Uma breve visita ao passado

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Após mais de dez anos estamos cara a cara novamente, ver meus pais na minha frente me causa náuseas. Sinto meu coração palpitar, minhas mãos suar e minha respiração ofegar. Todo meu passado me vem a cabeça, desde a minha pré-adolescência, antes de tudo, antes do caos, antes de eu ter me tornado quem eu sou, antes da Song Bae Jin ter entrado na minha vida e a destruído, antes deles terem me feito de idiota e tramado pelas minhas costas o futuro do meu filho, se dependesse deles o Jae nunca teria nascido, mem o fato de ser o meu filho os comoveu.
Ninguém ao certo sabe a minha história, nunca me abri para ninguém, quando vejo o meu filho me assusta o quanto ele parece comigo na adolescência, a diferença entre nós é o fato de que ele ainda acredita nas pessoas, apesar do passado dele ele possui uma capacidade de superação assustadora, ele consegue apesar de tudo seguir em frente e acreditar no futuro. É claro que isso se dá por intermédio do Sehun, aquele moleque é fantástico, inteligente, perspicaz, observador, aquele olhar observador e aquele comportamento alienado não encaixam, eu sei que ele é muito mais denso do que ele aparenta, não acredito que a MinJin conheça o seu filho de verdade, ele também me lembra do meu passado, aquela vontade avassaladora de ter e ser o que quer sem se preocupar com mundo, eu era assim! Mas meu comportamento é assim,  pois sei que metade não entenderiam quem eu sou, uma parte falariam para que eu superasse e seguisse em frente mas poucos me dariam razão, poucos experimentaram a vida como eu experimentei.
  Toda minha vida até o momento da ruptura era controlado, muito devido aos padrões da nossa sociedade patriarcal religiosa, onde a familia é o centro de tudo e tudo deve estar de acordo com a sua familia, os seus chefes de familia, os mais idosos, enfim, essa hierarquia onde devemos nos curvar a sabedoria dos mais velhos e aceitar as imposições feitas por eles, por um tempo me curvei a esses padrões pré estabelecidos, até não mais.  Foda- se, eu nunca fui assim, nunca fui uma marionete, controlada por cordas, eu as cortei e tudo isso devido a BaeJin e ao Jae.

Crescer em uma familia abastada é um tormento, há quem diga que minhas reclamações são coisas de adolescentes mimados, que não gostam de ser contrariados, mas não, é uma merda mesmo! Tudo era estipulado, planejado, orquestrado por eles, quem eu era e quem eu devia ser era apenas uma condição imposta por eles, eram as escolhas deles, os planos deles , meus pais decidiam cada passo, principalmente minha Mãe, ela era impiedosa, implacável,nas mãos dela eu era como um boneco do jogo The Sims, onde cada mínimo detalhe era escolhido, roupas, cabelo, personalidade, trabalho, eu nunca pude escolher qual esporte eu ia querer praticar, todos já estavam escolhidos, não podia escolher qual idioma estudar, qual roupa usar, com quem brincar, aonde brincar, era tudo decidido por eles, tudo. Eu tinha dois irmãos, um mais velho e uma irmã do meio, mas eles também eram controlados, era como se toda minha vida não me pertencesse. Antes dos seis anos eu já tinha pretendente, a Bora, filha dos amigos próximos do meu pai. Cresci com a presença dela desde sempre, ela sempre estava na minha casa com a sua odiosa e repugnante mãe, a melhor amiga da minha , nós brincávamos, não por gostar da companhia dela, mas por ela ser a única. Devido a isso ela sempre esteve lá comigo, sempre próxima a mim, a medida que crescíamos a vontade dela estar perto de mim aumentava mais e mais, ela era bonita, delicada, carinhosa, dedicada e estava presente e sempre se  fazia necessária. Eu me acostumei a ela e de certa forma fui inconscientemente me apaixonando ou me acostumando a sua presença na minha vida.
Quanto mais o tempo passava mais próxima ela estava, a minha curiosidade quanto ao sexo oposto aumentou e ela passou a suprir todas as minhas demandas e necessidades. Aos poucos fomos ficando íntimos, aconteceu o primeiro beijo, o primeiro toque, a primeira vez que vi seu seio ainda sem estar grande, enfim a nossa primeira vez..  Quando menos percebi aos 15 anos estávamos juntos, éramos um só e era confortável, estudávamos em colégios internos, ela em um só para moças e eu em um só para rapazes. Tinhamos um comportamento livre, falávamos sobre tudo, fazíamos tudo, ao ponto de experimentarmos tudo, álcool, sexo, drogas, é, tive uma adolescência conturbada, odiava o controle dos meus pais e ela também odiava o dos dela, éramos perfeitos nisso, disfuncionais, imaturos, irresponsáveis, ricos sendo ricos, sem nenhum respeito por ninguém que tivesse menos que nós. Até que um dia me meti em uma briga séria e acabei machucando seriamente alguns garotos no colégio, foi intencional, se pudesse teria tacado fogo neles, homofóbicos de merda, estavam há meses fazendo bullying com um garoto que havia sido transferido, aquele comportamento não era como o meu era pior, invasivo, abusivo, aterrorizante, o garoto estava sendo consumido por aquela dor e sofrimento e até eu que sempre fui um cara sem o menor apego a dor do outro me senti enojado e intervim, só que da minha maneira aos 17 anos a gente está a ponto de ser alguém na vida, era atleta, vencedor, era rico, bonito, um péssimo aluno, minhas notas eram medianas, sempre ignorei os estudos, afinal de contas iria herdar todo conglomerado do meu pai, isso se eu conseguisse crescer sem matar eles, nunca me preocupei com nada e com ninguém, nem mesmo com a Bora, pois ela era apenas fruto do controle dos meus pais e isso em parte me incomodava muito, eu naquele momento já estava querendo romper com ela também, mase faltava um motivo maior. É até eu ser transferido para outra escola, uma mista. A mesma escola que o Jae estuda hoje. Quando eu cheguei lá muita coisa mudou. Entrei para a equipe de natação e para a equipe de luta, pude começar do zero, fiz amizades e algumas inimizades que ao longo do tempo pioraram a minha vida. Algumas semanas depois de entrar no colegio para a minha surpresa a Bora havia sido transferida, juntos formamos um casal desejado, apesar de não ser bom nos estudos eu era um ótimo nadador e consegui muito a contragosto dos meus pais entrar para a equipe do colégio. Algum tempo se passou até que a minha vida deu um giro e tudo o que já era complicado ficou pior. Conheci a Bora , ela era uma estudante exemplar, linda, sorridente e rodeada de pessoas, todos a desejavam e ela sabia disso, ela era diferente, tinha um olhar voraz. Acho que era impossível não notá-la. Com o passar do tempo tive alguns problemas de convivência no colégio, os motivos da minha expulsão do colégio anterior vieram a tona e com isso eu fui retirado da equipe de natação. Meus pais haviam pago para o colégio abafar meu currículo escolar mas algumas fotos vazaram e os boatos se espalharam devido ao quadro de saúde que um dos garotos ficou. Bem, não me arrependo de ter arrebentado eles, mas naquele momento eu havia provado de um ensino diferente, pessoas que estavam ao meu redor sem serem bajuladores por saber da minha real classe social. Com isso não apenas a violência foi exposta mas o fato de eu ser muito rico, isso aumentou alguns olhares e algumas aproximações. Como eu havia dito ser rico não é nada fácil, nunca sabemos quem se aproxima por verdade ou interesse. Tanto eu quanto a Bora fomos expostos, na verdade só souberam de mim por causa dela. Devido a isso algumas pessoas se aproximaram de nós, na verdade dela. Certo dia a vi com um jogador do colégio aos beijos. Eu não acreditei no que havia visto, fiquei revoltado mas de certa forma aliviado. Nesse dia esbarrei com a Bae Jin, ela me viu atordoado e veio ao meu auxilio.
Ela era doce, muito meiga e passou a estar sempre próxima, sempre aberta ao diálogo, ela me entendia, com ela pude ser eu mesmo e com isso a levei para o meu mundo. Nós saíamos depois da aula e nossa relação de amizade foi se estreitando mais e mais. Ela vivia rodeada de muitos e um dos caras que estava sempre com ela era o cara que eu vi com a Bora, enfim, naquela época não liguei os fatos, mas a aproximação dela e os eventos que culminaram a traição da Bora estavam todos arquitetados por ela.
A Bora conseguiu provas, mas naquele momento eu estava cego se amor por aquela garota maravilhosa que me completava. Namoramos até o final do ensino médio e ela passou para a faculdade de direito.
Poucos sabiam mas a BaeJin vinha de uma familia muito pobre, mas ela era muito estudiosa, ela era bolsista e sempre estava bem arrumada, sempre impecável, tudo as custas dos admiradores, o diretor Lee era um deles, um nerd que vivia atrás dela. Ela tinha todos nas mãos e eu não percebi até o momento em que tudo desmoronou.
Eu havia passado para a faculdade de Administração de Empresas e relações internacionais, havia sido obrigado, quase não passei, mas a Bae me ajudou e com isso eu passei. Ela sempre queria conhecer meus pais, mas eu evitava a todo custo. Até que um dia ela me informou que estava grávida. Foi o maior susto da minha vida, eoa estava desesperada, eu estava eufórico, nossa fui capaz de fazer uma vida, acho que aquela noticia me fez querer ser tudo que eu não tive com os meus país, desejei dar um lar digno a Bae e ao meu futuro filho. O que eu esqueci de dizer é que desde o fim do meu relacionamento com a Bora minha vida familiar havia virado um inferno. Na verdade meus pais fingiram que aceitaram minha decisão de namorar outra pessoa, bem fingiram. Até que fui comunicado do meu noivado com a Bora. Naquele momento eu surtei, disse que não iria casar com ela, que eu amava outra mulher e que ela estava esperando um filho meu. É, foi o pior erro da minha vida.
Nesse dia fui espancado pelo meu pai , daquelas surras de deixar você acamado, enfim, fiquei mais de a semana incomunicável.
Quando retornei a faculdade, tentei entrar em contato com a Bae e ela estava abatida, meus pais haviam a visitado. Eles quase forçaram ela a abortar, lhe deram dinheiro ela negou, disse que me amava e amava o filho, e com isso tive a certeza de que ela me amava. Decidi sair de casa e me casar com ela, não registrei ela no livro da família, fomos para os USA e nos casamos lá, mas ela não estava nos  registros da familia, meus pais se negaram e a visitaram diversas vezes. Ela estudou ate quase dar a luz, quando ela teve o bebê estava quase no final da faculdade, e ela retornou meses depois e concluiu com merito e foi para um escritório de advogados super conhecido em Seul. Eu terminei minha faculdade com dificuldade, estudava a noite e trabalhava de dia, o Jae ficava com uma babá. Dei uma otima vida a Bae, pois tinha algumas heranças, então mesmo que rompido com meus pais eu continuei a ter dinheiro, mas ela sempre queria que eu retornasse para a familia, insistia em que minha familia visse o Jae, e mais uma vez ao fazer isso errei demais. Minha familia em um primeiro momento me aceitou de volta, mas só com o Jae, sem a Bae, eles queriam que eu me casasse com a Bora e registrasse o Jae como filho dela, eles humilharam a Bae e ela decidiu ir embora, levando meu filho, me desesperei, essa não foi a primeira e nem seria a ultima vez que ela usaria o Jae contra mim, na verdade usaria o Jae como moeda de troca.
Meus pais enlouqueceram, meus irmãos não deram netos a eles, o Jae era o único herdeiro e a Bae sabia disso, tentei afastá-los e fomos para Icheon, nos estabelecemos lá, foi difícil, a Bae viajava para Seul toda semana a negócios, e as traições começaram, a Bora, me mostrou fotos e eu não quis acreditar, nossa vida era aparentemente feliz, decidi me alistar e ali minha vida se resignificou, aprendo a ter respeito, a ter foco, a lutar pelo que eu queria. Eu estava feliz, já a Bae havia se tornado outra pessoa. Meus pais e a Bae tiveram diversos confrontos e a Bae passoa a  extorquir eles e eles na expectativa de que ela fosse embora pagavam o preço, até que ela foi e levou meu filho, tudo contra o acordo deles, o Jae tinha dois anos, fiquei mais de seis meses sem vê -lo quase enlouqueci. Meus pais a acharam e tentaram retirar a guarda dela, mas naquele momento ela estava envolvida com o dono do escritório de advocacia dela e ele era mais um que estava mas suas mãos. Consegui recuperar o Jae e retornamos, mas ela me traia e eu sabia, mas não importava, tudo que eu queria era estar perto do meu filho. Meus pais nos atormentaram e a Bae reagia se destruindo e destruindo nossa relação, ela estava enlouquecendo, e eu sabia disso e a internei por diversas vezes, ate o dia que a vi quase matando meu filho, naquele momento decidi sar o que ela quisesse para que ela deixasse meu filho em paz, vendi toda a minha herança, milhões de wons, não me importei, ela assinou o divorcio e quando o Jae tinha quase seis anos me livrei dela. Ela se foi. Mas meus pais ficaram e com isso eles acharam que teriam o dominio da minha vida e da do Jae, eles tentaram pegar o Jae, fizeram manobras na justiça e eu decidi ir embora, decidi largar tudo e começar uma nova vida com meu filho. Deixei para trás a minha história, o meu passado, para começar de novo, mas fui perseguido e decidi sair do país. Anos depois estou de volta e meu passado está na minha frente, mais velhos, mas com aquele olhar de sempre de quem quer algo, na verdade quer alguém, eles querem o meu filho, a minha vida, e isso eu não posso permitir.

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