não era a primeira vez que chorávamos um na frente do outro, isso já estava acontecendo com certa frequência.
nós estávamos nos desgastando, a gente sabia que não tinha mais como salvar o nosso relacionamento.
já não nos entendiamos como antes, não havia mais sintonia, seu toque já não me deixava em chamas, nossos beijos já não me traziam faíscas.
acho que no fundo nós sabíamos que não daria certo.
naquele dia que você me ligou, falando que precisávamos conversar e que estava passando na minha casa para me levar na nossa cafeteria favorita, eu senti que você estava prestes a fazer o que nós dois estávamos adiando nos últimos meses.
entrei em seu carro, sentei no banco do passageiro como de costume e por alguns segundos me peguei pensando em todas as coisas que um dia fizemos, percebi que nunca mais receberia o cafune que você me fazia todas as vezes que ficávamos lado a lado, percebi que não receberia mais seus abraços e percebi também que nunca encontraria alguém que me entendesse tão bem como você. me afundei no banco e ouvi um suspiro cansado saindo de seus lábios, aqueles mesmos lábios que eu beijei incontáveis vezes desde que começamos a namorar.
ficamos em silêncio por todo o percurso, quando chegamos em frente a cafeteria você estacionou o carro e olhou em meus olhos pela primeira vez desde que entrei no carro. seus olhos estavam carregados de lágrimas, lágrimas nas quais você parecia querer esconder de mim. notei que estava com olheiras fundas debaixo de seus lindos olhos castanhos, me perguntei o que te fez perder seu tão precioso sono.
você desceu do carro e deu a volta para abrir a porta para mim, como você sempre fez. desci do carro e fiquei em seu lado com uma pequena esperança de você pegar em minha mão, mas isso não aconteceu. entramos na cafeteria e ela estava mais vazia do que o normal, sentamos em uma mesa mais escondida do que de costume. ficamos um de frente para o outro esperando algum de nos tomar a iniciativa de proferir alguma palavra, nosso silêncio incômodo foi cortado pela Lia, a garçonete que sempre nos atende. ela perguntou se queríamos o mesmo de sempre e apenas acenamos em concordância, ela foi preparar nosso pedido e se retirou de perto da nossa mesa.
assim que ficamos sozinhos novamente você começou a tentar formular uma frase que eu não entendi muito bem, afinal você só estava dizendo palavras que não tinham conexão alguma. peguei em sua mão que estava em cima da mesa e te disse que estava tudo bem e que eu já sabia o porque dele ter me chamado para conversar, você suspirou fundo e observei uma de suas mãos indo em direção ao seu rosto para enxugar uma lágrima que havia escorrido de seu olho direito.
criei coragem e iniciei a conversa que tanto adiamos, a conversa não foi muito longa, nós já sabíamos onde tínhamos que chegar. para ser sincera eu tinha muitas coisas a te dizer, e a te agradecer mas não tive coragem o suficiente.
saí da cafeteria sentindo um enorme vazio em meu peito, você me ofereceu carona para a casa mas não iria conseguir passar mais tempo com você sem consegui disfarçar meu abalo emocional.
pedi um taxi e voltei para a casa, não deu tempo nem de fechar a porta, eu desabei ali mesmo. minha vista ficou turva, minhas pernas fraquejaram, meus olhos se inundaram de lágrimas e chorei por tudo que eu estava sentindo, chorei pelas nossas memórias, pelos nossos planos, pelos nossos sonhos e por tudo ter acabado.
a dor de terminar com alguém que você ama é tanta que parece ser física, mas algumas dores vem para o bem. sei que estávamos em um momento de nossas vidas que se fossemos continuar só iriamos nos machucar cada vez mais.
por mais que doa, eu sei que essa foi a melhor decisão que poderíamos ter tomado.