05 | Narcisos

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Wednesday não sonhou no dia anterior. Ou ao menos não se lembrava que tinha sonhado.

A única lembrança que martelava sua mente era o fato de que precisava encontrar o seu arsenal de armadilhas para levar a floresta mais tarde.

A Addams costumava deixar as coisas no porão, onde o seu tio Chico também deixava muita da sua coleção de instrumentos e armas medievais.

Quando era pequena, o seu tio tinha ensinado a usar o arsenal mais pesado, enquanto seu pai tinha ensinado ela e o seu irmão a lidar com o florete, que era um objeto tão leve, mas ainda que delicado, poderia ser fatal.

Wednesday acabou escolhendo a esgrima, mas seu irmão costumava dominar as armas de longo alcance, por mais pesadas que fossem.

A garota trocou seu pijama por uma calça e casaco, e foi direto ao porão, a fim de pegar algumas ferramentas emprestadas. Não queria que Pugsley notasse o sumiço delas, por isso foi antes que todos terminassem o café da manhã.

O acesso ao porão era através de uma escada de pedra, coberta de limo, e que poderia causar calafrios a qualquer outro ser humano.

A Addams apenas preocupou-se em não escorregar, enquanto procurava pelo interruptor de corda.

Quando finalmente conseguiu acender as luzes, não ficou satisfeita ao ver que a maioria das ferramentas de caça tinha sumido.

Tudo que ela conseguiu pensar foi em ir atrás de Pugsley, e na melhor maneira que teria de chantageá-lo a falar sobre os paradeiros daquelas velharias.

Ao voltar à mesa da cozinha, encontrou apenas sua avó, passando uma geleia verde no pão.

— Onde está todo mundo?

— Seu pai saiu. — A mais velha sorriu com os dentes pequenos. — O Tropeço está ajudando sua mãe com as plantas.

— E o Pugsley?

— foi com eles.

Wednesday cerrou os dentes, já que seu instinto estava certo. Seu irmão covardemente iria escorar-se em sua mãe enquanto fazia cara de coitado por ter escondido as ferramentas (que não eram só dele!)

A addams girou os calcanhares e bateu a sola do coturno pela casa, e quando chegou as proximidades do jardim, começou a deixar pegadas na terra fofa.

No fundo, seu irmão era muito esperto, porque além de armar aquela cena, tinha escondido os instrumentos, o que diminuía pela metade as chances de Wednesday acertar o irmão.

Wednesday apertou o passo quando viu algumas silhuetas perto da parede de vidro da estufa.

— Pugsley! — o grito da garota de tranças ressoou no ambiente parcialmente fechado, e apesar de direcionado, chamou a atenção de todos.

— Querida, não tem porque ficar assim... — Mortícia largou a carne que estava dando a sua planta.

— Tem sim, mãe. — Olhou para a mais velha. — ele pegou as coisas do porão!

— Ah, não foi o Pugsley. — respondeu sua mãe. — seu tio que levou pra missão dele.

— Mas aquela viagem não era algo rápido?

— Não exatamente... — A mulher ficou séria. — ele achou que seria fácil, mas voltou pra pedir reforços.

— O papai foi com ele?

— Sim... — Ela suspirou. — Não queria contar agora, mas foi o que aconteceu.

— Parece que cada um tem seus problemas, né? — o menino alfinetou.

Noite de Tormentas » WednesdayOnde histórias criam vida. Descubra agora