Prólogo

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Marco

Era a quinta vez que ele batia na porta e não obtinha resposta. Estava escuro lá dentro que mal se podia ver a sombra de qualquer coisa que ali existia. O cansaço da rotina diária já lhe pesava o corpo e o arrependimento de ter aparecido sem avisar o acusava.

Olhou novamente para o número da casa para ter a certeza se não teria errado a porta, mas as cores cremes e azul ceano das paredes não o permitiam levar essa história a fundo. Era óbvio que estava na porta certa, pois ninguém na sua inteira sanidade seria capaz de se esquecer da morada da sua namorada.

Com insistência e persistência, Marco continuou especado na porta tocando a campainha, com o buquê de flores nas mãos que aos seus olhos tendiam a murchar com o passar das horas. Deu uma olhada no relógio e surpreendeu-se ao constatar que já se passavam 30 minutos desde a sua chegada.

Sorriu consigo, perguntando a si se havia no mundo alguém mais idiota que ele, pois considerava loucura ficar mais de 10 minutos numa porta aonde por dentro só paira a escuridão e silêncio.

Rendido pela exaustão, sentou-se num dos degraus da escada e começou a discar um número no celular, mas sentiu-se decepcionado quando tudo que ouviu foi a voz programada da companhia eletrónica a informar que o número estava fora de área, pesquisou mais contactos e ponderou quando viu o nome da Medson, fez um compasso de tempo na expectativa de buscar uma certa sorte para que o dela também não estive desligado. Passou o dedo no contacto e ficou irritado quando ouviu novamente aquela voz. Suspirou confuso e olhou para trás como se a despedir-se da casa. Pôs-se de pé e caminhou até um dos cantos da varanda, pousou o buquê num vaso vazio e foi-se embora.

Na manhã seguinte, quando seus olhos já não pareciam tão cansados e a enxaqueca não mais se fazia sentir, levantou-se da cama e aprontou-se para mais um dia de trabalho.

Marco era o tipo de homem que amava o silêncio e se afastava de tudo que envolvia confusão. Sua vida era uma mistura de vodka e martine, não parece ter sentido algum. Sua aparência era invejável facto que o levava a nunca passar despercebido onde quer que ia. E embora pareçesse um alecrim doirado, seu carácter não deixa de ser duvidoso para alguns.

_ Pessoas perfeitas não existem Luk, só pelo facto dele ser tão bonito e charmoso não significa que ele não tenha podres que fariam qualquer pessoa querer deixar de estar ao seu lado.

A essa altura ele se distanciava com a sua bandeja de comida nas mãos procurando algum lugar para se sentar, mas nem os seus passos ou o barulho das diversas máquinas a funcionar ou até mesmo as vozes que se misturavam na copa o impediram de ouvir aquele comentário, e imediatamente sentiu uma pontada de dor no seu ego ferido.

Seja lá quem tenha dito tais coisas, estava minimamente certo, pessoas perfeitas não existem, até porque aparências podem enganar.

Embora sua vida quotidiana não lhe ofereçesse tanta diversão, ele conseguia fazer valer a pena, pois quando não podia matar saudades da sua mãe no centro da cidade depois de um longo dia de trabalho se dirigia a casa do seu Aba, o pai que tanto amava mesmo sabendo que este o tinha abandonado com sua mãe quando ainda era pequeno, para ir viver com outra família.

É verdade que ele nunca gostou dessa parte da história, pois de alguma forma essas lembranças ainda o fazem sentir-se rejeitado, porém com o passar dos anos ele aprendeu a encontrar formas de não se deixar murchar e ao invés de criar barreiras, construiu a ponte da reconciliação com o seu pai, mesmo que esta não tivesse bases tão seguras quanto as que construiu com a sua mãe.

Quando a luz do sol já se despedia, as portas do estabelecimento se fechavam, vozes aleatórias soavam e se podia ouvir o "adeus" e "até amanhã" dos seus colegas, embora alguns movessem na mesma direção entre sorissos e gargalhadas. Ele por sua vez, com sua mágica capacidade de sair sem ser percebido, sumiu na multidão até ao ponto em que seu carro se encontrava estacionado, e sem pensar duas vezes deu start e meteu-se na estrada.

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