar Penny, eu ju... - Não, não, não... Droga eu comecei a chorar. O que era para ser uma pergunta normal para os cuidadores de uma criança, pra mim se transforma em algo como um desabafo? Que vergonha, que vergonha...

- Calma, calma... Eu te entendo. É muito difícil. Eu não tenho uma boa relação com a minha mãe, é horrível. Parece que ela não liga para nada. Você é um bom rapaz, Shane, deu para perceber isso. A vida é complicada, mas não é tão ruim. Eu acredito em você - Aquelas palavras foram simples, mas me confortaram de uma forma especial. Vinha de alguém que me entendia. Eu a ajudei a se levantar e a agradeci, pedi desculpas por aquela cena vergonhosa. "Não precisa Shane", como sempre bondosa. Eu deixei Jas e fui andar um pouco.

Me sentei no banquinho na frente do Saloon e fiquei refletindo. O que eu posso fazer da minha vida para mudar...? Enquanto eu ia pensando tudo piorou. É problema atrás de problema, ao invés de encontrar um solução, eu piorei a minha cabeça.

Já estava entardecendo, então eu voltei para casa. Abri a porta e Marnie estava sentada.

- Seja bem-vindo novamente, Shane. Tudo bem? - Marnie estava calma.

- Acho que sim. Não sei - Respondi friamente e entrei no meu quarto. Eu não gosto de ser assim, mas eu sinto que quanto mais eu me afastar das pessoas que amo, vai ser melhor assim. Joguei videogame e via na janela o anoitecer. Saí de casa às oito horas da noite. Peguei meu isqueiro e uma lamparina e algumas bebidas, e fui andar um pouco, enquanto Jas e Marnie dormiam. Me sentei na plataforma de madeira no lago. Já ia acender ela, até que escuto passos. Quem será? Me viro e vejo a fazendeira, que surpresa!

- Até tarde, hein Farmer? - Disse enquanto ela se sentava ao meu lado.

- Não estou conseguindo dormir... Estou com um pouco de saudade de casa - Sua voz estava como alguém que tinha acabado de chorar, sua expressão triste e seus olhos prestes a desabar. Nunca tinha a visto assim, apenas alegre.

- Aqui, tome uma geladinha! - Ofereci, e ela aceitou. Ficamos parados por um tempo observando o lago brilhar na noite.

- Beh... A vida. Você já sentiu... Que tudo sempre dá errado, não importa o que você faça? Como se estivesse preso em um terrível abismo e estivesse tão fundo que não conseguisse nem ver a luz do dia? - A fazendeira acenou com a cabeça e se inclinou para me escutar - Eu me sinto assim, não importa o que eu faça... Não sou forte o suficiente para sair desse buraco - Farmer me escutou, não me julgou, apenas escutou.

- He, he... Gosta de tomar uma, em? - Eu e ela rimos - Só não faça disso um hábito... Você tem um futuro pela frente.- Bebemos outro gole.

- Você também tem um belo futuro Shane. Você consegue ser o seu melhor. Eu sei disso. Também me sentia assim às vezes, como se onde eu trabalhava eu era como nada, e sempre desvalorizada. Eu vim pra cá, e melhorei a minha vida. Use a vida ao seu favor, não tente chutar o lado ruim, o abrace e tente melhorar... AAAAAAH, TÁ PEGANDO FOGO! - Ioba santo, a plataforma estava pegando fogo há um tempo e nos não percebemos! Eu e Farmer pegamos água desesperadamente na tentativa de apagar o fogo, foi engraçado.

- Graças á Ioba isso apagou, espero não ter acordado ninguém. Você deve ter acendido errado, quando estava distraído haha! - Nós rimos igual criancinhas, pelo menos quebrou o clima pesado que pairava naquela conversa.

- Bem, meu fígado tá pedindo arrego... Vejo você por aí, Farmer - Nos levantamos e entrei em casa, ela foi subindo para a fazenda.

- Ei, Shane! - Me virei para escuta-lá - Tenta não tacar fogo nas coisas!

Eu corei, droga. Ainda bem que estava escuro. Entrei no meu quarto e me joguei na cama. Sabe, a vida pode não ser tão ruim.

Um Amor em Duas Estações - Shane x FarmerOnde histórias criam vida. Descubra agora