Princess - Ziam Mayne (portuguese version)

Depende

Capítulo 20:

Estava ficando tarde e a gola do estúpido smoking que eu tinha de usar estava irritando as queimaduras no meu pescoço. Fiquei feliz por tê-los coberto, mas senti que ainda estavam visíveis para todos verem. A mera ideia de sentar com meu pai e agir como uma família feliz era repugnante . Era uma loucura, e eu não entendia porque tinha que fazer parte desse jantar.

"Liam, encontrei a gravata perfeita para o seu terno." Minha mãe disse ao entrar na sala com uma sacola de compras na mão. Ela ainda estava organizando alguns retoques de última hora, e eu admirava o quanto ela trabalhava.

"Ah, querido." Ela ofegou, levando as mãos à boca enquanto um sorriso enchia seus lábios. "Você está incrível." Ela disse, pegando a gravata e colocando em volta do meu ombro antes de começar a amarrar. Eu me encolhi quando a gravata esfregou contra o colarinho, empurrando para baixo na pele queimada.

"Você está bem?" Minha mãe perguntou rapidamente, olhando-me nos olhos com preocupação e eu engoli. Eu não gostava de mentir para minha mãe. Eu odiava a sensação suja que isso me dava porque ela sempre era tão sincera e encorajadora comigo. Como pude mentir para ela?

Mas era para mantê-la feliz.

"Estou bem. Apenas um pouco nervoso." Eu menti, a vergonha me enchendo enquanto ela sorria e ajeitava a gravata.

"Não fique. Você é meu menino lindo. Eu te amo, Liam. Desde que o médico colocou você em meus braços." Ela disse, beijando minha bochecha, e eu dei um sorriso falso para a declaração dela. A verdade era que suas palavras estavam me matando por dentro.

"Eu também te amo, mãe." Eu disse suavemente, vendo o sorriso dela com orgulho, e nós dois nos viramos para a minha porta enquanto meu pai estava lá, completamente vestido também. Ele estaria encenando esta noite. Ele fingiria que não me batia e me espancava até que eu sangrasse no chão do porão. Ele fingiria que nada disso havia acontecido. Mas eu não poderia dizer se ele era um bom ator.

"O bolo que você encomendou na loja está aqui." o informado, e minha mãe acenou com a cabeça para a notícia.

"Ótimo. Vou dar uma olhada." Ela respondeu antes de beijar minha bochecha mais uma vez e sorrir para nós dois enquanto ela caminhava até a minha porta. "Vocês dois estão ótimos. Estou tão feliz." Ela disse, beijando a bochecha do meu pai também antes de nos deixar a sós.

Ficou em silêncio entre nós enquanto meu pai olhava para mim com ódio em seus olhos, e eu evito meu olhar, olhando para meus sapatos. Era tão estranho eu ter que me arrumar para comer na minha própria casa, mas eu sentia que estava decente.

"Você pode parecer um homem, mas você não é." Meu pai disse com uma risadinha. "Você sempre será uma cadela inútil."

Suas palavras me fizeram estremecer, e eu sabia que ele havia notado. Pude ouvir o sorriso em sua voz quando disse:

"Mesmo em um terno você ainda parece um lixo. Mas eu acho que vai ter que servir. Vejo você lá... Filho." Ele cuspiu a palavra como se fosse veneno em sua língua, e eu senti a tristeza tomar conta de mim porque não o ouvia me chamar assim há muito tempo. E fazia ainda mais tempo desde que ele disse isso com orgulho e amor.

Filho.

 Como pode uma palavra tão simples significar tanto?

Observei enquanto ele se afastava, deixando a porta do meu quarto aberta, e me olhei no espelho de novo; o pouco de confiança que construí nas últimas horas diminuiu em um piscar de olhos. E percebi porque procurava os  danos me causados ao invés de olhar para quem eu era.