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 Mais um dia em que eu estou estudando no meu notebook, sentando na poltrona da minha varanda e magicamente sinto um cheiro nada agradável vindo do apartamento vizinho. O maldito fumante do 129 tem horário marcado para acender um, e sua hora preferida é possivelmente a mesma que eu escolhi para estudar para Meteorologia Dinâmica quando estou livre em casa, uma matéria extremamente complicada da minha faculdade de Ciências Atmosféricas.

 Como infelizmente não possuo ventilador (causos de um ar-condicionado), tenho que estudar perto de janelas nesse tempo quente porque, apesar de ter ar instalado, não sou rico para mantê-lo 24 horas por dia ligado. Peguei um post-it anotando: "juntar dinheiro para comprar um ventilador no próximo mês", e andei até minha geladeira para o fixar ali. 

Quando já estava começando a aceitar que teria de estudar com aquele cheiro, o pior me aconteceu:

O ser humano, não se contentando com a maravilhosa lombra que lhe era consagrada, decide então expressar sua felicidade e liberdade em forma de ruídos que mais pareciam canções do inferno, ou melhor, algum bregafunk do Blackpink. 

Em qualquer outro dia, meu corpo automaticamente estaria se virando para as chaves do meu carro e me levando para a biblioteca da faculdade, afinal, não há lugar melhor para se estudar. Mas eu simplesmente não posso aceitar isso, meu estudo depende do meu orgulho intacto hoje.

E com isso em mente, eu resolvo fazer a segunda coisa que me vem à mente.

Caminho sem pensar muito até a porta do meu apartamento e saio por ela. Quando percebo já estou na frente da porta dele, agora infelizmente não tem como voltar atrás. 

Tomo coragem e bato na porta, porém o volume estava tão alto que tenho certeza que não ouviu, então bato com força dessa vez e de quebra ainda grito:

- QUE CHEIRÃO DE MACONHA É ESSE??

Escuto a música abaixar. Bingo.

O vizinho então decide abrir a porta, me olhando pálido e, como de praxe, com seus olhos vermelhos.

- Moço com todo respeito, que porra é essa?

- O cheiro está indo todo para o meu apartamento!

- Chefia, alguém te disse que é proibido um às 10:00 da manhã? Só fumo esse horário porque a maioria dos vizinhos estão trabalhando. Tu podia ter me falado sem gritar, colega.

Como ele ainda tem a coragem de usar esse dialeto comigo? Por Deus.

- Seguinte... A polícia vai amar saber o que tá acontecendo aqui, colega. - Parece funcionar, pois o vizinho arregala os olhos e diz articulando as mãos negativamente:

- Não, não... Olha, tá bom. O que você quer?

- Que pare, que mude de horário ou que simplesmente não fume enquanto eu estou em casa estudando.

- E eu tenho cara de vidente, amigo? Não sei que horas 'cê tá estudando. - Eu bufo em descontentamento.

Eu vou matar esse cara e entregar a erva dele para policia se continuar assim.

- Tá certo. Aqui, me dá seu celular. - Eu estendo a mão.

- Vai me roubar agora?

Eu o olho com cara de quem estava perdendo a paciência e ele entende o recado, liga o celular e me entrega já na lista de chamadas.

- Quando estiver com dúvidas se fuma ou não, me pergunte se vai incomodar meus estudos.

- Você é bem abusado sabia?

- Prefere que eu lhe diga todas as vezes que estiver estudando em casa, que não é pra fumar?

E assim ele finalmente se calou, fiz uma reverência respeitosa e saí andando em direção ao meu apartamento.

Acho que finalmente meus dias de sossego chegaram.

O vizinho que puxava um beck no apartamento ao lado; MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora