Desafio de Escrita

Cena sobre a perspectiva de um gato

Dia 1

Ouço eles me chamarem de longe, mas depois da chuva que tomei não vou voltar agora. Estou com medo! Vou ficar neste mato que ninguém consegue me ver. Toda hora passa pessoas estranhas correndo e falando alto. Escureceu, e eu não paro de escutar eles me chamarem. Vou ficar aqui só mais um pouquinho pra ter certeza.

Dia 2

Estou com fome, agora que é dia talvez eu possa sair. Estou em um beco, não é tão assustador. Acho que vou descer, quem sabe eles não estão ali me procurando!? Mm! Reconheço esse cheiro. É ração! Não gosto de qualquer uma, mas a fome fala mais alto. Realmente a fome é um tempero. Ouço um barulho atrás de mim e me viro arrepiado.

-Quem é você?

-Não me reconhece. -ele lambe a pata - Eu te libertei daqueles humanos.

-Eu posso garantir que eu estava bem com eles. -me sento.

-Você estava preso e ainda com um cachorro. - ele me encara.

-Aquele é meu irmão. -lembro daquele cachorro doido -E não sei porque me prenderam, mas, tinha comida e um lugar que não precisava ficar com medo.

-Você é doido e não sabe agradecer. -ele vem em minha direção -Te libertei, deixei você comer da minha comida e ainda fala que lá era melhor. Vou fazer você pagar por ser mal agradecido.

Ele tenta me atacar mais saio correndo e ele me segue. Entro no meio do mato mas ele vai junto, desço o barranco cheio de lixo, caio. Olho pra cima e vejo ele me olhando. Desço mais afundo.

Ouço eles me chamarem, mas não posso ir.

Dia 3

Ouço de novo, mas tenho medo.

Dia 4

Outra vez eles me chamam pelo nome.

Dia 5

Estou comendo mato, meu estomago não aguenta mais. Eles me chamam todos os dias, a noite e de dia. Ela parece triste. Queria poder dar um abraço nela.

Dia 6

Acho que vou subir hoje, estou com medo. As vozes estão distantes, será que eles desistiram de mim?

Subir é um pouco difícil, pois tudo escorrega. Cinto o cheiro da ração de longe. Desço e encontro o pote cheio. Como e me alegro. Escuto algo vindo em minha direção. É ELE. Corro de volta para o buraco que ele me deixa viver.

Que frio esta hoje, vou subir até a metade para ouvi-los, pode ser que me achem.

Passaram tão rápido, mas continuam falando meu nome, trouxeram meu irmão. Pensei em subir o resto mas não tenho coragem, vou ficar aqui.

Dia 7

Meu estomago suplica por mais. Não vou ,o medo me paralisa. Consegui uma caixa igual a que dormia em casa, sinto falta do meu irmão pra me esquentar a noite. Como sinto falta dos carinhos. Pode ser que eu suba amanhã, quem sabe.

Eu os ouço falar sobre mim, ela esta cada dia mais sem esperanças. Desculpe, eu tenho medo.

Dia 8

Será que se eu descer eu consigo achar comida? Vou tentar, não aguento mais, estou fraco. Descer esse barranco cheio de lixo é uma das coisas mais difíceis que já fiz. Encontro uma casa, que felicidade.

-Oque você tá fazendo aqui, gato burro. -um cachorro grita tentando me pegar em cima do muro.

-Estou com fome, não consigo voltar pra casa.

-E você acha que aqui tem comida? -ele senta -Eu como uma vez no dia a ração mais barata que eles acham, as vezes tenho sobras e fico amarrado o dia todo debaixo de chuva ou sol. -ele deita em um pequeno lugar com sombra -Onde você veio, como era?

-Eu tinha um lugar todo pra eu poder andar, sem correntes. Tinha um irmão, cachorro como você. - deito no muro debaixo do sol -Tinha uma casinha, uma cadeira pra poder arranhar. Minha ração era boa, não tenho oque reclamar, mas, as vezes, eu me enjoava dela e eles trocavam pra uma melhor. -ri disso -Entravamos quando chegavam pra poder ficar com eles dentro de casa e ganhávamos carne. -olhei para o morro que havia descido -Eles ainda me chamam todo noite.

-Volte de onde veio e tente voltar para casa, aqui você não encontrara nada. -ele diz depois de beber água, ele percebe que eu o observo tentado - Desça e venha beber um pouco.

O obedeço. Ele apesar de grande parece ser bom. Ele desenterra algo do lado da casinha de telha e joga em minha frente.

-Anda, pegue e saia daqui. -eu o obedeço subindo de volta ao muro com o pedaço do que parecia ser um pão duro e sujo -Você tem a chance de viver uma vida melhor do que eu, então viva por nos dois.

Sai correndo enquanto ele repetia para que eu vivesse. Não sei se mereço mais que ele. Aquele cachorro parecia um ótimo bichinho para um dono e eu sou medroso, não gosto que pessoas cheguem perto de mim. Talvez eu não mereça tudo que tenho.

Dia 9

Hoje vou obedecer o cachorro, ontem eles me chamaram, mas estava com muito medo, pois o vi me espionar de longe. Vou descer até a ração de novo, quem sabe não consigo um pouco pra saciar minha fome. Desço até o pote, mas ele esta vazio. Talvez eu consiga ir um pouco mais longe. Algo vem em minha direção, enorme, saio correndo e vejo de longe. São humanos, saio do meu esconderijo e mio para que eles me vejam. Estou morrendo de medo, mas preciso fazer isso. Eu quero voltar. Os humanos correm ate mim e eu corro deles voltando para o mato. Vou voltar, estou com medo.

A noite eu ouço ela, esta animada e ainda me chama. Talvez agora ela saiba. Mas estou tão fraco para subir este morro.

Dia 10

Fiquei esperando pela noite, hoje eu vou ate algum humano. Anoiteceu e eu subi para achar alguém que pudesse me ajudar. Desci ate o pote e outra vez ele estava vazio. Duas luzes quase me cegam, mas consigo correr. Não vou descer. Preciso de alguém.

Ouço a voz dela e de outras pessoas, ele esta aqui também. Ela esta na minha frente.

-Humana é você? -a chamo.

Tem outros humanos com ela mas eles se afastam e então eu corro para cima. Ela me chama e eu estou tão feliz. Ela ajoelha e me chama. Vou ate ela devagar e ela me abraça, tão forte que eu podia sentir todo o seu amor. Ela vai rápido pra nossa casa, mas ainda estou assustado. Dormi junto com eles e fiquei tão inquieto por ter tanto de tudo, é o mesmo que eu tinha antes mas agora esta tão diferente.

A melhor noite da minha vida foi poder voltar pra casa, ficar quentinho juntos dos meus donos e do meu irmão. Aquele gato ainda volta aqui pra poder me dizer o quão burro sou. Mas meu irmão e minha humana o manda embora. Sinto ainda que aquele cachorro poderia ter uma vida melhor, mas agradeço a ele por me fazer ver que precisava voltar.