ᴄᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ ɪᴠ - ᴄᴏʀᴀɪs

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Na sala do trono poderiam ser encontradas peças de alto valor, paredes repletas de esculturas cravadas, estátuas de cavaleiros e uma quantidade imensurável de quadros. Detinham pinturas antigas e atuais das gerações do rei e da rainha, quadros de momentos históricos importantes para o reino de Wareham, entretanto a rainha Audrey não ocupava seu tempo os observando.
Ela encarava um dos quadros mais chamativos em questão de cores, traços largos e firmes, com uma imagem fictícia retratada, um ser de três cabeças com seus corpos grudados, obtinha quatro pernas, dois braços e uma cauda, uma crista em uma das cabeças, asas, mais o rosto de um humano. Era difícil de se descrever, mas muitos sabiam da lenda do tridente, era dito que esse ser poderia trazer o declínio de Wareham, Audrey relutava com sua mente em acreditar na existência dessa criatura, mas como uma boa aristocrata se preveniu de obter um lugar seguro para caso essa profecia realizar-se. Tolo quem pensa que ela protegeria seus súditos, nascida em berço de ouro, criada para ser egoísta, preocupada somente com sua beleza, segurança e riqueza. Audrey voaria aos céus somente para ficar no topo e se sentir superior a qualquer um, não importa quem seja, apenas saúdam a rainha se ainda quiserem permanecer com suas cabeças.

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Nosso corpo é feito para ser alimentado todos os dias, também em poucas e poucas horas, assim ele consegue trabalhar corretamente, impossível lutar contra seus instintos. Então me alimentei ontem e hoje, me sinto menos fraca por conta disso, necessito ficar em forma se desejo sair daqui, estava ansiosa e pensativa sobre meus próximos dias.

As portas se abriram e fizeram um barulho agonizante, vi a sala ficar vazia pois os guardas foram embora. Pude ver a figura do ser que tinha conversado comigo, Ian, acredito que seja seu nome.
Ele estava com uma camiseta com manga curta, dava pra notar algumas "tatuagens" que obtinha, quando vinha em minha direção, percebi um pequeno sorriso em seu rosto, aparentava estar contente com algo. -Que bom que compriu com o que foi prometido.

-Haviam de me recompensar se fizesse isto.

-De fato... Faça sua pergunta.

-Me conte, onde estou? Isso é uma ilha? -Ian explicou detalhadamente, sobre o reino em que estamos, localidade e até mesmo a quanto tempo foi fundada, eu não sabia que este lugar existia.

-O sistema que têm é o feudal. -Inclinei a cabeça, nem sei o que isso significa. -Acho que te disse mais do que deveria, acredito que também possa lhe perguntar algo também, como devo te chamar?

-Prefiro não comentar.

-Que cruel! Eu te disse meu nome.

-Pois, não lhe pedi para me dizer, e nem me recordo qual seja.

-Então não irei responder sua próxima pergunta. -Ele cruzou os braços e me encarou.

-Espera aí, não foi esse nosso acordo, eu iria me alimentar corretamente e você iria tirar minhas dúvidas. - O encarei da mesma forma.

-Se lembra da proposta com tanta veracidade, tenho certeza que não se esqueceria de um nome importante tão rápido assim.

-Você é muito soberba.

-Talvez, todavia, me diga, são apenas três letrinhas. -Ele fez os números com os dedos.

Revirei os olhos. -Ian, é o seu nome.

-És bem sagaz e eloquente. Todas as sereias são assim ou você faz parte de uma raça específica? -Fiquei em silêncio. -Já que recusa-se em me dizer seu nome, pelo menos me diga isto, e assim permaneço com o acordo.

-Olha... não temos distinções raciais, mas cada região se diferencia em algum aspecto, alguns tem mais barbatana, caudas maiores ou menos, algumas têm venenos ou um rosto menos humano. A maioria consegue viver bem tanto em água doce, quanto salgada, e conseguem conversar a partir de qualquer idioma.

-E você? -Parecia atento a cada palavra.

-Não tenho veneno, minha cauda é mediana, prefiro viver em águas salgadas, e também consigo conversar dependendo da linguagem. Acredito que faço parte das que mais se parecem com os humanos, a maioria do nosso interior é semelhante com os deles, mas evitamos viver parecido com o conceito de civilização para vocês.

-Um segundo, estou anotando o que está dizendo.

-Por qual motivo?

-Sou curioso por natureza, não costumo me interessar por muitas coisas mas diria que você realmente me fascina. Diria que é viciante, talvez do modo que fala, ou o pouco que se sabem sobre sua espécie, não importa, já vale muito a pena está tendo essa conversa, me sinto escolhido de alguma forma. -Ele fechou o caderno, parecia ter finalizado.

Pela maneira como Ian expressou-se, parecia que queria uma resposta minha sobre isso, e foi o que fiz, apenas permaneci quieta. -Irei voltar amanhã, fique tranquila nossa conversa permanecerá em segredo, cuide-se, senhorita. -Ele se virou de costas para ir embora.

-Ellisella.

-O que disse? -Ele se virou para mim.

-Meu nome é Ellisella.

-É um belo nome, por acaso tem alguma relação com uma espécie de coral? -Confirmei com a cabeça e ele sorriu para mim. -Então, cuide-se, Ellisella.

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Cᥲρtᥙrᥲ ᥒ᥆ C᥆rᥲᥣ - 𝑊𝑎𝑟𝑒ℎ𝑎𝑚Onde histórias criam vida. Descubra agora