Quem me nutre me destrói

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Passo a mão pelo veludo da poltrona. Respiro fundo. Está tudo bem, estou a salvo, estou no inferno. Malditas alucinações que me atormentam. Eu já tentei de tudo, símbolos, invocações, feitiços, nada adianta, nada me faz esquecer e a cada vez que elas aparecem eu me desespero.

- Senhora?

Abigail põe sua mão sobre o meu ombro. Já deve estar na hora, os feitiços devem começar, afinal é quase lua cheia, o dia é perfeito para fazer feitiços, perfeito para ficar mais forte.

- Tudo bem?

- Tudo.

- Já estão lhe esperando.

Sigo Abigail pelo corredor de pedras, iluminado por tochas, isso aqui parece uma prisão medieval, mas é só a minha casa.

Abigail não é uma bruxa, é apenas minha criada, uma pobre miserável que atravessou a fenda para o inferno, nós temos um acordo, eu faço feitiços para que ela fique viva e ela consegue sangue de virgens para eu me banhar, assim minha pele fica cada vez mais jovem e bela.

Os dias tem sido assim, passo parte de meu tempo fazendo feitiços, fortalecendo as tropas, afinal a batalha está próxima. Dias de sangue estão por vir e muitas de minhas irmãs terão a morte como futuro, mas tudo isso me deixa exausta e a cada vez mais nervosa.

Após uma curta caminhada chegamos a sala de feitiços, todo o meu clã está reunido. Essa sala é o local mais agradável do inferno, esse lugar me lembra minha casa. Ao invés de cheiro de sangue, cheira a livros, incensos e ervas.

- Podemos começar. - Digo me sentando.

As outras também parecem estar exaustas, mas temos obrigações e temos que cumprir cada tarefa que é dada.

Me sento a mesa e todas damos as mãos, Abigail passa óleo feito de madeira em seis velas pretas, posicionando uma de frente para cada membro do clã, depois as acende junto com duas velas azuis e as posiciona no centro da mesa.

Ainda de mãos dadas e agora de olhos fechados, repetimos o feitiço:

"Guias espirituais, protetores dos seres, nos escutem

Venham até nós e nos protejam

Observem a nós durante os rituais

e nos cubram com sua proteção"

Assim que terminamos o feitiço as velas se apagam e abrimos o livro das sombras. Antes que Abigail comece a preparar o próximo feitiço somos interrompidas por um anjo caído, seu nome é Aaron e ele é o mensageiro de Lúcifer.

- Espero que exista um bom motivo para estar nos interrompendo. - Digo.

- Nosso senhor quer lhe ver.

- Comecem os feitiços, volto assim que puder.

É sempre assim, quando estou fazendo algo importante ele me chama, como se minha atenção não pode se voltar para outra coisa, devo dedicar todo o meu tempo a ele e se não estou com ele estou cumprindo suas ordens. Há alguns séculos eu não me imaginaria nessa situação, eu só queria ter minha família.

- O que ele quer?

- Não sei, mas dessa vez parece importante.

- Sempre parece importante.

A medida com que nos aproximamos do castelo em que ele reside o calor diminui, perde sua força, dando lugar para o frio. Apenas três pessoas tem acesso a sala em que ele está, Aaron, um demônio de sua confiança e eu.

- Bom, você sabe o caminho. - Aaron diz.

Sigo em frente, o castelo parece grande por fora, mas por dentro não passa de uma construção alta, com um corredor e apenas uma sala no fim do mesmo. O corredor é revestido por um papel de parede vermelho, mal iluminado e o cheiro é horrível. Para que ninguém que não seja de confiança entre aqui eu criei um feitiço, ele confunde os outros fazendo com que enxerguem vários caminhos.

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⏰ Última atualização: May 24, 2015 ⏰

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Lacrimosa - Guiada pela luaOnde histórias criam vida. Descubra agora