Nem todas as histórias começam com "Era uma vez..." ou "Em um reino muito distante..." e isso não é um indicativo de que será ruim ou bom, apenas que será diferente. Por isso espero que você não julgue antes de terminar de ler, pois a minha história começa comigo, James Adams, um jovem de vinte e cinco anos desempregado, tentando domar meus cabelos negros ondulados mesmo tendo noção de que é uma batalha árdua e perdida, pois o cabelo sempre vence. A questão em si, não é a guerra eternamente estabelecida entre mim e meus fios rebeldes e indomáveis, mas sim que eu precisava domar eles em tempo recorde para parecer aceitável em minha entrevista de emprego.
Entretanto, se não lhes contar sobre esse fatídico dia em que conheci os homens da minha vida enquanto corria para não perder o horário da entrevista, vocês não vão entender o momento mais dramático da minha existência.
De alguma forma, talvez movido pela ansiedade causada pela possibilidade de, enfim, ter dinheiro para pagar minhas próprias contas e não precisar mais pedir dinheiro aos meus familiares já que poucos deles aceitam me doar algumas notas para conseguir me manter vivo e com um teto sobre minha cabeça, consegui prender a maior parte do meu cabelo em um coque samurai que talvez não durasse muito tempo. Como ainda tinha tempo e um pouco de dinheiro na carteira, resolvi passar em uma cafeteria no caminho para a empresa, não me esquecendo de pegar a pasta transparente com meus diplomas e qualquer outro documento que pensava que poderiam me pedir na hora da entrevista para comprovar minha eficiência em algo.
Parece um pouco ridículo, pensando agora. Como uma cena de fanfic, onde a personagem principal tem o nome em uma sigla "S/N", sempre vai ao Starbucks com um coque frouxo nos cabelos, com um visual que não é natural e de gente atrasada em nenhum lugar do mundo, mas que todos fingem aceitar que está tudo bem e que é parte do cotidiano de pessoas normais. Sim, encontrei o amor da minha vida em uma cafeteria enquanto usava terno, um coque possivelmente frouxo e com tempo contado para pegar meu café e voltar a andar rapidamente pelas ruas de Londres atrás do endereço da empresa na qual eu poderia me tornar um funcionário. Sim, consigo ouvir o choro das inimigas nesse momento.
O garoto não parecia ser muito mais velho do que eu, talvez até fosse mais novo, usando uma jaqueta de couro preta e digitando algo em seu notebook que deve custar mais do que o meu apartamento inteiro. A pele bronzeada chama bastante atenção no clima sempre nublado e chuvoso de Londres, além de destacar o undercut platinado do rapaz e os óculos de grau quadrado de armação escura. Teria gasto mais tempo admirando a maneira como seu cenho franzia ao ler algo na tela brilhante e cara a sua frente, ignorando o copo de café ao lado do eletrônico, bem como o pedaço de torta de limão que se encontrava pela metade, porém meu nome foi chamado pelo cara no balcão, indicando que meu pedido estava pronto para a viagem e me lembrando que não tinha tanto tempo assim.
Com um suspiro frustrado, peguei meu pedido e voltei para as ruas. Tive sorte de não estar longe do local em que precisava ir, pois a estação fria do ano se aproximava, anunciando o final do outono e, por mais que o terno fosse quente, não era o suficiente para me proteger do frio habitual do inverno. Constantemente me questionava sobre a faculdade que havia escolhido para a minha vida, claro que sabia que não daria para viver vendendo minha arte na praia, afinal os grandes pintores só ficam famosos e ricos depois que morrem, então talvez tivesse sido uma boa ideia ter escutado a minha mãe e feito algo voltado para a área do direito ou da medicina, mesmo que desmaiasse todas as vezes que visse sangue na minha frente. Okay, medicina realmente não era uma boa escolha devido a essa minha condição, afinal, quem gostaria de ser atendido por um médico que desmaia no meio do atendimento? Entretanto, optei por conseguir um diploma em artes plásticas e, posteriormente, fazer um curso de artes digitais, o que me levou a concorrer a vaga de emprego de hoje. Não me sentia super empolgado e inspirado fazendo designs de logos ou coisas do tipo, mas pelo menos eu teria dinheiro.
No fim, cheguei para a entrevista no horário certo, depois de ter tomado todo o meu café durante o caminho para me manter aquecido, e com o pensamento preso no rapaz bonito da cafeteria. Claro que as chances de eu vê-lo novamente são ridículas de tão pequenas, vai acabar se tornando como aquele crush que temos dentro do ônibus, que nunca esquecemos, mas não vemos novamente. Deveria ter, ao menos, perguntado o nome dele e dito que ele é bonito, mesmo que ele ouça isso de várias pessoas todos os dias. A questão, em si, é que homens são pouco elogiados quanto a sua personalidade ou aparência, como se nós não desenvolvêssemos nenhum problema de autoestima ou algo do tipo, mas deixe de elogiar a sua mãe em um dia em que ela se sente extremamente bonita para ver se você não passa os próximos três dias fugindo do chinelo dela.
Como se não bastasse o momento "encontrei um anjo na cafeteria", quando fui chamado para a minha entrevista, eu tive certeza de que não conseguiria a vaga devido ao fato de eu ter me tornado um completo idiota, incapaz de responder qualquer coisa. Thomas Channing, um rapaz com o rosto levemente ovalado, olhos castanhos, cabelo tingido de roxo, num terno negro e um olhar de quem vai te arremessar pela janela a qualquer momento. Tentei, com todas as minhas forças, ignorar o fato de que ele não estava usando uma gravata e que os primeiros três botões de sua camisa social estavam abertos, expondo sua pele leitosa que ficaria ainda mais bela com as marcas de mordida que meus dentes poderiam deixar por ali.
Entretanto, nada chamava mais a atenção em si do que o anel dourado em seu dedo anelar direito. Porra! O gostoso é casado? Eu não tenho sorte mesmo! Será que ainda dá tempo de sair correndo e só deixar ele pensando que tenho algum tipo de problema?
A boca dele se movia, provavelmente perguntando algo como "Se você fosse um animal, qual seria?" e não conseguia formular nada muito decente para responder.
— Você é casado? — Não consegui conter a minha curiosidade e ele me encarou de forma afiada, fazendo com que um arrepio percorresse minha espinha. — Desculpa, é que você é o segundo homem incrivelmente gostoso que eu encontro hoje e eu estou vendo a aliança no seu dedo. Isso está me deixando extremamente frustrado, porque além de desempregado, eu sou carente e terrivelmente solteiro, não dá para ser tão azarado assim na vida, dá?
E é assim, senhoras e senhores, que se perde a oportunidade de emprego. O Sr. Channing me olhou de forma que tive certeza de que em sua cabeça, ele estava me jogando da janela com um peso amarrado nos pés. O homem respirou fundo, deixando os papéis de lado e apoiou os cotovelos na mesa, apoiando o queixo nas mãos entrelaçadas.
— Não sou casado, mas tenho um namorado muito fofo. — Sr. Channing respondeu em um tom suave, como se estivesse acostumado com esse tipo de reação e ao mesmo tempo em que achava incômodo, se divertia com isso.
— São um casal de muita sorte, eu imagino — comentei, sentindo minhas bochechas esquentarem. — Ele é ciumento? Porque eu sou, mas dependendo de quem é, eu não me importo de dividir.
Sim, estava, descaradamente, dando em cima do meu entrevistador. Afinal, o emprego já não iria conseguir mesmo, pelo menos, que conseguisse uns beijinhos, certo?
O homem riu, pegando o celular que estava guardado em seu bolso e o destravou, mostrando-me seu fundo de tela, onde havia uma foto dele com o rapaz que vi mais cedo na cafeteria, o anjo de undercut platinado, tomando um drink colorido e pareciam muito felizes.
— Ai, papai! Acho que apaixonei nos dois. — Murmurei e num surto de coragem, alguns chamariam de loucura ou falta de noção, peguei o celular do homem e anotei meu número ali. — Se um dia quiserem se divertirem com mais alguém, me liga. Seu namorado é realmente muito bonito, vi ele na cafeteria hoje.
— Você sabe que acabou de perder a vaga, certo? — Sr. Channing perguntou e eu ri envergonhado. — Mas quem sabe eu não te ligue.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ágata [Degustação]
RomanceJames não acredita muito em superstições, muito menos em plantas que trazem dinheiro ou coisas do estilo. Entretanto, um de seus namorados, acredita nestas pequenas heranças e histórias. Quando o Adams herda uma samambaia que é conhecida como a sama...