1. HANAZAWA-KUN, ENSINE-ME A SER UM BOM NAMORADO!

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Shigeo Kageyama facilmente rendia-se ao sono em preguiçosas manhãs de segunda-feira.

Contudo, desta vez é diferente.

Sentado sobre a cama desfeita, massageava a bochecha esquerda com lentidão, os olhos estavam desfocados em algum canto do quarto mal iluminado, era por volta das 6h10 da manhã; ouvia-se o canto de alguns pássaros do lado de fora e o tum-tum insistente do coração dele dentro da caixa torácica.

Estava quente ali. Na verdade, tudo estava quente: suas mãos, seu rosto, seu peito, sua barriga... E, não, não tinha nada a ver com o fato dele estar trajando um pijama azul listrado de manga comprida, nem por ter passado as últimas nove horas enrolado num cobertor macio. O calor que brotava em seu peito e ia para todo o corpo, tinha a ver com Tsubomi Takane.

Shigeo desceu as escadas lentamente, praticamente se arrastando, sem conseguir tirar a mão da bochecha. Sentou-se à mesa e olhou de relance para a figura do irmão mais novo, Ritsu Kageyama, fazendo panquecas na frigideira. Ele já estava vestindo o uniforme - pontual como sempre.

- Bom dia, maninho! Acordou cedo, tudo bem? - falou Ritsu, colocando as panquecas que havia preparado sobre os pratos.

- Bom dia... - respondeu com a voz distante

- Você está bem?

- Estou... - disse, pegando um garfo e desenhando corações na panqueca como se fosse um lápis - Ela me beijou, Ritsu...

- O quê? Maninho, eu não te ouvi. Fala de novo.

- A Tsubomi me beijou.

- Perdão? - Ritsu piscou atônito, deixando com que o garfo que segurava caísse de sua mão e quicasse no prato, fazendo um som absurdamente agudo - A Takane fez o quê?

- Sonhei que ela me beijava. Aqui - levou o dedo indicador a bochecha - Foi tão bom, eu... Eu queria que isso acontecesse de verdade.

Ritsu suspirou aliviado, sentindo-se culpado logo em seguida. O fato do irmão ter tido um sonho com a garota que gosta não era novidade, no entanto, Shigeo estava sonhando com mais frequência do que de costume. Ele não queria contar ao irmão, mas a verdade era que: Tsubomi gostava de outra pessoa - outro cara - Sabia disso porque a ouvira comentar em um encontro entre colegas, a qual Ritsu foi convidado apenas por fazer parte do Grêmio Estudantil.

- Que sonho louco, não? - respondeu, dando um sorriso que não chegava aos olhos - E-eu vou escovar os dentes. Acho que estou sem fome. Aproveita a panqueca, maninho.

- Uhum... - murmurou Shigeo com um grande pedaço de panqueca na boca.

-

Shigeo tocou uma, duas, três, quatro vezes a campainha de Teruki Hanazawa, pois os assuntos que tinha que tratar com ele eram urgentes.

- Kageyama? - perguntou Teruki através do interfone - Estou te vendo através da câmera de segurança, o que houve?

- Hanazawa, preciso da sua ajuda. É importante. Pode abrir para mim?

- Posso... Espere aí.

Ouviu-se o "clique" característico de quando é cordada a comunicação do interfone assim que Teruki terminou de falar. Não demorou muito para que ele destrancasse a porta, e Shigeo adentrasse às pressas em seu apartamento.

- Boa tarde para você também, Kageyama Shigeo - falou, pronunciando o nome do melhor amigo um pouco mais alto e num tom arrastado, algo que faz sempre que está chateado com ele, na tentativa de provocá-lo; sem sucesso, Shigeo nunca caia em suas provocações.

- Boa tarde - sentou-se em uma cadeira giratória do balcão da cozinha - Preciso da sua ajuda.

Os olhos de Teruki caíram sobre os lábios comprimidos de Shigeo quando ele o encarou, seus olhos estavam iluminados com algum tipo de esperança e nervosismo e, como sempre acontece, esqueceu-se rapidamente das provocações.

- Ajuda com o quê? - questionou, abrindo a geladeira da cozinha e pegando uma garrafa de água sem gás, bebendo-a lentamente.

- Hanazawa-kun, ensine-me a ser um bom namorado!

A água que Teruki ingeria escapou de sua boca numa explosão-cuspida, que ocasionou uma crise de tosse logo em seguida.

- Você está bem?!

- E-estou!- tossiu mais uma vez - C-como assim você quer que eu te ensine a ser um bom namorado?!

Teruki repetiu as palavras dele para ter certeza de que havia ouvido corretamente. Ele limpou a água que escorria do queixo e fez contato visual com Shigeo, as bochechas dele estavam vermelhas e, aquele brilho intenso de esperança, triplicou nos olhos escuros.

Soltou todo o ar que prendia num suspiro e, sem conseguir se conter, encarou a boca dele de novo. Merda., xingou-se, desviando o olhar para as mãos dele sobre o balcão.

- Eu quero conquistar uma... ah... Garota.

Ah, é claro que quer. Pensou Teruki, abaixando a cabeça e encarando as próprias mãos

-... e como você sabe mais de relacionamentos que eu, pensei que... b-bem.

- É a Takane, não é?

- O quê?

- A garota que você quer conquistar. É a Tsubomi Takane, não é, Kageyama?

- A-ah... Haha... 'T-tá' tão na cara assim?

Os punhos de Teruki se fecharam com força, amassando a garrafa plástica. Suspirou, colocando uma mecha do cabelo loiro brilhante para trás da orelha.

- Certo - encarou-o com um sorriso pequeno nos lábios -, eu te ajudo.

- Mesmo?

- Claro, você é o meu melhor amigo. O que eu não faria por você, cara?!

- Você é o melhor, Hanazawa!

Shigeo levantou-se da cadeira, andou em direção ao melhor amigo e deu-lhe um abraço apertado, escondendo o rosto na curva do pescoço dele; os fios de cabelo fazendo cócegas na bochecha.

- Quando você me abraça desse jeito, meu coração acelera, sabia? - falou sinceramente, num tom tão baixo que, se não estivessem próximos, Shigeo jamais escutaria.

- Vou te abraçar mais vezes, então.

- Por favor... - rodeou a cintura dele - Continue a me abraçar.

- Sempre - Riu, e as bochechas de Teruki ficaram vermelhas.

Shigeo, você realmente não faz ideia do que isso causa em mim?

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