Apesar de sempre estudar muito sobre saúde mental e fazer terapia desde os 14 anos, sempre tive um problema sério com a possibilidade de usar medicação para a ansiedade.
Tenho uma rejeição mental a remédios que criou uma disciplina insana e insustentável por tentar ter bons hábitos e fugir a todo custo do estresse, da ânsia por mudança, de um mínimo de tranquilidade para passar pelos dias de forma mais leve.
No meio do ano passado, quase tive uma crise de pânico no meio de uma transmissão ao vivo. A coisa que eu nasci pra fazer. Percebi que tinha alguma coisa errada.
Ainda não temos a dimensão do impacto que a pandemia causou nas nossas cabeças. Quando tudo começou, em março de 2020, eu temi muito, além da saúde física, pela minha saúde emocional. No quanto o impacto de não poder me aproximar de pessoas que sempre me seguraram poderia ser devastador.
Consegui segurar bem as pontas, mas em outubro do ano passado, senti o limite do suportável ser levemente rompido no meio de uma das atividades que mais gosto de fazer na vida.
Lá fui eu, a contragosto, para o consultório do psiquiatra. Adiei esse momento por mais de 15 anos. Em muitos momentos fui bem sucedido. Em outros, vencido no cansaço. E o cansaço que me levou à medicação foi dos grandes pra conseguir me fazer mudar de ideia.
Me lembro de chorar enquanto tomava o primeiro comprimido do tratamento. Era uma sensação de derrota pra mim mesmo. Uma culpa de não ter "tentado" mais antes de apelar para a medicação. Repito: eu tentei por 15 anos.
As primeiras semanas foram de adaptação, mas depois, comecei a me reconhecer de novo no meio da bagunça que sempre ficou soterrando a minha sensibilidade e a personalidade real que sempre esteve ali, pedindo pra aparecer.
Escrevo esse texto em um dia que acordei feliz por nada. E não me lembro quando foi a última vez que isso aconteceu.
São mudanças sutis, gradativas, mas que vão devolvendo a vida pra gente. Ainda não gosto daquele momento de tomar a medicação, mas sei que é um processo transitório pra me levar a um outro ponto e, principalmente, pra me levar de volta à vida sempre que necessário.
Cada um tem um tempo, eu tive o meu. Mas não me arrependo. Nem de ter tentado sozinho, nem de pedir a ajuda da ciência. Tudo teve seu momento.
O que posso dizer é que o remedinho me deu sorte. Não porque me deu felicidade instantânea, as tretas seguem me perseguindo. Mas é que eu já consigo olhar pras tretas com a consciência de que tá tudo certo. A vida é assim. E segue o baile. Amanhã é outro dia.
O remedinho me deu a sorte de me reencontrar com o eu que sempre esteve ali, embaixo de uma pilha de coisas que eu não podia controlar sozinho.
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BEM-VINDOS À MINHA CABEÇA CAÓTICA
Não FicçãoAntônio Abujamra, grande poeta, ator e dramaturgo brasileiro, disse uma frase que me define: caminhando no incerto e idolatrando a dúvida. E acho que é assim que formo insights que, às vezes, me ajudam a ajudar alguém. Pra tentar entender a vida, eu...