Pensamentos

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Membro Fantasma

Eu nunca fui daqui
Ou dali

Ou nunca soube donde vim


A solidão sufoca
E para quem a desconhece
Só dói


É a dor do ausente

Que nunca foi
Mas machuca

E ali sempre esteve


Dor fantasma

Do presente que nunca esteve 


Diz a Música

Que é difícil amar sem ser amado
Me pergunto como saber
Mas se sabe mesmo sem reconhecer

Não digo que é falta

Não em totalidade
Só longe demais para suprir

O tanto que tenho necessidade
Uma carência
que nos transparece imaturos
Como se o ser

Fosse benefício só da infância

Queria ser livre

Mas a dor me amarra
De nunca ser tudo

Sou aquela de todos
Mas de ninguém
E eu só queria agora
Aprender a ser de mim


Renascer


Sinto- me perfurada
Tal como um peixe no espeto
Sinto-te em cada parte de mim
Como pode estar presente assim
Consumir-me a teu gosto
Sinto-me assar
E a quentura traz-me a vida
Não quero mais a dor
Se me entregar ela me levará
Pergunto-me se será calmo
Se terei silêncio
Saio daqui
Não me matará assim
Deito-me como um feto
Buscando renascer
Reaprender a respirar
Sem a dor
Deveria levantar agora
Mostrar a força
Que venci
Me enrolo
Tem uma coberta
Pergunto-me da onde veio
E durmo


Ora Vista

Me espanta que venha a doer o que já nem consta
A Casca deveria há anos formada
Porque me aporrinhas
como se de hoje fosse o trauma?
Não se vê que é só mais uma?

A que sempre abre
Sem nunca cicatrizar

Infantil deixa ver
Pode ser
Pois ainda choro pelo que já nem tem casca a nascer
Dizem que a infância nunca nos deixa
Será, portanto, uma maldição
Suas dores ecoam
Laceram e se reabrem
Nunca se curando
Busquei ter ao lado
A quem a mim quisesse

A busca que se inicia ao nascer
E segue nos atormentando

De querer o amor ainda que não brotado
Mesmo que só pintado ou dito
Mas que se sente
Que nunca está
Ou ali estará


Sobra Daqui e de Lá

Nunca fui eu
Tudo que queria de mim
O amor de mãe inabalável
O amor do pai unificado
Era dali o que devia
Daqui o que sobrava
Era alguém sem razão de ser
Faltavam-me as peças
Daquelas que fazem ser
Busquei o amor sem amar
Mal durava o tempo de se ser
O que se cria do barro
Sem forma, razão ou porquê
Tentei então me achar
Dentro o que me foi dado
Não combinam ou fecham a questão
De luto de mim, sinto-me farta
Cheguei mais do que em outros se viu
Ainda que seja só meu esse alento
O tomarei com paixão
Daqueles que nunca comigo sonharam
Tampouco comemoraram
A força a dor se encarrega
Mesmo a querendo de mim retirar
De ser sobra daqui e de lá
E toscamente buscar se amar


A Tampa do Abismo


Dali vinha um sussurro
Com carinho e amor
Daqui o silêncio
Por anos tentei gritar
Nada vinha de nenhum lugar
Queria a palavra
O sentimento
O orgulho de ser
Já cansada, clamei pelo sussurro
Ouça-me
Responda-me
Para sempre ele se calou
Aprendi a esconder a voz no sorriso
Ele sempre estava ali,
A tampa de um abismo
Que cresceu demais e me devora
Não sou daqui ou dali
Sou só
Sou eu
E só 


Meus poemasOnde histórias criam vida. Descubra agora