#2 meet

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— Ji Eun?

Levantei minha cabeça ao ouvir meu nome ser chamado. Olhei na direção de quem me chamava. Percebendo meu gesto, minha colega prosseguiu:

— Tem uma entrega te esperando lá embaixo... Não é delivery de comida. — Ahn Hee completou, reagindo à minha expressão confusa com uma nota de tristeza na voz enquanto bebericava seu café gelado se afastando de minha mesa. Eu não estava esperando nada e ainda faltava uma semana para o meu aniversário. Será que meus pais haviam decidido mandar meu presente adiantado? Era a única justificativa que eu encontrava para em plena quarta-feira alguém aparecer querendo me entregar algo. Tirei o casaco leve que usava e deixei-o sobre as costas da cadeira, esticando as pernas pela primeira vez em algumas horas. Aproveitei para me espreguiçar de leve antes de dirigir meus passos ao elevador que me levaria à portaria.

O elevador desceu os 4 andares entre o meu departamento e o térreo disparando rangidos ocasionais que me faziam questionar se não era melhor fazer o caminho da subida pelas escadas. Enquanto as portas abriam, pude visualizar a figura do office boy apoiado no balcão da recepção. Revirei os olhos, querendo acabar logo com aquilo.

— Senhorita Kim Ji Eun? — A voz um pouco impaciente me pareceu familiar mesmo abafada sob o capacete totalmente escuro. Assenti com a cabeça, minha expressão entre a indiferença e a curiosidade. Será que era uma peça de Ae Ri? Minha melhor amiga às vezes fazia brincadeiras às vésperas do meu aniversário, pedindo para me perguntarem dicas do que eu queria de presente ou entregarem papeizinhos com dicas do local onde comemoraríamos. Esse ano ela estava sendo silenciosa demais, fugindo do assunto quando eu perguntava se ela estaria livre para irmos à um noraebang qualquer, dizendo que talvez teria planos com o namorado. Seu comportamento me parecia um pouco estranho. De nós duas, ela era sempre a mais empolgada em comemorar o começo de mais um ano de vida, seja de quem fosse. Ae Ri sempre organizava as festas, das mais simples como o bolo surpresa que ela havia preparado para mim quando estávamos no ensino médio, às mais elaboradas, como seu próprio aniversário de 22 anos, quando ela economizara por anos para poder fechar uma das áreas vip de uma balada e convidar sua — um pouco extensa — lista de amigos para beberem e dançarem até onde os limites pessoais permitissem. Por um momento, senti saudades de seu timbre animado. Talvez eu deveria ligar para ela à noite.

Pisquei rapidamente, recobrando meu foco que se perdeu entre as memórias dos momentos divertidos com minha amiga enquanto o motoboy caminhava até o lado de fora do prédio para buscar minha tão misteriosa encomenda. Com uma caixa de papelão média em mãos e uma prancheta, a figura mediana em roupas pretas caminhava de volta em minha direção. Me adiantei para o lado de fora da recepção, pegando os objetos de sua mão de forma um pouco impaciente. Corri rapidamente os olhos sob os papéis presos em busca de algo que identificasse o remetente da encomenda, mas não achei... nada. Os papéis estavam em branco. Chacoalhei a cabeça sem entender o que acontecia ali e fitei o entregador em minha frente com uma expressão confusa, estendendo a prancheta cheia de papéis vazios em sua direção. Aquilo pareceu trazer algum comando à sua mente, que tateou os bolsos da jaqueta de moletom com as luvas de motoqueiro e retirou um telefone celular de última geração.

— Por favor, levante a caixa e sorria.

Minhas sobrancelhas se juntaram, intensificando minha expressão de confusão enquanto eu levantava a encomenda cujo ponto de partida eu sequer conseguia imaginar e meu rosto não conseguia formar um sorriso.

O clique da câmera foi seguido pelos movimentos rápidos do entregador de guardar o aparelho e tatear os bolsos novamente para em seguida esticar os dedos protegidos pelo couro sintético que envolviam um papel preto brilhoso cuidadosamente dobrado.

— Pronto, está entregue. — Pude ouvir a voz abafada suspirar em alívio e começou a se virar, indo em direção ao seu veículo. Como num estalo, pareceu se lembrar de algo e tornou a me encarar por debaixo do visor, se aproximando de mim como não fizera questão durante todo o tempo. De alguma forma, senti que seus olhos me fitavam com intensidade do lado de dentro daquele capacete e, em resposta, fixei meus olhos na viseira escura. Sua proximidade demonstrava que a figura misteriosamente familiar era alguns centímetros mais alta. Em um tom baixo, quase inaudível, a voz segredou:

desire - jackson wang  - pwpOnde histórias criam vida. Descubra agora