Mestre-cuca

367 63 113
                                    

As coisas não começaram nada bem. Nem um dia se passou e Midoriya já estava cogitando chutar o balde e mandar aquele evento aos ares — usando seu shoot style, de preferência.

A lista que tinha em mãos era a personificação do termo "absurdo", isso para não dizer "loucura". Eles achavam o quê? Que Izuku era um tipo de mestre-cuca?

Fechou a conversa com Ojiro e guardou o celular. Havia acabado de adicionar o "pedido" dele à lista e desconfiava que o cara não tinha um pingo de bom senso; não quando pediu um montante de tempuras com três recheios diferentes. E isso era apenas a ponta do iceberg. Estressado, desceu os olhos pela lista. Hagakure pediu sushi; Sero, uma porção de guioza; Chojie, hot roll; e até mesmo Monoma Neito veio com um missoshiru — e ainda teve a audácia de acrescentar que queria comê-lo quente.

Aquilo não era um caldo? Como diabos botaria um líquido numa cesta? Teria ignorado a mensagem dele, mas o dedo esbarrou sem querer e não pôde fugir após visualizar. Maldita tecnologia...

Não sabia por onde começar. O evento seria dali a dois dias, e ele se segurava na esperança de que os "interessados" já tivessem escolhido outros donos de cestas, porque, até poucas horas, não havia exibido sinais de que faria uma. Ledo engano. Pelo jeito, aquele povo decidiu esperar até o último segundo para vê-lo dar o sinal verde e, assim, atacar.

As mensagens não paravam. A princípio ficou confuso quando dezenas de números desconhecidos surgiram pedindo uma variação imensa de comida. Estava a um passo de bloqueá-los, mas Ochaco veio em seu socorro. A explicação dela foi pragmática: pelo que consta na tradição do evento, se uma pessoa apresenta interesse em comprar a cesta de alguém, ela tem o direito de "pedir" uma comidinha especial para que o parceiro cozinhe.

Antigamente, era comum os pedidos serem mandados por meio de cartinhas; agora, era tudo pelo celular — um péssimo mecanismo, romanticamente falando. Quer dizer, uma mensagem de texto passava uma sensação tão vazia quanto o conteúdo atual da cesta de Izuku.

Falando em cesta, escolheu-a naquele mesmo dia, no clube de artesanato. Ochaco lhe guardou a do "coelhinho", como disse que faria, porém Izuku frustrou-a ao optar pela mais simples que achou. Se tivesse sorte, a aparência discreta de sua cesta despistaria o reconhecimento alheio quando chegasse o momento. Até agora não a mostrou para ninguém, manteve-a trancadinha no quarto e queria que continuasse assim.

— Midoriya.

Levou um susto nada bonito. Virou-se e assistiu à estatura alta e esbelta de Todoroki Shoto cruzar o corredor, vindo em sua direção. Desconfiou que ele tivesse acabado de sair do banho, cabelos úmidos, vermelho mais escuro que o normal e branco mais... branco? Não, cinza. Todoroki usava roupas comuns. Devia ter passado a manhã treinando.

— Ah, Shoto-kun — cumprimentou-o, tirando discretamente a lista das vistas dele. Um reflexo? Talvez. — Como vai?

— Bem — Shoto respondeu, inexpressivo como sempre, todavia Izuku detectou algo a mais nos olhos dele.

— Hum... que bom — disse, esperando por algo... que não veio. Ergueu uma sobrancelha. — Posso ajudar?

— Eu estava pensando numa coisa.

Izuku, a despeito da leve confusão e da pressa, esboçou um sorriso agradável.

— É mesmo?

— É.

Revirou os olhos — internamente, é claro. Se pelo menos Todoroki fizesse um esforço...

— Ah, sim... e o que seria essa coisa? — encorajou-o.

Cesta Premiada | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora