Infernos e pecados.

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O despertador toca...
Aquele barulho infernal que me dá forças para levantar, apenas para desligá-lo.

-Porque eu tenho que ir todos os dias para aquele lugar? eu odeio isso...

Eu me perguntava isso todos os dias desde que eu consigo me lembrar, quando eu era menor eu até gostava de ir para a escola, estudar e tudo mais, mas aquelas malditas pessoas me fizeram odiar aquele lugar, e agora, graças a esse bando de filhos da puta, eu odeio ir para lá.
Todos os dias é esse mesmo ciclo infernal:

Não consigo dormir devido à insônia,

Acordo exausta, as vezes nem durmo,

Levanto,

Me troco,

Como cereal radical que te dá energia, mas acho que os meus vêm sem,

Entro no ônibus,

E em alguns poucos passos já me encontro dentro daquele maldito lugar, que sem dúvidas, foi criado por lúcifer, disso eu tenho certeza.

Eu mal via meus pais, bom, minha mãe, já que eu morava sozinha com ela. Ela e meu pai se conheceram em uma festa (me pergunto se isso tinha como dar certo) e desde então, foi só ladeira a baixo.

Brigas, brigas e mais brigas. O meu pai vivia bêbado, e todas as lembranças que tenho com ele são ruins, sempre estragando tudo, e me fazendo chorar, sabe... as vezes eu sinto pena dele, ele deve ter passado por coisas horríveis em sua vida, mas a pena que sinto por ele não é nem de longe maior que o ódio que eu sinto por esse filho do capeta, não depois dele ter agredido minha mãe.

Isso foi no natal, eu tinha uns 10 anos na época, foi tudo tão de repente, mal consigo me lembrar de como aquilo tudo começou, estávamos todos bens, achava eu, e de repente minha mãe estava no chão com o rosto cheio de sangue e o nariz quebrado...

Eu jurei que eu iria acabar com a vida do meu pai, mas a depressão me pegou muito forte, me puxou tão fundo, mais tão fundo que só Deus pra me tirar dali, e mesmo assim eu me questionava se ele seria tão poderoso a ponto de conseguir realizar uma proeza dessas.

Eu já nem conseguia mais me levantar da cama, não me alimentava mais, todos os meus "amigos" me deixaram, pra ser sincera, acho que eles nunca estiveram ali, tudo parecia estar desmoronando, eu já não tinha mais vontade de viver, praticamente estava vegetando na cama, eu me sentia um lixo, sem forças, sem esperanças...

Até que eu descobri uma forma de me sentir viva e boom, era espetacular. Uma erva, um pó branco, um LSD, algumas latas de álcool, uns beijos e amaços, eram bombas de dopamina que me faziam delirar de prazer, era mágico, era fantástico era maravilhoso, eu até quase podia dizer que aquilo me fazia "querer viver", embora eu soubesse que não, a vontade de desistir de tudo era bem maior.

Eu andava com um grupo de 5 garotos que conheci na escola: João, Guilherme, Vitor, Lukas e Felipe. eu odiava eles, eles eram deprimentes, me faziam querer vomitar, mas eles me davam drogas, e isso fazia com que eu me sentisse viva, então para mim aquilo valia a pena.

Espera, onde é que nós estávamos mesmo?

O despertador toca...
-Ah é, primeiro dia de aula...

-Porque eu tenho que ir todos os dias para aquele lugar? eu odeio isso...

Levanto, me troco, como cereal radical, entro no ônibus, vou pra escola.

Visto uma camiseta branca do álbum In Utero, uma calça jeans azul claro um pouco larga, um all stars e uma blusa corta vento preta.
Faço uma maquiagem bem leve, passo um lápis de olho e faço um pequeno delineado torto. Mas é óbvio que eu só vou arrumada assim no primeiro dia, que fique bem claro.

-De novo essa merda...

Eu resmungava baixinho colocando meus fones e dando play na minha playlist.
Eu sou uma pessoa bem eplética, biciclética, eclética, aff, deu pra entender, então eu não me prendo muito a a estilos, se eu escuto e gosto, eu coloca na minha playlist, embora eu tenha um espaço reservado para o Nirvana, óbvio, eu já disse que o Kurt Cobain é meu maior ídolo? Se não, agora vocês já sabem, meu cabelo curto vermelho teve bastante influência dele.

-Minha sala é a 216, segundo andar, sala seis, uau, que criatividade. ironizo.

Subo as escadas até o segundo andar, por sorte não encontrei ninguém, vou andando a passos calmos, de cabeça baixa para combinar com minha autoestima e minhas notas. Entro na sala, me sento no canto isolada das outras pessoas e me debruço sobre a mesa, como uma pessoa muito cansada faria, e lentamente sinto minha alma saindo do corpo, e aos poucos vou adormecendo...



Boa noite Mara...






Mara Mara Mara...

"Obediência segurança vício Irai-vos e não pequeis
não se ponha o sol sobre a vossa ira. Não deis lugar ao diabo."

Mara no país das tristezas e incertezasOnde histórias criam vida. Descubra agora