além de apenas uma amizade

1.7K 237 132
                                    

____________________________________
Capítulo 02

[No dia anterior, fim de tarde]


Quando deu por si, o sol estava quase escondendo. Tsireya estava sentada entre algumas palmeiras mais afastadas da praia, observando seu irmão limpar redes de pesca na beirada do mar. Havia seguido Ao'nung durante a maior parte do dia, desde que encerrara aquela conversa que tivera com seus pais, mais cedo. 

Tsireya já havia perdido a conta da quantidade de lugares em que havia se escondido; a longa lista ia desde troncos de árvores até corais submersos, incluindo uma pilha de folhas secas caídas no chão, galhos de árvores, e até telhados de algumas casas e cabanas. Estava exausta. Nem de longe seguir seu irmão sem ser vista era um trabalho fácil. Em vários momentos ao longo daquele dia, a jovem questionara se aquilo era realmente melhor do que ter de fazer suas tarefas na ilha (e, na maior parte do tempo, desejou estar trabalhando ao invés de ter recebido aquela "dispensa" por parte de seu pai). 

Ao'nung estava sozinho naquele momento, não precisava de muita ajuda para limpar redes de pesca. Felizmente, eram nesses momentos que Tsireya conseguia se sentar no chão e ter um pequeno descanso. Até porque, se Ao'nung estava sozinho, não haveria como descobrir informação nenhuma. 

Ao longo do dia, Tsireya havia visto seu irmão interagir com outros na'vi, incluindo algumas garotas, mas era visível que Ao'nung, nem de longe, estava interessado nelas. As conversas eram sempre curtas, com pouco ou nenhum toque físico e sem nenhuma evidência de interesse, nem mesmo um sorriso por parte de seu irmão. 

Tsireya tinha a impressão que Ao'nung respondia àquelas garotas apenas para não ser taxado de "mal-educado"; era nítido que ele não estava interessado por nenhuma das na'vi que havia conversado naquele dia.

A garota estava prestes a desistir daquela maldita espionagem, voltar 'pra casa e dizer para seus pais que seu irmão não estava interessado em ninguém naquela ilha...

Entretanto, antes que pudesse revirar os olhos, suspirar e ir embora de seu esconderijo, sua atenção foi capturada quando ouviu alguém mais ao longe chamar o nome de seu irmão com uma boa dose de entusiasmo. Tratou de ficar escondida mais alguns minutos e observar o que aconteceria a seguir. 

Observou atentamente a forma como as orelhas de seu irmão se ergueram ao escutar aquela voz. Ele virou o rosto de imediato na direção de onde o som viera e abriu um sorriso de bom tamanho, deixando a rede de pesca totalmente de lado. Tsireya se atentou àquilo... Quando Ao'nung falara com outros na'vi mais cedo, nunca deixara de lado suas atividades, mas pareceu esquecer da rede completamente naquele instante. A Metkayina franziu as sobrancelhas e seguiu observando. 

Ao'nung se levantou e deu uma pequena corrida na mesma direção em que o som viera, ainda com aquele sorriso estampado no rosto. Tsireya se viu mais curiosa do que nunca... Será que seu dia de espionagem havia finalmente valido a pena? O que a garota não esperava era que o na'vi que tinha gritado por seu irmão, o na'vi que fizera com que Ao'nung deixasse as tarefas de lado e saísse correndo com um sorriso no rosto fosse, ninguém mais, ninguém menos, que Neteyam. 

Tsireya cobriu a boca com as mãos, tendo de se lembrar de fazer silêncio e não ser percebida por nenhum dos dois. Mesmo em silêncio, a garota não disfarçou sua surpresa. Neteyam Sully... De todos os na'vi que haviam naquela ilha, Ao'nung havia se apaixonado justamente por ele?! Aquilo poderia ser possível? Talvez ela tivesse interpretado mal os sinais, talvez fosse apenas uma pequena confusão... 

Mas sua dúvida parecia desaparecer a cada instante. Viu, ao vivo e a cores, seu irmão abraçar Neteyam pela cintura e levantá-lo do chão durante alguns instantes, se atrevendo a dar uma pequena voltinha com ele em seus braços. E, ao julgar pela felicidade no rosto dele e pelo sorriso no rosto de Neteyam (que segurava os ombros do esverdeado a fim de garantir que não iria cair), era óbvio que havia algo ali além de apenas uma amizade. 

Quando Ao'nung finalmente deixou que os pés de Neteyam voltassem a tocar o chão, Tsireya não deixou passar despercebido o fato de as mãos de seu irmão continuarem segurando a cintura do Sully... Sem falar que Neteyam também seguia segurando os ombros do esverdeado e que os dois estavam bastante próximos. Notou também que olhavam um nos olhos do outro enquanto conversavam, sem nunca deixar aqueles sorrisos sumirem por completo. 

Após uma pequena troca de palavras, Ao'nung colocou um sorriso um tanto quanto travesso no rosto e ameaçou dar um cheiro no pescoço de Neteyam. O azulado arregalou os olhos e recuou, mas o sorriso sem jeito estampado em seu rosto era visível para qualquer um. 

Tsireya nem acreditou no que estava vendo... Mais evidente do que aquele encontro, só um segundo. Sabia que tinha de sair de lá e ir contar para seus pais, mas resolveu esperar um pouco mais. Os dois continuaram conversando (algo que Tsireya não conseguiu ouvir da distância em que estava), mas seguiam segurando um ao outro... Pareciam tão à vontade com aquele contato que era evidente que não era a primeira vez que se seguravam daquela maneira. O rabo de Neteyam se mexia alegremente conforme seus olhos miravam os do esverdeado. 

Teriam ficado mais tempo juntos se uma voz (que Tsireya julgou ser de Jake Sully) não tivesse chamado por Neteyam. O azulado desviou os olhos na direção do som, voltando-os a Ao'nung logo em seguida a fim de se despedirem. Disseram mais algumas poucas coisas e se soltaram. Neteyam virou as costas para o esverdeado e fez menção de ir embora, mas o sorriso malicioso nos lábios de Ao'nung pareceu querer mantê-lo ali por um pouco mais de tempo. O esverdeado esticou a mão e agarrou Neteyam pela cauda, puxando-o de volta para si até que as costas do azulado colidissem com seu corpo. Neteyam arregalou os olhos e deu um grito sutil em função da surpresa; sua cauda se sacudia de um lado para o outro, quase involuntariamente, e o azulado segurou o sorriso antes de virar o rosto e se deparar novamente com Ao'nung. 

Neteyam sussurrou alguma coisa próxima ao ouvido alheio e o esverdeado se deu por vencido, soltando a cauda alheia com um sorriso ladino. O azulado saiu andando, com um sorriso bastante abobalhado no rosto enquanto sua cauda permanecia se movendo alegremente. Ao'nung não tirou os olhos do rapaz, continuou lhe observando ir para longe, e só pareceu se dar por satisfeito quando Neteyam o olhou por cima do ombro, sorrindo brevemente antes de se voltar à frente e seguir caminhando. 

Só então, Ao'nung deu meia-volta e tornou a caminhar até a rede a fim de completar sua tarefa. Tsireya continuava com os olhos fixos em seu irmão, ainda sem acreditar no que havia acabado de presenciar... Seu irmão estava visivelmente apaixonado por um Omaticaya, e, o mais empolgante de tudo isso, era o fato de o sentimento parecer recíproco. 

Havia um na'vi adequado para estar n'Aquela Cabana, e esse na'vi, sem a menor sombra de dúvidas, era Neteyam. 

Tsireya saiu em correria, pegando o caminho mais curto até em casa; havia uma grande novidade para contar e não podia perder tempo. 

. . .

Quando finalmente pôs os pés em casa, a garota se viu um tanto quanto ofegante em função da corrida, mas tentou recuperar o ar assim que notou que seu pai e sua mãe estavam juntos, cozinhando algo. Os dois lhe enviaram olhares e sorrisos curiosos. Ronan iniciou a conversa: 

- Finalmente você voltou... Conseguiu descobrir alguma coisa? - ela perguntou com um leve entusiasmo. 

A mais nova ergueu os olhos aos dois, ainda tentando recuperar o fôlego: 

- Precisa ser... Necessariamente... Uma garota? - ele perguntou, fazendo pausas para respirar. 

Tonowari e Ronan arregalaram os olhos diante da pergunta, se entreolhando logo em seguida.

[continua...]

A Cabana (AonuNete)Onde histórias criam vida. Descubra agora