ᴄᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ ɪ - ᴍᴀʀᴇsɪᴀ

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Em uma noite fria nos mares de Wareham, um navio imenso de pesca pode ser notado como o único objeto sob o oceano. As nuvens avisaram aos marinheiros que uma grande tempestade estava por vir, os ventos faziam o transporte ir de um lado a outro causando maresia em qualquer um de estômago fraco, mas isso não cabe aqueles tripulantes, pois os mesmos eram muito diferentes dos humanos que definitivamente, já estavam enjoados com o primeiro balanço.

Criaturas consideradas de segundo escalão faziam parte dessa missão, elfos, ogros, e alguns híbridos com aparência humana e de outro animal. Dentre eles, se destaca um antigo ceifador de aparência, um jovem de 23 anos, ninguém diria que possui mais de 200. Escolhido pela rainha como o comandante da missão, porém não como gerenciador do navio. Ian é como o chamam...

-Temos, respectivamente, um mês para conseguirmos capturá-lo, acreditamos que até lá, os outros consigam os próximos ingredientes. Espero que sejam profissionais, capitão. -Diz Ian, no cais do navio.

-E vamos ser, fizemos o que mandou. Utilizamos as poções para inibir o encanto. -Os dois se cumprimentaram, e o ceifador seguiu para sua cabine.

Os navegadores estavam em busca de algo precioso, um ser que vive nas profundidades do mar, metade peixe e metade humano, os mais comuns eram os "machos", que também é o que estão à procura. Para impedir o famoso encanto de sereia, uma magia em forma de bebida foi delimitada aos homens, menos ao Ian, que é um dos poucos seres que inibe essa sonora canção.

Em sua cabine, o ceifador inicia seu diário de bordo como todo escrivão e pesquisador da realeza, mesmo se sentir desconfortável com pouco espaço no oceano, sempre estava em busca de novas descobertas, principalmente sobre seres que muito pouco se sabia. O espelho em sua escrivaninha reflete seu físico, cabelos originalmente platinados, e tatuagens que obteve ao se transformar em ceifeiro desenhando o pescoço, costas, braços e mãos do mesmo.

"Me indago sobre essas ordens da rainha... Apesar de compreender que devemos assegurar sobre a segurança do reino. Entretanto, parece arriscado mesmo para uma fada completa."
Rasgo a folha assim que tomo consciência. Não estou sendo parcial como deveria, devo me concentrar apenas nos fatos, e ignorar as minhas dúvidas internas. Assim evito conflitos.

[ . . . ]

Um barulho na porta me desperta do sono, parece que dormi sobre os papéis, sinto em meu paladar um gosto amargo, quem batia na porta agora está chamando meu nome, levanto-me e vejo quem é.

-Senh... Oh, sinto muito, o acordei?

-Sim, estava tendo um daqueles cochilos onde sua consciência cria um cenário fictício.

-Sonho?

-Isso, sonhando. Mas o que quer?

-Capturamos algo, pode me seguir para o convés? -Vesti uma camisa longa e sai apressado do quarto, o navio estava cheio de lamparinas, pois nem a lua ousou-se a nos iluminar nesta noite.

A ventania movimentava o cabelo do ceifeiro e suas roupas leves, e em seu rosto podia ser notada uma expressão surpresa ao ver em uma rede uma figura, uma sereia desacordada. Uma cauda enorme azul e cintilante poderia ter chamado sua atenção, mas apenas focou no rosto da mulher, uma pele morena e cabelos pretos era o que notava, mesmo a sereia com os seios à mostra, reparava somente no seu semblante.

-Ela está viva? -Indagou, Ian.

-Está! Parece desmaiada, mas ainda podemos verificar o que eu acho que seja seus batimentos cardíacos. Ela enroscou na nossa rede, pensamos que fosse um peixe grande por conta da cauda...

Incrédulo, Ian parecia desacreditar que, em menos de uma noite, poderiam ter concluído a missão. Ordenou que, com cuidado, colocassem ela amarrada em uma espécie de banheira, na esperança que acordasse de imediato.

[ . . . ]

Ao abrir os olhos, a mulher questiona onde estava e como teria ido parar naquele local, apenas uma tocha iluminava o ambiente, quase não enxergava nada mas percebe que está amarrada, e ainda sente o aroma do oceano. Vozes ecoam fora do cômodo, suspeitando que tenha sido capturada por marinheiros, faz a única coisa que acredita que a salvará daquele lugar, cantar.

Do outro lado do transporte marítimo, Ian estava tomando consciência do último acontecimento, quando sente uma tontura ao ouvir um som, sua visão fica turva e se sente perdido por alguns instantes.

-Que raios foi isso? -Levo meus olhos ao céu, não deve ter sido nada. Melhor voltar a dormir novamente.

Ao chegar próximo a cabine, vejo um tripulante próximo a beira do navio, parece inconsciente, perdido na sua própria mente, como se tivesse sido... enfeitiçado?!

( . . . )

Me sinto fraca e exausta, a pancada na minha cabeça deve ter causado isso, consigo cantar mas não como normalmente. Deveria ter usado menos forças para me livrar dessas correntes... Ouço passos próximos... mas minha visão está embaçada, mais do que antes... preciso permanecer acordada, como vou... como irei conseguir me defender assim... A porta se abriu, rapidamente sinto uma temperatura maior próximo a mim, uma figura de cabelos platinados parecia me encarar quando minhas pálpebras se fecharam sem minha autorização, mas meus ouvidos pareciam alertas a uma voz grave.

-Não durma por favor, precisamos de você, aqui e agora...

Um tom de preocupação saiu dos seus lábios, levantei minhas mãos para tentar tocá-lo, em vão... E então, adormeci novamente.

Cᥲρtᥙrᥲ ᥒ᥆ C᥆rᥲᥣ - 𝑊𝑎𝑟𝑒ℎ𝑎𝑚Onde histórias criam vida. Descubra agora