OVERTHROW

PRÓLOGO

INSIDIOSA
Que arma ciladas, que induz em erro: questão insidiosa;
Característica de traiçoeiro, pérfido: pessoa insidiosa.

                           LYIAH DEVERAUX

Há algo errado.

Dirigi por muito tempo até aqui porque era o combinado. Durante todo o percurso eu senti calafrios, como se eu não devesse estar aqui. Mas estou. Perdi a conta das vezes que quis ser uma covarde e dar meia volta. Mas o que poderia acontecer, não é?

Estou parada na frente da casa, acabei de passar pelos grandes portões. Encaro a arquitetura que tem traços semelhantes aos da arquitetura grega. As enormes colunas tomadas pelo breu me fazem sentir minúscula, embora eu tenha uma estatura boa.

Não há nenhum carro lá fora exceto o meu, mas combinamos de nos encontrar aqui. Não sei se ele já está aqui, mas não há sinal nenhum até agora.

A beleza que vemos nessa casa durante o dia, parece assustadora ao cair da noite. Talvez seja o medo, mas até o cheiro muda. Todos os meus sentidos estão em alerta, o medo está me fazendo imaginar sombras e ouvir coisas, a casa inteira estala quando eu passo pelo vestíbulo e até quando não faço nenhum movimento.

A penumbra embaça a minha vista, mas eu já sei onde cada móvel está posicionado. A única coisa que posso ver com clareza são os degraus da escada, já que a janela do topo dá passagem para a luz da lua.

Minha cabeça gira a mil por hora, tão rápido que eu sinto vertigem. O que há de errado? O que eu deixei passar? Tento forçar o meu cérebro a me lembrar das pequenas coisas que foram captadas de todas as conversas, de tudo o que eu pesquisei, mas nada vem.

Quero gritar.
Ninguém aparece, estão zombando de mim?

Estou prestes soltar um comentário ácido para tentar disfarçar a minha aflição quando sinto meu celular vibrar na bolsa. Talvez seja um sinal do universo para que eu mantenha a matraca calada.

Ao abrir o zíper da bolsa, eu vejo uma silhueta masculina conhecida no topo da escada e respiro aliviada. Quero correr para abraçá-lo, mas há algo estranho. Sei que não posso baixar a guarda, independente de qualquer coisa.

— atenda. — ouço-o dizer de onde está.

Ele está contra a luz que entra pela janela, essa posição lhe dá um ar maléfico. Ele está lá, parado e escuro feito o diabo.

Eu sorrio, tentado disfarçar a estranheza.
— não é nada importante, posso retornar depois. —Tento, mas só recebo um olhar de reprovação e um manear de cabeça em direção a bolsa.

Assinto, franzindo a testa ao tentar entender como ele ouviu vibrar, mas pego o celular e atendo sem olhar o identificador.

— onde você está, porra? — a voz conhecida estala e algo no meu peito contrai — eu te disse para não sair daqui, você está bem?

— estou no castelo, eu vim...
Ele me interrompe.
— eu sei o que você foi fazer... — então ele pausa. — merda, você já está no castelo? Você foi voando? Pensei q ia conseguir te alcançar antes.

Suas palavras saem urgentes, sem me dar tempo para entender enquanto ele continua praguejando, me sinto angustiada. Aquela mesma angústia que você sente ao sair de casa à noite após assistir um filme de terror.

— o que aconteceu? — Pergunto franzindo o rosto ainda mais, se possível.

— olha, você tem que me ouvir — a voz dele baixa quase para um sussurro. — você precisa sair daí o quanto antes, por favor.

Isso me faz gelar, ele não me pediria algo assim atoa, ele não me diria "por favor" em uma situação normal, pelo amor de Deus.

Olho para a figura no topo da escada e ele ainda permanece lá, aguardando pacientemente, me analisando.

Eu tremo.

Quando encontro minha voz , sou interrompida pela voz do outro lado da linha, com algumas palavras ele faz meu mundo cair. A voz dele é urgente e desesperada quando diz:

— você não entendeu, você precisa sair daí agora. O homem que está aí não é quem você pensa. Você precisa correr.

Então sem nem pestanejar, eu faço o que nunca fiz. Eu confio nele e corro.

Corro.
Corro.
Corro.