O Céu Ficou Azul

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Já fazia dois anos que estavam livres, tiveram de sair da França e ir para uma área neutra no Canadá, e agora se viam vivendo em um casarão no meio do nada.

Matthew tinha um irmão no Canadá, um irmão de fato. Oween era o caçula entre todos os primos e definitivamente era o mais ingênuo, ganhando até de Ruth. Era bom que eles estivessem perto dele, principalmente visto que a guerra entre as bruxas e os lobos corria solto.

Estavam livres ali, pensavam que estavam livres. Porém, para a infelicidade da paz cotidiana que eles tanto queriam alcançar, vez ou outra um intruso aparecia.

Não eram os únicos querendo fugir da guerra, ocasionalmente forasteiros apareciam naquela área. Muitas das vezes nem se esbarravam direito, já em outras lhe ofereciam um pouco de comida para que pudessem seguir viagem, as vezes até faziam feitiços de cura para ajudar, mesmo nenhum dos três sendo tão bons nisso quanto Ruth.

Não eram bons samaritanos, na verdade Matthew sabia que beirava mais para o lado maligno, muito mais. Porém Ruth ainda estava no meio disso tudo, poderia ser ela no lugar daqueles miseráveis, e isso conseguia despertar um pouco de sua compaixão.

Intrusos assustados aparecerem era algo normal, mas aquela forasteira estava em um nível extremo, a mulher apareceu cambaleante e ensanguentada. Saimon, que tinha uma bússola moral muito mais forte que a de Matthew, correu ao socorro da mulher.

Matthew por sua vez ficou hesitante, sentia que tinha algo de errado. Conforme chegavam perto, mais o cheiro a entregava. Era uma lobisomem!

Ele pulou para trás e laçou um olhar de desconfiança a mulher, mas Saimon e Oween por outro lado não deixaram que a raça dela afetasse seus julgamentos.

– O que você está fazendo? – Oween perguntava a Matthew.

– Essa área não é deles, o que ela faz aqui? — foi tudo o que ele respondeu.

– Essa área é neutra! – Saimon retrucou – E ela não está em condições para apresentar ameaça nem para uma mosca. Nós melhores do que ninguém, deveríamos saber ser superiores a isso. – ele argumentou, enquanto pegava a mulher no colo e a levava para dentro com a ajuda de Oween.

Matthew os seguiu devagar, obviamente ainda desconfiado.

– Qual seu nome? – o caçula perguntou, quando a mulher Latina que começava a recobrar seus sentidos, enfim acordou.

– Deixe ela se limpar primeiro. – Saimon o repreendeu.

– Tudo bem – a mulher começou – Meu nome é Brenda, Brenda Lacerda.

– Eu sou o Oween, esses são meu primo Saimon e meu irmão Matthew. — o ruivo disse, mostrando uma gentileza que definitivamente não era esperada de alguém interagindo com uma estranha em um período de guerra.

– Muito prazer. – ela respondeu, enquanto levantava o corpo para ficar reclinada no sofá onde havia sido colocada.

– O que faz aqui? – Matthew perguntou, ainda se recusando a abaixar a guarda.

– Eu fazia parte dos lobos do norte, queria sair depois que entraram na briga contra as bruxas. Infelizmente não era algo tão simples.  – Brenda respondeu, enfim erguendo a cabeça, permitindo assim que Matthew percebesse seus olhos cor de avelã.

– Bem – começou ele – Não gosto da ideia de lobos por perto, mas já que ela está aqui o que custa ajudar? Pode ser útil.

Com certeza sua bondade repentina não tinha relação com a aparência da garota, ou com o fato de estarem em um local isolado com poucas opções. Bem, a quem queremos enganar? Como dito antes, Matthew é uma pessoa um tanto egoísta.

COMO O AZUL VIROU NEGRO. Vol1- "criança corrompida"Onde histórias criam vida. Descubra agora