Inimigas de porta

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Kim Bora, naquela tarde, não estava muito diferente dos dias anteriores: todo fim de tarde depois de assistir a um programa de culinária reprisado pela terceira vez, ela pegava sua velha cadeira de macarrão e ia sentar-se com a vizinha e melhor amiga, Gahyeon. Aquele dia, em especial, estava se sentindo um pouco solitária em frente de casa vigiando as poucas crianças que brincavam de amarelinha na rua pouco movimentada, pois sua vizinha e amiga tinha ido fazer uma visita para a tia e sobrinha. 

O pôr do sol a fazia se sentir renovada, disposta e convicta a afiar a língua para falar mal da vida alheia — lembrando sempre de não julgar, pois quem era ela na fila do pão?. Mas naquele dia o silêncio de suas palavras era o felizardo, enquanto levava à boca os goles de café recém passado juntamente com algumas torradas integrais que tinha comprado no mercado ali perto. Como a ausência de Gahyeon lhe fazia falta. A melhor parte de seu dia era rir diante da garota mais nova e vê-la abrir seu sorriso doce e extremamente adorável, fazendo-a abrir instantaneamente um sorriso enorme na mesma medida. Gostaria de ter tido uma irmã quando mais nova para brincarem e conversarem o quanto pudesse antes de irem para a cama tirar uma boa soneca, mas a vontade não foi atendida quando se era filha única; por isso, sua dongsaeng era como uma irmãzinha mais nova para si, de forma que sempre gostava de mimá-la com lanchinhos gostosos quando iam se sentar à porta. 

— Eu ganhei mais uma vez! — A garota zombou diante da coleguinha, apontando o dedo na cara da outra. — Você é café com leite, por isso eu sempre irei vencer. 

— Não é verdade, temos a mesma idade e isso não faz sentido — A outra menina cruzou os braços e bateu os pés com força contra o asfalto em ruínas e prestes a arrancar mais um pedaço. Sua, ouvindo aquele murmúrio das crianças, logo deu atenção para descobrir o motivo da zanga. — Vamos mais uma rodada, dessa vez eu irei vencer.

— Não quero mais brincar. Eu ganhei e apenas eu sou a rainha da amarelinha.

— É mesmo? — A garotinha, um pouco mais baixa que a outra carrancuda, lhe deu um empurrão inesperado sem pensar duas vezes, fazendo a outra menina cair de costas e bater a cabeça no chão duro. Bora se segurou para não entrar numa crise de riso e fazer a pobre criança se sentir ainda mais humilhada (ainda mais quando esta mesma criança lhe buscou ajuda com os olhos pidões, querendo um pouco de atenção e ajuda moral). 

Nesse mesmo instante, na outra ponta da rua, a nova vizinha vinha andando com seu belíssimo rabo de cavalo, um óculos escuro preto, uma máscara de mesma cor e um bocado de sacolas de compras divididas entres os dois braços malhados. Kim Bora a assistiu passar pela rua como se aquela fosse uma enorme passarela na qual ela era a única modelo a desfilar, devidamente atraente, bonita e extremamente gostosa — características essas que lhe faria apaixonar-se por essa mulher no mesmo instante, caso não tivessem sido arruinadas no primeiro dia dela na vizinhança pela própria. 

A casa da morena era perfeitamente na frente da sua, mas nem mesmo seu nome foi capaz de descobrir. Ela entrava e saía, dia e noite, mas não tinha coragem ou a boa educação de lhe acenar com a cabeça, de lhe abrir um sorriso, de lhe oferecer um "bom dia" ou "boa tarde", ou mesmo uma única monossílaba. Às vezes tinha quase certeza de que seus lábios estavam devidamente colados um no outro, sem a menor chance dela conseguir soltá-los e, por este motivo, não poderia lhe dirigir a palavra como todas as outras vizinhas. 

— Me ajuda, por favor — A garotinha, ainda caída no chão, estava com a franja por cima dos olhos, as lágrimas caindo pelos cantos das bochechas e o nariz escorrendo. A cena era caótica de se presenciar e teria ido socorrê-la, mas como a morena, naquele segundo, estava passando ao lado da garotinha para que pudesse subir a rampa da sua calçada, imaginou que a mesma ajudaria a menina a se levantar e tirar a poeira dos joelhos doloridos. — M-me ajuda, por f-favor — Sua podia ouvir seus soluços entrecortados. E, diferentemente do que ela pensava, a mulher passou sem ao menos olhá-la e procurou as chaves do portão inteiramente branco dentro de umas das sacolas que carregava. 

No Escurinho Do Beco (dreamcatcher!suayeon)Onde histórias criam vida. Descubra agora