Ágata [Degustação]

Como conquistar um nerd rico

Depois de dois meses falhando miseravelmente em entrevistas de emprego, resolvi começar a trabalhar como freelancer. Não era a opção mais inteligente do mundo e rentável para mim, mas era melhor do que ficar devendo dinheiro para a minha família. Não conseguia muitos trabalhos, mesmo utilizando plataformas digitais, talvez possa culpar o fato de que odeio redes sociais e não as utilizo, portanto, não tenho como fazer propaganda de mim mesmo para uma certa quantidade de pessoas, em troca disso, tenho minha paz. Quando apareciam trabalhos, muitas vezes eram coisas voltadas às capas de livros e artes para jogadores de RPG de mesa. Não posso dizer que esta última categoria de trabalho não era divertida, afinal cheguei a fazer bonequinhos de biscuit para um dos meus clientes jogar com os amigos. Nerds se tornaram minha freguesia favorita.Uma situação bastante caótica aconteceu na entrega deste projeto, o cliente havia pedido para que o encontrasse em uma livraria próxima ao trabalho dele e eu resolvi que passaria na minha cafeteria favorita no caminho. Posso dizer que foi uma decisão prazerosa e burra ao mesmo tempo. Meus erros começaram quando decidi ir com uma blusa branca de manga longa e botões, por baixo de um casaco grosso bege aberto e calça jeans. A combinação estava bem confortável, o problema foi na cafeteria, pois, enquanto eu esperava pelo meu próprio pedido, uma garota baixinha e ruiva, usando um uniforme escolar, tropeçou e derrubou seu café em minha blusa. A menina, completamente desesperada, começou a tentar me limpar com guardanapos de cima de uma das mesas, porém espalhou mais a mancha e sim, estava me queimando.A atendente me trouxe um pano molhado para, pelo menos, amenizar o calor em minha pele e me deu cookies grátis como desculpas pelo ocorrido, mesmo que não fosse culpa dela, a garota ainda estava em pânico, pedindo perdão e chorando. Tentei acalmá-la, não tendo muito sucesso, e assim que peguei meu pedido, sai de lá, fechando o casaco para tentar não parecer uma bagunça no encontro com meu cliente. Minha pele reclamava com ardência ao contato dos tecidos no local sensível pela queimadura leve.Caminhei até a livraria, seguindo até a parte das mesas, ao fundo da loja, onde as pessoas poderiam folhear alguns exemplares usados, enquanto tomavam seus cafés e matavam tempo. Fiquei surpreso ao ver o namorado do Sr. Channing ali, o óculos apoiado na ponta do nariz arrebitado — lendo algum livro no qual eu não me importei em saber o título —, o corpo relaxado na cadeira e a jaqueta de couro pendurada nas costas da cadeira, deixando sua camisa preta com estampa de alguma banda de rock a mostra, propositalmente colocada para dentro da calça jeans de lavagem escura, marcando a coxa delineada por ele estar com as pernas cruzadas, o que me permitiu reparar em seu All-Star preto de cano médio surrado.Não tinha certeza de quem era meu cliente, já que o rapaz apenas havia dito que estaria usando uma jaqueta de couro e, com facilidade, poderia ser alguém que ainda não havia chegado ao estabelecimento. Entretanto, com muita cara de pau, me aproximei do rapaz. Limpei a garganta, chamando a atenção dele e sorri envergonhado ao vê-lo olhar nos meus olhos, por cima do óculos. Como pode ser tão bonito? — Me desculpe o incomodo, mas você é "aussiesunshine0440"?O rubor em minhas bochechas aumentou ao que disse o nome de usuário do rapaz e sua expressão neutra mudou. Respirei fundo, como se o ar estivesse me faltando, ao admirar os lábios finos rosados se curvarem em um sorriso e seus olhos quase se fecharam.— Você deve ser "jamie_adams", certo? — O rapaz disse baixo, levando a destra à armação e retirando o óculos do rosto, deixando-o sobre a mesa. — Meu namorado falou de você, mas acho que ele não me deu tanta riqueza de detalhes quanto eu gostaria. Você é muito mais bonito pessoalmente.Meus olhos se arregalaram e minha boca se abriu levemente, devido ao choque. Não estava esperando que o Sr. Channing realmente falasse de mim para seu namorado. Muito menos, esperava que o rapaz se interessasse em me conhecer e elogiasse minha aparência, além de delatar que o próprio namorado havia me descrito para si como um homem bonito. Abri e fechei várias vezes a boca, sem ter certeza de como o responder e lidar com a situação sem passar mais vergonha do que já estava passando.— Por favor, sente-se! — Ele indicou a cadeira a sua frente e me dirigi até ela de forma automática, me sentando conforme o indicado. — Não precisa ficar acanhado comigo, meu namorado me contou como foi bem atrevido com ele.— Sinto muito! Às vezes, não penso antes de falar, especialmente quando envolve homens extremamente bonitos e charmosos — disse baixo, usando a mão livre para coçar minha nuca. — Você é muito mais bonito de perto.— Oh! Obrigado! — Seu sorriso se alargou por um tempo e então se suavizou, sendo gradualmente substituído por um sorriso travesso e um divertimento surgiu em seu olhar. — Não se preocupe com isso, Tomy e eu gostamos de pessoas sinceras, honestas e atrevidas, para certas coisas. É impressão minha ou ele flertou comigo? Sorri envergonhado como resposta, colocando a sacola com a encomenda em cima da mesa e empurrei para ele.— Espero que esteja do seu agrado, Sr...— Oh! Que grosseria a minha. Meu nome é Felix White, muito prazer em conhecê-lo Sr. Adams.O jovem pegou a sacola e a abriu com cuidado, desembalando o plástico bolha que envolvia cada uma dos personagens de RPG de mesa em biscuit e os analisou com uma expressão séria. Fiquei apreensivo, com medo de que ele não gostasse e, sei lá, jogasse as esculturas no chão enquanto grita comigo. Entretanto, Felix sorriu curto e reembalou cautelosamente os objetos, devolvendo-os para dentro da sacola e tateou sua jaqueta, retirando sua carteira de um dos bolsos internos.— Não pense que não gostei. Apenas estou tentando não chamar atenção por estarmos em um local público, caso contrário, já estaria gritando de felicidade — White explicou, abrindo mais seu sorriso e pude notar a sinceridade e a alegria em seu olhar. — Ficaram muito bem-feitos, não tão bonitos quanto o artista que os fez. Eu gostaria de te pagar um café, se não for um incomodo, é claro.Felix abriu a carteira e me entregou um envelope, o qual abri e conferi a quantia de dinheiro dentro, sorrindo aliviado ao perceber que o valor estava correto com o combinado pela encomenda. Voltei minha atenção ao belo rapaz e sorri envergonhado novamente.— Se seu namorado não tiver problemas com isso, eu não me incomodo. — Fui cordial em minha resposta, vendo-o rir e balançar a cabeça em negação logo em seguida. — Tomy não será um problema, pode ter certeza disso. Dito isso, Felix chamou a garçonete e deixou com que eu pedisse um pedaço de torta para nós dois, uma vez que ainda não havia terminado meu café de mais cedo. As duas fatias de torta de limão não tardaram a chegar até nós e comemos enquanto conversávamos sobre algumas trivialidades. Felix sorria durante toda a conversa, se empolgando um pouco mais ao falar sobre o jogo de mesa com alguns amigos, que se encontram todas as sextas-feiras na casa de um deles, para jogar e comer algumas porcarias, e que Tom não tem ciúmes destes encontros e se diverte os observando jogar coisas neste estilo.Suspirei emocionado e apaixonado, ambos mostrando belo exemplo de casal equilibrado e relacionamento saudável, completamente invejável. Ficamos ali conversando — e por isso entenda, Felix falando de modo animado e enquanto eu observava seus olhos brilhando, vez ou outra secretamente contando as sardas em suas maçãs do rosto — até sermos expulsos pela funcionária responsável por fechar o estabelecimento. O White ainda fez questão de me levar até em casa, pois ele estava dirigindo e não queria que eu ficasse andando pelas ruas da cidade sozinho enquanto anoitecia. Seria uma grande furada admitir que estou me apaixonando pelo casal?