Capítulo 2

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Assim que a aula acabou, recolhi minhas coisas e tentei sair da sala o mais rápido possível para fugir daquele homem, que apesar de lindo estava querendo me matar.
- Ei! - Droga. É o Eros.
- É comigo? - Falei enquanto me virava em meus calcanhares.
- Bom, eu não tô vendo mais ninguém tentando sair correndo da sala, então sim, é com você. - Ele falou enquanto se aproximava e eu tive que me controlar para não me encolher, ele devia beirar os 1,90 e eu aqui com 1,67.
- Fala. - Respondi e tentei fazer cara de paisagem.
- Eros, muito prazer. - Ele falou estendendo a mão e abrindo um sorriso perfeitamente alinhado.
Fiquei o encarando por alguns instantes, Eros, apesar do nome bizarro para um carioca, nitidamente tinha cara de brasileiro com os olhos mel esverdeados, a pele bem morena, os lábios cheios, o cabelo castanho escuro num corte militar, as sobrancelhas grossas e retas, o maxilar marcado e um nariz reto. Ali estava a amostra grátis da diversidade do meu país parada na minha frente, com um sorriso congelado no rosto, duas covinhas à mostra nas bochechas, vestido inteiramente de preto, com algumas tatuagens à mostra e um corpo que claramente é impossível ter sem academia ou uma genética daquelas, olhando para a minha cara esperando que eu o cumprimentasse e eu estou me recusando à isso.
- É sério? - Me pronunciei depois de alguns segundos constrangedores em silêncio.
- O que? - Ele pergunta confuso e abaixando a mão estendida.
- Você me insulta e depois vem se apresentar? Qual o teu problema? Caso você não saiba badboy energy só é legal em livros, na vida real é uma merda. - Falei indignada e ele gargalhou.
- Beleza, pelo visto é ratinha de biblioteca e analisando melhor...você é da Letras né? - Ele falou com um sorriso de canto e eu apenas ergui a sobrancelha e saí andando.
- Olha, não é educado deixar o coleguinha falando sozinho. - Ele falou vindo atrás de mim.
- E não é educado criar um pré-conceito sobre alguém que você nem conhece, não fode! - Falei revirando os olhos e ainda andando. Eros parou alguns segundos surpreso, mas depois continuou me acompanhando.
- Todos nós criamos pré-conceitos sobre tudo, Clara. É natural do ser humano. - Ele falou me olhando como se eu fosse ingênua e eu gargalhei.
- Você é da Filosofia, Eros? - Eu perguntei com um sorrisinho de canto e parando de andar para olhar para ele.
- Ficou tão óbvio? - Ele retrucou cruzando os braços e aproximando-se um pouco.
- Aff, padrão né? Só usa preto, rebelde, tatuado, uma inteligência que é meio difícil de entender e provavelmente fuma, acertei? - Falei cruzando os braços e inclinando a cabeça para o lado.
- E novamente você confirma a minha teoria de que todos nós criamos pré-conceitos sobre tudo. Mas sim, você acertou ruivinha.
- Ruivinha? Tá... - Falei semicerrando os olhos e saí andando até o CALET, que ficava naquele mesmo andar. Dessa vez ele não me seguiu.

Entrei no CALET e dei de cara com uma quantidade absurda de gente do meu curso ali, mas a Letícia ainda não estava ali, apenas o Pedro.
- E aí, branquinha? - Pedro falou abrindo um sorriso relaxado.
Pedro combinava com sua energia, tinha a pele bronzeada de sol, olhos cor de mel, cabelos pretos bagunçados, um bigode arrumado, magro porém definido, com mais de 20 tatuagens espalhadas pelo corpo, um piercing na sobrancelha e um estilo meio desleixado composto por havaianas branca, bermuda jeans e uma camisa de banda/time/floral. Era uma pessoa naturalmente da paz e legal de se conviver.
- Fala Pê. - Disse me sentando ao seu lado no sofá do CALET.
- Como foi a aula de mitologia grega? - Ele perguntou passando o braço por trás dos meus ombros no sofá.
- Um caos. - Falei suspirando e apoiando a cabeça no encosto do sofá em um gesto dramático.
-Alguém viu a Clara? - Letícia pergunta abrindo a porta do CALET do nada e todos olham para ela com cara de interrogação.
- Meu Deus, a ruiva de franjinha, peituda e tatuada do curso. - Ela fala e todos apontam para mim.
- É sério que eu sou conhecida desse jeito aqui na faculdade? - Perguntei incrédula olhando para Pedro.
- É, e não é mentira né? - Ele fala rindo.
- Clara, que história é essa que você tá tendo aula com o Eros? - Ela pergunta afobada se sentando no braço do sofá ao meu lado e me encarando com os olhos azuis arregalados através do óculos, claramente esperando por mais informações.
Letícia era linda, sem tirar nem pôr, usava óculos, tinha belos olhos azuis, era branca e tinha sardas nas bochechas rosadas e no nariz, tinha o cabelo naturalmente loiro e bem cacheado e volumoso na altura da cintura, era magra e tinha uma paixão por tênis vans e blusão, algo que com certeza exalava a bi energy dela.
- Ele tá na eletiva de mitologia grega que eu peguei. - Falei revirando os olhos.
- Hum...conta mais, Clarinha. - Letícia disse apoiando cotovelo no joelho e o rosto na mão em sinal de interesse.
- Um porre, aquele cara é um pé no saco e ainda disse que tenho cara de filhinha de papai! - Falei com ódio e Pedro e Letícia caíram na gargalhada.
- O que? - Perguntei confusa.
- Mas você tem um pouco de cara de mimadinha, branquinha. - Pedro falou me olhando com um sorrisinho de canto.
- Ah cala a boca! - Falei já puta da vida com a situação.
- Ai amiga, desconsidera. Eros é macho, um gato, mas ainda assim macho e macho não tem filtro. - Letícia fala revirando os olhos.
- Tô com fome, vamos comprar alguma coisa? - Falei com Let e Pedro que assentiram.

Saímos do CALET e descemos cinco andares de escada em direção à cantina da atlética para comprar alguma coisa.
- Ruivinha! - Ah não, até aqui? Entreolhei meus amigos.
- A gente te vê depois, branquinha. - Pedro disse com um sorriso sapeca no rosto e me dando um beijo na bochecha, ele se afastou com a Letícia.
- Seus filhos da mãe, voltem aqui! - Falei alto o bastante para eles ouvirem e virando na direção que eles seguiram.
- Bela tatuagem. - Eros falou e senti um toque leve um pouco acima do meu cotovelo, onde ficava a tatuagem escrita "Ataraxia".
- Cala a boca! - Falei me direcionando pra ele e olhando em sua direção.
- Uiuiui, tá bravinha bebê? - Eros pergunta com um sorriso de canto no rosto.
- Cara, só...para de encher a paciência e eu não te dei intimidade pra apelidinhos! - Falei revirando os olhos.

A vida REAL de uma UniversitáriaOnde histórias criam vida. Descubra agora