“Devo ter dito que o sr. Wilbold ama muito e sofre muito, não foi diferente com a srta. Linton. Ele a amava intensamente e ardentemente, ela se tornara sua vida e sua alma, e ninguém pode viver sem a vida ou a alma. A visitara durante três meses, todos os dias. O luto da jovem sumira e todos os dias recebia o rapaz com entusiasmo, até o dia de seu aniversário de dezesseis anos.
O vampiro ciente da data, escolheu os livros que mais gostava de sua biblioteca e comprou um lindo buquê com dezesseis flores. Surgindo na sacada de sua Lilian, que estava em seu quarto escovando seus cabelos cacheados, se mostrando contente.
‘Eis me aqui, meu anjo’ Ao ouvir, a dama veio correndo ao seu encontro, surpresa com os presentes. Folheou os livros e após um longo instante encarou o companheiro.
‘Estes’, iniciou sentindo a necessidade de se explicar, ‘são os que mais gosto!’
Ela se afastou, com a respiração alteradíssima! Seu rosto se tornou pálido e suas mãos tremiam...!
‘Quem ou quê tu és?’ requiriu.
‘Como é?’
‘Benjamim lê apenas livros católicos, nunca leu ou jamais lerá livros seculares! Foi um voto a Deus! Tu não és meu Benjamim! Quem tu és?’
O vampiro ficou em silêncio, mas em seu pobre coração, sentia várias coisas. A mulher não parava de ralhar com ele, o seu coração se encheu de um desejo possessivo e egoísta. Esse era o coração do sr. Wilbold, solitário, egoísta e carente. Estava no topo da cadeia alimentar, achava que ia conseguir tudo o que queria. Segurou as mãos da srta. Linton e fez sua egoísta declaração de amor.
‘Lilian, meu anjo! Como pode ralhar comigo desta forma? Quem lhe dá direito de despedaçar meu pobre coração? Não vê?! Tu és minha vida, minha alma, como posso viver sem tu?!!!! Agora que descobriu, nunca mais poderá me deixar, meu amor, não serás mais srta. Linton e sim sra. Wilbold. A SENHORITA É MINHA!!!’ caiu de joelhos, puxando a barra de sua camisola. ‘Foi a única que em meus dezessete anos me entendeu, mas agora, que sabe, fugirá de minha companhia! Então irei levá-la comigo, e você vai me amar se já não me ama! E nos casaremos!’ ele fez uma pausa. ‘Não! Eu vejo! Tu me amas, eu vivo em ti, e tu morreria por mim! Ah, Lilian, como eu te amo...! Te amo tanto!’
A pobre Lilian pôs-se a chorar ao ouvir tais palavras, e o vampiro vendo-a chorar, chorou com ela.
‘Minha amada, tu não sabes! Meu amor por ti é tão forte, que deixei de beber sangue, angustiado e agoniado. Fiquei fraco e doente! Mas, quando comecei a vê-la, voltei a me alimentar, não de humanos, mas dos porcos! Voltei a ser feliz. Como pode pensar em me deixar? Certamente morrerei se isso acontecer. Sei que sou uma aberração, mas não é difícil me amar. Me ame um pouquinho a cada dia, cada lua, mês, cada inverno... e eu irei explodir de alegria! Te darei tudo o que quiseres, pois já me amando basta; não importa o quanto.’ Ele pegou as mãozinhas dela e as beijou com solenidade.
A menina se horrorizou ao perceber que estava na presença de um vampiro, um vampiro que a amava e a adorava, e que nunca mais a deixaria. Ela via vampiros não como aberrações, mas como demônios! E aquele em sua frente, era o próprio diabo, dizendo tais imundices como fez com Cristo no deserto. Começou a rezar o ‘Padre Nosso’ em sussurros. Sr. Wilbold ouvindo, se ergueu entristecido; sabendo que reza alguma o seguraria, agarrou a jovem e pulou da sacada com ela. Suas enormes asas se abriram e começaram a planar, um nevoeiro de morcegos os envolveu. Lilian quis gritar, mas sua voz sumira, enquanto vivia o extremo horror... na mente do predador, aquela era uma cena inédita de amor e triunfo; seria mais ainda se ela o amasse.”
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O Ser Carente e Egoísta
Short StoryO vampiro Edgar passou sua vida inteira mergulhado em uma solidão contínua de dezessete anos, até, por um erro de um cupido, cair de cabeça em uma intensa paixão. Uma curta estória sobre um amor egoísta e possessivo, que se passa em meados do sécul...