Sarcasmo ou proteção?

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QUATERNOVOIS:
Em francês: encruzilhada. Decisão crítica Ou ponto de virada na vida de alguém.

REMY LAMOTTE

— então quer dizer que vocês fundaram uma empresa de segurança? — no instante em que Merliyah dá um sorriso sarcástico, sei que vou me aborrecer com o que vai sair de sua boca a seguir — quem é tão burro para confiar a própria segurança em vocês? E ainda pagar por isso. 

A maldita estala a língua como se achasse realmente um absurdo.

Ela parece perfeitamente composta agora, nem se iguala a garota frágil de instantes atrás, na cozinha. Nem parece a mesma pessoa.

Eu a acharia muito resiliente, se não tivesse identificado o leve tremor nas mãos.

Não consigo conter a facilidade que tenho de ler cada uma das suas expressões. É impossível conter a consciência que tenho do corpo dela.

Liyah não é mais uma garotinha e ainda não consegui identificar se isso é bom ou ruim para a minha sanidade, principalmente.

Nada sai como o planejado desde o sumiço repentino de Ben. Coisas saíram do nosso controle como não costuma acontecer. Benjamin sumiu e isso foi absurdo, tive que apelar para o nosso sistema de rastreio para achá-lo.

Admito que fui descuidado e apressado igual a um iniciante, não me dei conta para onde poderia estar indo, não pensei. E o tiro quase saiu pela culatra quando vi os olhos amarelos e cabelos castanhos que estão na minha mente todos os dias, na minha frente.

— eu te disse, cara. Ela não vai entender — sorrio, abertamente, agora é minha hora de atacar. — parece que o QI elevado da garota nota 10 se perdeu pelo caminho.

— o que você disse? — ela avança em minha direção, mas Benjamin a segura.

De tudo, insultar a sua inteligência é o que mais a deixa fora de si. Ser chamada de feia? (Mesmo que seja uma blasfêmia) Ok. Ser chamada de burra? Absurdo!

E ali eu sei que a atingi. Minha pequena guerreira sempre foi tão transparente para mim, vê-la se contendo e se saindo bem me deixa irado.

— Dá para vocês levarem a sério? — Benjamin respira fundo e toca o braço dela. Ele não parece muito paciente agora. — podem se matar depois.

— se você dá valor ao seu braço, largue o meu. — Liyah rosna. Isso. Ela. Rosna. E com um impulso súbito, solta seu braço do agarre do irmão.

Ben parece tão surpreso quanto eu. Mas disfarço, não quero baixar a guarda ainda, não tenho certeza do que ela se tornou durante esse tempo. E antes que alguém comente sua repentina frenesi, ela interrompe.

— agora, me expliquem o que diabos estão fazendo aqui além de tirar minha paz.

Ela conseguiu, mais uma vez se recompor e me tirar do sério em um espaço curto de tempo. O queixo para cima a faz parecer a maior pessoa da sala, mesmo que ela não tenha mais de 1,70 e esteja rodeada por dois homens de mais de 1,90 cm de altura.

Sento-me ereto na cadeira e uso o meu tom mais aristocrático para explicar:

— você não vive em uma caverna, então com certeza deve saber dos homicídios que vêm acontecendo ultimamente, certo? — sua atenção em mim é hipnotizante e excitante — bom, foi o que deduzi, vendo sua casa — gesticulei, girando o dedo indicador para enfatizar — mas com as suas ações, não sei... você parece um pouco arisca, só falta rosnar.

— Remy... — Ben fala, em tom de aviso.

Ela ergue uma sobrancelha, mas não diz nada. E não há nada em sua linguagem que indique que levou em consideração a provocação a não ser o leve tremor no olho direito.

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⏰ Última atualização: Jun 04 ⏰

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