Capítulo 3

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Corri para meu quarto, peguei minha mochila e coloquei tudo o que coube  dentro. Roupas, calcinhas, meus documentos, escova de dentes, pasta e meu ursinho. Em uma bolsinha menor, coloquei mais algumas coisinhas que eu não queria deixar para trás. Passando pela sala, notei a carteira de Pedro sobre a mesa. Lá havia uma boa quantia de dinheiro. Não pensei duas vezes. Peguei e sai. Eu respirei fundo e Comecei a andar sem parar para longe daquela casa. Andei, andei e andei mais um pouco. Eu estava exausta e já era tarde. Parei em um parquinho e lanchei um sanduíche de uma barraquinha próxima. Aquilo matou minha fome por hora. Mas onde eu poderia dormir?

A noite logo chegou. Com ela veio frio, fome e uma chuva forte. Eu não havia saído do parquinho, e me refugiei em um dos brinquedos que era uma casinha. Abracei meu ursinho e chorei. Chorei até dormir.

No dia seguinte, eu estava determinada a achar um lugar para ficar e um emprego. Eu não podia ficar na rua. Eu tive sorte. Eu podia ser assaltada ou coisa pior. Mendiguei de loja em loja. Até em super mercados e mercadinhos. Foi então que encontrei um mercadinho em um bairro próximo ao parque. O lugar tinha muitos produtos. Havia apenas um único caixa. Avistei um senhoriznho, de aparência simpática enquanto limpava seu óculos redondo.

-O-oi.. Bom dia.. -Falei me aproximando.

-Ah.. Olá bom dia. -Ele pôs o óculos e tentou enxergar. -Deseja alguma coisa?

-Xim.. Digo, sim.. Eu.. Eu estou em busca de um emplego.. -Respondi.

-Desculpa, mocinha. Não precisamos de ajuda. -Ele voltou a limpar os óculos.

-Por favor.. Eu naum tenho pla onde ir..

-Quantos anos você tem, menina? -Ele me examinou.

-16..

-16? E onde estão seus pais? Você não devia estar aqui perambulando na rua. Eu vou ligar para a policía.

-Naum! -Segurei em sua mão antes que ele alcançasse o telefone. -Naum.. Eu naum posso.. Não quero voltar pla casa.. Por favor.. Eu faço tudo o que o senhor pedi.. Qualquer coisa.. Eu só pleciso de um emprego e um lugar para passar a noite.. -Eu comecei a chorar e apertava ainda mais sua mão. Ele me olhou confuso.

-Está bem. Está bem. Talvez eu precise mesmo de uma ajudante. -Ele disse tocando na minha mão. -Agora pare de chorar, vamos.

-Snif snif.. Obligado vovô.. -Funguei sorrindo.

-Vovô.. Rum.. Venha comigo.. -Ele me guiou para o deposito. Havia uma porta bem atrás das prateleiras. Ele pegou um mólho de chaves de dentro do bolso e começou a procurar uma em especifico para abrir a porta. Por um momento, um medo me subiu. " E se.. Ele me trancar aqui? Se for fazer alguma maldade comigo? Eu devo fugir.. Foi uma péssima idéia.. ".

-Eu.. -Quando abri a boca para dizer algo, alguma desculpa, ele abriu a porta. O senhor colocou a mão nas minhas costas e me empurrou. Eu não via além dele, porque congelei de medo. Ele continuou empurrando até que eu passei pela porta. Havia um jardim ali. Tinha tantas plantas, flores e um chafariz. Também havia alguém cuidando de todas aquelas plantas. Uma senhorinha estava molhando as plantinhas com seu regador vermelho.

-Marta. -O senhorzinho chamou.

-Sim.. -Ela se virou, sorridente e logo me notou. -Quem é essa garota?

-Ela precisa de um lugar para ficar. E vai nos ajudar aqui. -Ele disse, ainda com a mão nas minhas costas.

-Meu Deus Zé.. E se ela for filha de alguém do condomínio? E se alguém reconhecer ela e chamar a policía para nos prender? -Ela veio até nós. -Qual seu nome?

-Me-Melody.. Eu tenho 16 anos..

-Fugiu de casa foi?

-Xim.. Sim.. Eu precisava..

-Está com fome? Eu tenho um bolo sobre a mesa.

-Estou.. -Respondi.

-Então vamos. -Marta saiu na frente. Aquele jardim, ficava nos fundos do mercadinho, e no fundo da casa deles. Olhei para o senhorzinho.

-Vá. Eu preciso voltar para a balcão. -Ele tocou no meu ombro e apontou para a direção de sua casa, com a cabeça.

-Não vem comigo.. Vovô? -Perguntei.

-Haha.. -Ele riu. -Não posso. Agora vá. Não deixe a Marta esperando. -Ele se abaixou. -Ela vira uma fera. -Ele riu e eu ri junto. Depois ele saiu, e eu fui para dentro. Quando entrei, notei que era a cozinha da casa. Era pequena e tinha uma lareira acesa.

-Entre entre. -Marta segurou no meu ombro. -Eu vou contar uma fatia de bolo pra você. -Eu me sentei na cadeira, colocando minhas bolsas no chão. -Gosta de suco?

-Sim... Sim senhora. -Respondi.

-Por que você fugiu de casa? -Ela perguntou enquanto me servia. Demorei um pouco para começar a falar tudo que me ocorreu até chegar ali. Meu nariz escorria e eu falava de boca cheia. Marta chegou a rir algumas vezes, por conta disso. -Você foi muito forte, querida. E sua mãe foi muito horrível com você. Que bom qud está aqui. -Terminei o lanche e Marta me esperava para me mostrar o resto da casa e onde eu dormiria dali em diante. Apesar de ser pequena, tinha um quarto no andar de baixo, a sala, um banheiro e a cozinha. Subindo para o segundo andar, havia outro banheiro e dois quartos. -Esse é o meu quarto, e esse.. -Ela abriu a porta do segundo quarto e me deixou entrar. -É o seu. -O quarto era completamente rosa. Haviam brinquedos e uma cama fofinha.

-De quem era.. -Eu não consegui terminar a pergunta.

-Era da minha filha.. Ela morreu quando tinha 7 anos.. -Me virei e vi Marta chorando. -Não se preocupe. Eu limpo todo dia..

-Marta.. Não chole.. Por favor.. -Eu a abracei.

-Estou bem querida.. Não se preocupe comigo. Tem algumas roupas na comoda.. Não sei se cabem em você, porque elas são pequenas mas, você pode tirá-las se quiser.

-Não não.. São da sua filha. -Falei.

-Ela não está mais aqui e tenho certeza que não se importaria. -Ela sorriu para me acalmar. -Pelo contrário, ela ficaria feliz em ter uma amiguinha.. Bem, tem toalhas limpas no guarda-roupa e o banheiro fica lá em baixo. Eu vou terminar de cuidar das minhas plantinhas. -Ela saiu me deixando sozinha. Me sentei na cama e era quentinha e macia. A vista da janela era ótima. Que lugar incrível e aconchegante.. Procurei uma toalha no guarda-roupa e coloquei sobre a cômoda. Comecei a arrumar as coisas para me acomodar. Deixei meu ursinho sobre a cama e guardei as roupas nas gavetas quase vazias. Eu não queria tirar as roupas da filha da Marta de lá.. Eu não tinha o direito mesmo ela dizendo que posso. Enfim, acabei e fui tomar um banho. Peguei a toalha e desci. Ouvi Marta cantando no jardim e sorri para mim mesma. Entrei no banheiro e vi uma banheira.

-Uau.. Nunca tinha visto uma banheira de verdade.. -Tirei minha roupa e fiquei esperando encher. Derramei um sabonete líquido na água, mexi e entrei. -Ahhh.. -Dei alguns mergulhos para molhar meu cabelo. Então a porta se abriu de repente.

-Desculpe querida.. -Marta apareceu. -É que.. Você se importa se eu te der banho?

-Me dar.. Banho? -Perguntei meio confusa. Deve ter algo haver com a perda da filha, pensei. -Pode sim.

-Obrigada.. -Seus olhos estavam marejados. Ela se sentou em um banquinho atrás de mim e começou a lavar meu cabelo. Seu toque era cuidadoso e gentil. -Você me lembra muito ela.. Ficava quietinha também.

-Eu sinto muito..

-Não sinta. Já faz tanto tempo.. Eu a amava tanto que não consigo superar. E ver você, tão inocente e amável, me lembra ela demais.. -Eu não sabia o que dizer.

-Hum.. Se isso te deixa feliz, pode me banhar sempre. -Ouvi ela ri de leve.

-Obrigada, querida. Virei te banhar sempre que puder..

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