Quatro

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Ainda deitada, lembro dos acontecimentos da noite anterior. Pensar em viajar para um lugar que nem sei o nome, ou o simples fato, de ir com quem mal conheço, e que estou meio que fugindo, faz com que o sono não chegue.
Não sei no que acredito. (Se é que eu acredito algo). Mas sei que tudo não é um engano. Sei que não houve erro na noite passada.
Caminho até a janela do meu quarto. Vejo que a neve já começa a cair. Coloco a mão na janela e penso nos meus últimos sonhos. Na minha mãe. Mesmo sem a conhecer pessoalmente. (Por que não é possível, considerando que ela esta morta). Tento me colocar no lugar dela. Ver o mundo como ela via. Tentar me ligar a ela de alguma forma.
De repente, Daniel bate na porta e entra. Ele me olha completamente assustado e acho que com... admiração.
___ O que houve? __ digo com medo da resposta.
___ Clarisse... Não sabia que era capaz de... Não sabia que você teria tal dom.
___ Do que está falando? Que dom? Não tenho dom. __ digo entre dentes.
No mesmo instante, ele me puxa e leva até o espelho. A princípio me recuso a olhar, mas quando ele insiste, não consigo me mecher. Perco totalmente o foco do que à ao meu redor e ando até tocar o espelho. E eu a vejo. Eu vejo ela.
___ Eu... eu... Não sou eu... Não pode ser, não tem como ser. Não é possível!___ Quando grito a última parte, me vejo no espelho. Vejo a mim. E não a minha mãe. Acho que foi apenas minha imaginação.
___ Não foi sua imaginação. Você mesma fez isso. Você se transformou em sua mãe. Era ela não é verdade?
Confirmo com a cabeça. Era ela! minha mãe morta!!! Na frente do espelho. Meu corpo como o dela. Eu era ela.
Ainda impressionada, ele me diz que esse dom é raro. Só pessoas da linhagem do mestre tem esse dom. Me ponho a chorar como uma criança de dois anos.
___Eiii o que houve?__Daniel pergunta preocupado.
___ Tudo ta mudando! Não sei o que irei fazer nessa colônia, e porque meu pai não me contou isso antes? Porque só agora? Que dom? As vezes acho que estou em um simples grande sonho. __Falo entre lágrimas.
___ No começo de tudo, Deus demorou sete dias para fazer o mundo. E depois quando ele terminou criou o homem e a mulher...
___Já ouvi essa história. __interrompo Daniel.
___Deixe terminar? Depois de uns séculos Deus viu que apesar de tudo que criou, precisava de algumas pessoas para ajudar a manter o equilíbrio do bem e o mal. Naquele tempo, havia muitas guerras e espíritos ruins, que causavam esses confrontos e muitas mortes. Deus observou atentamente cada um de seus filhos. E viu um rescenascido, muito pequeno, frágil, que não passaria de alguns dias. Enviou um de seus anjos à criança, e este depositou a visão no menino. A verdadeira visão. E com a visão, um dom, para que esse pudesse trazer um pouco de paz ao seu mundo. Ao passar dos anos o garoto cresceu, e enfrentou todos os espíritos ruins, todos aqueles que traziam discórdia. Ele se casou e teve filhos, e seu dom foi passando para todos que tivessem seu sangue. E aqui estamos nós. Descendentes de Herrem.
___Então é essa a história verdadeira?__pergunto.
___Essa é a parte da história que não foi contada. Muitos naquela época praguejavam à Deus por ter escolhido Herrem, mas o que não entendiam era que Deus só escolheu aquele pelo seu coração. Que era puro, sem nenhuma maldade. Depois de um tempo, seus descendentes viram que não ajudava em nada eles saberem disso. Só causariam confusões e entrigas.
___E esses espíritos ruins? De onde vieram?
___ antes de Deus criar a terra, ele criou os anjos. E como seu braço direito o estrela do amanhã. Logo que Deus criou seus filhos, o estrela do amanhã se revelou contra Deus, com inveja de tudo que ele fazia. De toda sua luz. Ele queria esse resplendor pra si. Assim se uniu a terra, e ajudou à povoa-la, seus descendentes nasceram com a mesma irá que seu pai carregava, trazendo discórdia, inveja, maldade. Mas o que se podia esperar dos filhos de um demônio? Chamamo-os de espíritos ruins, demônios, pelo fato de desde que nasceram não trazem luz consigo. Essas guerras vem durando desde de a aurora dos tempos. Desde de... sempre.

___ Nossa... muita coisa a assimilar. __digo.
___Quando descobri meu destino, o que eu era, foi em uma época extremamente difícil. Não acreditava em ninguém. Consumido pela dor. Quando Raf me ajudou a entender tudo, foi como se fosse algo para me salvar. Enfim, está com fome?

Daniel tenta não demonstra a dor que é de falar naquele tempo, mas posso ver em seus olhos que aquilo ainda doi.
___Sim... __ele vai até a porta do quarto.
___Bem, então se troque, teremos um longo dia.

***

Depois de comer, saimos do apartamento e vamos até a casa de Raf. Lá Daniel explica o que aconteceu, e diz que o plano é voltar para a Colônia.

___Ele também me contou... como tudo aconteceu. ___ interrompo a conversa abrindo pela primeira vez a boca.
___Você contou pra ela a lenda?__Raf olha pro amigo
___Contei, cedo ou tarde ela iria saber.
___Isso é perigoso Daniel. Ela não tem treinamento. Ela só sabe a lenda, não do que é realmente capaz de fazer ou do que terá que enfrentar.
____ Eu sei... Então precisamos sair daqui pela madrugada. Assim é mais difícil de desconfiarem de algo.
____Certo, certo. Chamarei a Kendra.
____Vamos nos encontrar no meu apartamento.

Depois de sair da casa de Raf, vamos para um prédio abandonado, que parece ter uns vinte andares.
___O que vamos fazer aqui? __pergunto.
____Bem, para chegarmos à próxima cidade precisamos de um carro. ___ele diz com um sorriso carinhoso.
___Parece que você não vai mesmo me dizer onde vamos não é?
___Clary, vamos para a Colônia. Ela é o tudo e o nada. Aqui e lá. Impossível te dizer o ponto exato para você.
____ E como vamos chegar lá então?___pergunto com a certeza que está me fazendo de boba.
____iremos até a próxima cidade de carro. O que vai demorar umas oito horas. Vamos pegar a balsa, e falaremos com Phil. Ele que sempre nos leva para lá. É o único que sabe sua localização. Ele é o guardião.____ Nesse estante, ele está abrindo as portas da frente. Não digo mais nada. Dentro do salão de entrada, há várias pessoas. Tudo é lindo e gracioso. Flores de todas as cores e espécies. No canto do salão à um lindo piano de calda branco, e uma menina o tocando.









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