Part 7 - Sem saída (Reescrito)

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Scarlet

O dia começou quase sombrio. Acordei sentindo o peso da noite passada sobre mim. Não havia mais volta, eu assinaria aquele maldito contrato de casamento. Depois de ontem, me enclausurei no meu quarto, pedi à cozinheira que trouxesse o jantar e adormeci cedo. Minha porta permaneceu fechada desde então, eu não queria ver ninguém. As milhares de chamadas perdidas e mensagens no meu celular deixavam isso claro.

Tommy veio até a minha porta algumas vezes, mas desistiu quando eu não cedi. Pete tentou apenas duas vezes. Harry me ligou cinco vezes e mandou mensagens pedindo para conversar, mas ignorei todas. Jeremiah enviou chocolates através dos funcionários, junto com um cartão fofo pedindo que eu o procurasse. Justin não deu nenhum sinal de vida. Senti um nervosismo ao procurar seu nome entre as notificações, mas afastei os sentimentos para longe. Procurei por algum sinal de Zack, mas também não havia nada. Pensei em mandar uma mensagem, mas talvez ele precisasse de tempo para pensar e resolver suas próprias questões.

Era inacreditável a frieza do meu pai diante dessa situação, especialmente depois de anos insistindo que eu me casasse com a pessoa certa. Perdi as contas de quantas vezes ele insinuou que eu me casaria com um dos garotos e eu adorava pensar nessa ideia. Quando eu tinha 6 anos tinha certeza que seria Harry, que aos seus 8, me tratava como uma princesa. Aos 7, queria que fosse Justin, já que ele sempre me defendia das brincadeiras dos outros garotos. A partir dos 14, meus hormônios começaram a mudar violentamente, e com isso meus desejos variavam a cada dia. Mas no final, era sempre o Justin.

Desde criança, Justin conquistou não só a mim, como ao meu pai também. Era claro como ele queria que meus irmãos fossem igual a Justin, com sua personalidade extremamente articulada e inteligente, era como se meu pai se visse anos mais jovem. Tommy, apesar de ser igualmente capaz, tinha uma personalidade dura e totalmente inabalável. Justin, por outro lado, sabia ser maleável com meu pai, manipulando a situação para conseguir o espaço que desejava. Por essa admiração, Charles o incentivava a "cuidar" de mim, assim sempre estaríamos próximos.

— Scarlet, sou eu. — Ouvi a voz de Tommy atrás da porta e eu encarei a estrutura de madeira em silêncio. — Estamos indo para a Ramsey, quer uma carona?

Olhei para o relógio que já marcava 7 horas da manhã. Soltei um suspiro e me deitei novamente na cama, já vestindo meu terno preto. Encarei o teto em silêncio, sentindo a presença do meu irmão do outro lado da porta, como uma sombra. Sabia que meu silêncio e afastamento eram uma tortura para ele e para Peter, mas eu simplesmente não conseguia falar agora.

Meu coração batia pesado no peito, cada batida ecoando como um tambor em minha cabeça. A ausência de palavras entre nós criava um vazio doloroso. Era como se eu sentisse a sua angústia e a necessidade desesperada de quebrar o silêncio atravessarem a porta, mas eu me recusava a ceder. A cada segundo que passava, a pressão aumentava. A quietude da casa era um contraste brutal com o turbilhão de pensamentos que invadiam minha mente. Queria fugir, gritar, mas tudo que consegui fazer foi encarar o teto, imóvel. Meu irmão sabia que eu estava ali, tão perto e ao mesmo tempo tão distante, e isso o destruía tanto quanto a mim.

— Quero que você saiba que estou ao seu lado, não importa o que decida. Sempre vou te proteger.

Eu sabia disso. Tommy seria o primeiro a pular na frente de uma bala por mim, mas proteção não era o que eu buscava agora. Não adiantava. Se eles realmente soubessem me proteger, eu nunca estaria nessa situação. A verdade era que estávamos todos perdidos, e isso doía mais do que qualquer coisa.

— Ok então. Nos vemos lá. — Ouvi os passos pesados dele se distanciarem da porta.

Levantei da cama pegando a minha bolsa e conferindo se tudo o que eu precisava para o dia estaria ali dentro. Olhei discretamente pela janela por trás da cortina branca quase transparente e vi apenas o carro de Tommy parado. Isso significava que eles foram até lá com um dos motoristas. Eu estava em paz, não havia ninguém atrás de mim. Mas eles precisavam entender que agora tudo seria diferente, toda essa situação me mudou de uma forma irreversível. Apenas estar ao meu lado não bastaria mais. Eu queria uma guerra contra o meu pai, e essa batalha me consumia.

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