Parte 1

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A vida pós Chinchilla.

O Gun virou um cantor e compositor famoso, tive a oportunidade de estar próximo a ele durante um tempo, o Tin continua com ele, se bem que isso é previsível. Com a convivência com os dois é tão óbvio que um existe pelo outro, às vezes é até estranho vê-los separados e quase impossível não perguntar onde o outro está, mas ainda sim, o Tin virou o médico que a mãe dele tanto sonhou.

O Yo se casou pouco tempo depois que terminou a faculdade, não tive a oportunidade de ir ao seu casamento mas recebi várias fotos do Gun com todos reunidos, lembro de uma lágrima escorrer no meu rosto ao ver a foto de todos juntos depois de tanto tempo.

O Phat é um mistério como sempre, a última notícia foi que ele estava fazendo um mochilão, sozinho, como sempre.

O Por e o Thiw estão juntos, não sei em que momento eu perdi isso acontecendo, lembro de só perceber quando aconteceu, nunca tinha desconfiado.

Sempre que me lembro do Por me lembro do fim da nossa banda, que todos teríamos que seguir caminhos separados, que nossa banda tinha tempo determinado de vida, ele chorou por uma semana a mera menção do nome Chinchilla, o Thiw falou outro dia que ele tinha sequestrado a Chinchilla de pelúcia da escola, e que agora ela está em uma espécie de santuário em uma parte da casa deles.

E bem, o Sound, a gente terminou, não mantivemos o contato depois disso, mas enquanto tava na Tailândia vi ele em vários telões, ônibus e até em uma máscara skin care, ele se tornou um ator famoso, ele se tornou o que já era esperado, uma estrela.

Ainda estava com ele quando ele lesionou o pulso pela segunda vez, o que mesmo com fisioterapia, não resolveu e ele ficou impossibilitado de tocar guitarra, acho que esse foi o começo do nosso fim.

Então tem eu, Win, virei um dono de um restaurante em uma ilha pacata da Coreia, minha mudança não é tão repentina quanto parece, eu precisava viver coisas novas, conhecer pessoas novas, precisava sair de lá.

Foi aí que eu conheci esse cantinho que agora é meu, mesmo sendo alugado, ainda é meu. De frente a praia, o restaurante fica aberto da manhã ao fim da tarde, quando a noite cai, a cadeira e a mesa é colocada para fora, uma lata de cerveja e assim termino meus dias, olhando para o mar bater nas pedras e bebendo até o sono aparecer e ir dormir, uma rotina sossegada um tanto diferente da minha personalidade caótica.

Era apenas mais um dia, já tinha virado a placa da porta para fechado, estava limpando as mesas até que ouço o sininho da porta alertando a entrada de alguém.

— Desculpa, estamos fechando… – me choco quando percebo quem estava na porta.

— Oi Win.

— O que faz aqui Sound? – observo ele indo até uma cadeira e se sentando enquanto permaneço imóvel.

— Tava passando. – dá de ombros.

— Na Coreia?

— Estou de férias.

Observo com ele está vestido, parece o mesmo de sempre, suas roupas em um tom neutro, me faz lembrar de quando brevemente moramos juntos e uma jaqueta de couro preto que a muito tempo tinha desaparecido do meu armário.

— Estamos fechados. – ignoro a presença dele e volto a limpar a mesa.

— É mesmo? Até para mim? – mesmo sem olhar seu tom de voz convencido me faz saber que é acompanhado por um sorriso de canto irritante.

— Por que você seria especial? – largo a mesa e vou limpar as grandes janelas de vidros limpas.

— Bom, eu vim visitar um velho amigo que há anos não via.

— Amigo… – aperto o pano em minha mão.

— Pensei que veria você no casamento do Yo.

— Estava ocupado – desisto de limpar a janela e olho para ele que me encarou de volta.

— O casamento foi quanto tempo depois de terminamos? Cinco meses? É, acho que você deveria estar ocupado mesmo. – ri sem humor.

— O que você quer? – vejo seu rosto se fechar e logo depois um sorriso se abrir.

— Achei que ficaria feliz em me ver, que sentia minha falta.

Olho sua postura relaxada, como se nada pudesse perfurar a esfera que o protegia de tudo do mundo exterior, que nada seria capaz de atingir, que ninguém seria capaz de tocá-lo sem seu consentimento e muito menos feri lo.

— Eu sinto, você sabe que eu sinto.

Seu sorriso sumiu, sua postura relaxada foi embora o fazendo se ajeitar na cadeira. Eu era capaz de penetrar sua parede protetora.

— Por que não me procurou? – ele vem até mim em passos lentos e dolorosos e fica a poucos centímetros de mim.

— Para que? A gente durou muito tempo, o nosso para sempre era temporário, nós dois sabíamos. – a cada palavra parecia atingi lo como facadas.

— Por que teve que ser assim? Eu te amava… eu te amo. – ele leva as duas mãos ao meu rosto.

— Sound, você nem deveria estar aqui.

— Porra, eu to bem na sua frente, dizendo que te amo e você quer que eu vá embora? É isso que viramos? Estranhos? – ele deixa as mãos caírem e tem uma expressão cansada — Eu vim até aqui por você.

— Não deveria.

Respiro fundo e olho para janela, já estava escurecendo, agarro a cadeira mas próximo e levo até a frente do restaurante e depois a mesa e por fim duas latas de cerveja.

— O que está fazendo? – Sound pergunta confuso quando me sento e abro a cerveja.

— Você está de frente da vista. – ele coloca as mãos na cintura indo para minha frente me forçando olhá -lo.

— Não sou bonito o suficiente? – ele mantinha o queixo levantado como se estivesse disputando um concurso de beleza entre ele e o mar e eu era o único jurado capaz de decidir.

— Você tá velho. – o vejo abrir a boca meio em choque e reprimi um riso que nascia.

— E você acha que tá novinho? Tem quase trinta anos, sabia que um botox às vezes é bom? Tô vendo todas as suas rugas. – aponta para as supostas marcas de expressão em meu rosto.

— Se você for embora você não vai ver. – dou um gole na cerveja.

Ele me encara e sai da minha frente e vai para dentro do restaurante e volta com uma cadeira e a ponha ao lado da minha.

— Esse lugar não combina com você, sabia? – ele faz um sinal para pegar a outra cerveja que estava na mesa e entregá-lo.

— Imagino.

— Está vivendo assim? Cuidando de um restaurante e olhando o mar? – diz como se fosse a coisa mais absurda.

— Basicamente isso.

— Posso passar a noite aqui?

— Como? – olho para ele surpreso.

— Eu vim aqui por você, imaginei que teríamos alguma reconciliação ou algo assim, meu voo só sai amanhã de manhã, não tenho lugar para ficar – ele dá um gole na cerveja e se abraça quando um vento gelado bate.

— Pensei que atores ganhassem bem, não tem dinheiro para pagar um hotel?

— Tenho, mas queria ficar com você, se você me deixar ficar eu juro não parecer mais assim como você quer – ele me olha triste sabendo que aquelas palavras o feriam.

— Tá bom. – volto a encarar o mar em silêncio.

Antigo amor Onde histórias criam vida. Descubra agora