UM

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Que levar porrada na cabeça pode ocasionar inúmeros problemas, Antônio estava a par, mas a cegueira não era um que ele estava consciente que sofria.

Na verdade, até aquele momento, ele não sabia que estava no completo escuro.

Por todo esse tempo.

10 socos seguidos doeriam menos.

Quando fora convidado para o jantar especial para amigos e família organizado por Heitor, ele tivera um mau pressentimento. E mesmo pensando que aquilo seria possível de acontecer, continuava em negação.

Mas era verdade.

O brilho que reluzia fortemente, era a prova disso. 

E fez com que ele enxergasse claramente, pela primeira vez, que estava perdendo a luta de sua vida.

Uma das quais ele nem fazia ideia de que estava participando.

O coração introduzia batidas erráticas, denunciando o seu desconforto, e o seu rosto, totalmente sem reação, começava a chamar atenção dos mais próximos, afinal, ele é o melhor amigo.

O cara que sempre esteve ali e que deveria estar irradiando felicidade e não o estado miserável no qual se encontrava no momento.

Não existia Antônio sem Amandinha e vice-versa. 

Bem, até então.

— Tá tudo bem, sapato? — Fred, seu outro melhor amigo (o que completava o trio), perguntou, discretamente, ao seu lado, estranhando o comportamento do amigo.

Teve que fazer um esforço hercúleo para respondê-lo. O rosto tremendo, despontando em um sorriso meio forçado, que não enganava ninguém.

— Só estou... surpreso. Você sabe...

— É, eu sei. E sei bem mais do que isso também. Melhore esse sorriso e vá parabenizá-la — ele o encorajou, sorrindo e empurrando-o na direção dela, seguindo os passos do lutador logo atrás. 

O local bem iluminado destacava os dois no meio da pista de dança, ele estava no bar quando tudo aconteceu, assistindo a cena de longe e esquecendo da cerveja que acabara de pedir.

E sorriso dela conseguiu ser ainda mais radiante. Mais brilhante do que tudo.

A cabeça levemente inclinada para trás denunciava que estava vivendo o momento de sua vida.

Depois de toda a insegurança que atormentava a sua mente diariamente, finalmente estava tendo a resposta às suas dúvidas.

Entretanto, Antônio não conseguia comprar nada daquilo. Estava mais ferido do que poderia imaginar.

Como magnetismo, Amanda sabia exatamente quando ele estava por perto, tinha sido sempre assim. Então, sentindo a sua presença, ela virou com a mão direita estendida e o maior sorriso do mundo estampado no rosto.

O anel era lindo. Rico para o gosto do homem que estava logo atrás dela, mas espalhafatoso para os gostos simplórios de sua amiga, contudo, ela estava animada. Dava para ver em seus olhos toda a felicidade, então, ele deveria ficar também. Não poderia ser egoísta, mesmo com todos os pensamentos rondando a sua cabeça freneticamente.

— Tô noivaaaaa! — gritou com força e pulou no pescoço dele.

O cheiro floral invadiu suas narinas o deixando tonto por alguns segundos.

— Parabéns, Amandinha — a voz grave, um pouco esganiçada demais reverberou, e torceu para que seu tom estivesse convincente.

Ao se afastar, olhou bem no fundo dos olhos dela, as mãos espremendo ambos os lados de seu rosto, sem nem perceber os olhares atentos de alguns a sua volta, inclinou-se e beijou-lhe a testa. 

All This Time 🪢 docshoeOnde histórias criam vida. Descubra agora