Alfa (kiaz)

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Os raios alaranjados do sol da manhã começaram a adentrar a janela aberta, tirando Miguel do sono leve em que havia caído. Ter conseguido dormir sem desmaiar de exaustão já havia sido um milagre, possível apenas com a presença de Robby para ajudá-lo a relaxar. Geralmente, o moreno passava a maior parte do tempo em claro durante seus cios, muito agitado para conseguir dormir. Ele abriu os olhos e constatou que Robby ainda dormia abaixo dele, e fez o possível para se espreguiçar sem acordar o mais baixo. Ele sabia que devia se envergonhar por querer colo e ser tão manhoso, mas não podia se importar menos. Pensou que talvez Robby tivesse razão e o que ele realmente precisava era se libertar e parar de se preocupar com a opinião dos outros, mas não estava em condições de refletir muito sobre nada. Queria sair da cama e gastar a energia acumulada, mas também não queria deixar o lobo cinzento ali sozinho. Estavam vivendo um momento único e Miguel queria aproveitar cada segundo. Se aninhou mais ao outro alfa, sentindo o pêlo sedoso que o cobria. Robby era mesmo lindo em qualquer forma, Miguel pensou.

Robby se mexeu ligeiramente em seu sono e seu focinho se encaixou instintivamente no pescoço do garoto latino, como se ele fosse um ímã. Robby inspirou o cheiro já familiar e percebeu um leve toque de tensão e preocupação. Isso o fez perder o sono, pronto para proteger e cuidar de Miguel. Ele ainda achava engraçado o quanto a biologia parecia distorcida no caso dos dois. Era para estarem se destruindo numa briga num momento daqueles, considerando o quão territoriais alfas ficam durante o cio. Mas não, os dois eram realmente escolhidos e Robby acordou e olhou para Miguel, o que o fez relaxar instantaneamente. Os dois encostaram suas cabeças uma na outra em um tipo de carícia bastante primitiva, mas que dizia tudo. Haviam passado tempo juntos como lobos e o sentimento que os acompanhava como humanos ainda estava lá. Era real. Valia a pena lutar por aquilo, nas palavras de Miguel.

Depois de um tempo acordados e curtindo a preguiça juntos, Robby sentiu a  inquietação de Miguel e ouviu um rosnado baixinho, uma clara reclamação. Ele se desvencilhou do lobo negro que ainda estava acomodado sobre ele como se o menor fosse um travesseiro, e Miguel soltou um grunhido lamurioso. Robby saiu debaixo dele e depois levantou da cama, procurando por espaço livre para se transformar de volta. Miguel o olhava, transfixado e levemente apreensivo.

— Tá tudo bem, Miggy — Robby disse, de volta a sua forma humana. Reparou alguns segundos depois que estava sem roupa alguma e que provavelmente esse era um dos motivos do olhar vidrado do outro. Procurou a cueca e a vestiu, tentando manter certos limites — você pode ficar assim, sem problemas. Eu só quero arrumar algumas coisas e cuidar de você, então assim é mais fácil. Mas você não precisa se preocupar com nada, ok? — Robby disse de forma atenciosa, e Miguel confirmou que havia entendido com um aceno de cabeça.

— Se eu soubesse que você ia ficar tão quietinho assim, ia querer que você se transformasse mais — Robby brincou, fazendo Miguel rosnar indignado — brincadeira, lindo. Você sabe que amo sua voz. Tá com fome? Vou fazer algo pra gente comer, quer vir comigo?

Miguel foi. Ainda estava morrendo de calor, desconfortável e com vontade de pular no outro alfa, mas era muito mais fácil passar o cio assim, recebendo cuidados. Muita gente acha que ômegas são frágeis e precisam de carinho e alfas só querem sexo, mas não é bem assim. A conexão humana é importante para as duas castas, especialmente durante o cio. Robby sabia disso e passou o resto do dia inteiro com Miguel, até sentirem que a pior parte havia passado. Ele ainda dormiria na casa de Rosa por precaução, mas de manhã estaria 100%.

— Se eu não for pra casa, meu pai vai surtar. Eu vou pra lá e depois que eles dormirem, eu venho dormir com você, tá? — ele disse, já prevendo o olhar magoado que Miguel daria quando ele dissesse que ia embora.

Miguel acenou, conformado e com o olhar dengoso que Robby havia previsto. Depois que Robby tomou banho, ele seguiu o mais baixo até a porta novamente e ficou lá esperando, como uma chantagem emocional irresistível. Robby riu de leve e prometeu que voltaria.