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- Você quer que eu pegue gelo?- perguntei assim que vi Pedro sair do banho

- Não precisa, não tá tão ruim, amanhã deve melhorar - assenti e fiquei fitando o chão, pensando no que faria agora - você quer tomar banho?- o olhei

- Sim... Mas não sei como vou dormir com essa roupa

- Olha... Eu não tenho roupa de mulher aqui, mas posso te emprestar uma minha- sugeriu e eu ri anasalado

- Vou aceitar...

- Não é como se você tivesse muita escolha - deu de ombros e mexeu na mala - toma- puxou uma camisa e uma cueca da mala. Minha primeira reação foi uma crise de risos

- Me desculpa - disse entre as risadas - mas eu nunca vou vestir uma cueca sua

- Você que sabe- ele riu também e jogou as peças pra mim.

Segui pro banheiro e assim que fechei a porta desabei em chorar. Me sentindo culpada, envergonhada, suja.
Ao mesmo tempo que as palavras de Matheus reforçando que não era culpa minha ecoavam na minha mente, os xingamentos dele também. Não é porque me importo com o que ele acha de mim nessa altura do campeonato, mas sim porque tudo isso me fez visitar esse passado tenebroso que eu não queria que fizesse parte de mim.
Chorei tanto que sentia minha cabeça latejar, chegou um momento em que eu nem tinha mais lágrimas, e ai criei forças pra me levantar do chão e tirar a roupa pra tomar banho.
Quando tirei a blusa e me encarei no espelho primeiro vi minha maquiagem borrada e a minha nítida cara de choro. Depois desci o olhar até chegar na cicatriz em meu peito e senti meus olhos se encherem d'água novamente quando vi que o cordão que o Matheus me deu batia bem naquela altura. As suas palavras ecoaram na minha cabeça de novo:

"quero que você lembre de como é forte todas as vezes que olhar pra ele. Você consegue qualquer coisa que quiser nessa vida, Nina!"

Sorri me sentindo acalentada pela lembrança e limpei as lágrimas. Prometi a mim mesma que esse assunto não me abalaria e eu não choraria mais, afinal eu não tenho culpa de nada, nunca tive.
Entrei no banho e senti a água quente me relaxar, parece que agora toda adrenalina tinha diminuido e meus músculos finalmente podiam descansar. O estranho é que tudo nesse banheiro conseguia me deixar fora do eixo porque tinha Pedro por todo canto: o cheiro do shampoo, o sabonete, o desodorante e até a blusa que ele me deu pra vestir.
Quando sai do banheiro ele não estava no quarto, mas logo apareceu com um copo na mão

- Eu não sei se você tá com fome mas eu fiz um nescau pra você - ele me entregou o copo - é a única coisa que posso oferecer por enquanto- eu ri

- Tá otimo, obrigada!- agradeci sentindo meu peito esquentar

- Eu vou buscar o colchão lá embaixo e já volto- ele disse saindo

- Ei! - ele parou e deu meia volta, me olhando confuso - que colchão?

- Pra eu dormir - ele deu de ombros - até deixaria o quarto pra você mas não tem nenhum outro pra mim e eu quero dormir no ar-condicionado- se justificou

- Você se incomoda de dormir comigo?- perguntei receosa

- Não! Mas imaginei que você quisesse ficar sozinha... Sei lá

- Não precisa pegar colchão se não quiser, ou se trouxer eu durmo nele, não quero atrapalhar seu conforto

- Para de ser chata - ele estalou a língua e saiu do quarto antes que eu respondesse, mas logo voltou sem nada nas mãos - o colchão é de ar e ta furado- eu ri

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