Capítulo XVI: era uma vez jorgmundo

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Ainda era estranho observá-lo diante da mesma proa que ele. Mesmo que Yoongi já tivesse dividido o mesmo teto com seu irmão mais novo, jamais estiveram no mesmo andar; imagine estar ali, a passos de distância.

Sabia que o rei tinha tido outros filhos. Cada um deles devidamente celebrados. Muitos morreram sem que ele ao menos soubessem seu batismo. O único de seus irmãos do qual ele sabia algo, estava ali, sequestrado por sua tripulação.

Claro que toda aquela situação tinha um quê de absurdidade que ia muito além do que ele poderia imaginar anos antes daquele. Não poderia prever seu encontro com Namjoon, a amizade florescida entre a desconfiança, todos aqueles anos no mar.

Já conhecia os planos do capitão quando tudo o que tinham era a ideia de um navio. Sabia que em algum momento seu irmão estaria ali. Mas ele não esperava por alguém como Jungkook.

– Então eu devo usar esse nó e não o outro? – o príncipe perguntou enquanto analisava seu trabalho. Yoongi foi raptado de seus pensamentos.

– Hum? Sim, sim, esse nó – confirmou, se juntando ao mais novo na análise.

– Você sempre viveu em navios, hyung?

Yoongi nunca tinha dito a ele que podia usar o honorífico. Pensou em corrigir, mas não se viu capaz de nada daquilo. Sua ideia original era tratar Jungkook com cordialidade o suficiente para que beirasse a indiferença.

Sua ideia se limitou em ideia.

– Na verdade, estou no mar por apenas alguns anos agora – respondeu a dúvida do outro, que concordou. – E você, vivia há muito tempo naquela ilha?

– Não, apenas por alguns anos – Jungkook respondeu deixando o trabalho manual de lado para olhar nos olhos do colega de tripulação. – Mas eu gostava mais da ilha e da companhia do Tae-hyung, mesmo que sempre tenha achado a bíblia um livro muito estranho.

– Não era bom ser um príncipe? – Yoongi perguntou, não conseguindo conter a própria curiosidade.

Sempre se perguntou como seria ser mais do que um mero bastardo. Imaginava como seriam macias as camas, quentes as refeições, tranquilos os dias. Seu maior ressentimento para com seu pai não era o fato de que ele não o considerasse como seu filho legítimo, e sim o fato de que ele nunca o tratou como filho de forma alguma.

– Acho que nunca vive uma vida ruim – Jungkook confessou. – Nunca passei fome nem frio. Mas a vida que eu tinha antes era uma quase-vida e não uma vida inteira. Na verdade, eu morro de medo de que meus dias sob a terra se acabem sem que eu me sinta vivo, ou uma pessoa de carne e osso.

Yoongi se prolongou observando aqueles olhos redondos e soube que não devia se ressentir de Jungkook pela inocência que lhe deixaram manter. Não se viu capaz de contar a ele sobre quem era, porque no final das contas, nunca tinham sido nada antes daquilo.

– Você é um bom garoto, Jungkook-ah – se limitou em responder, recebendo um enorme sorriso.

Ao ver Singapura sumir no horizonte, Taehyung soube que aquela aventura estava perto de um fim. Depois que Namjoon resgatasse o tesouro do pai, ele e Jungkook estariam livres para partir.

Mas ele não fazia ideia do que fazer com essa nova liberdade. Ele poderia retornar depois de ter ficado tanto tempo com piratas? Depois de ter colocado a vida do príncipe em risco?

Ele queria voltar?

— Nosso próximo destino está muito distante? — perguntou a Hoseok que estava próximo a ele também vendo a ilha sumir no horizonte.

Protagonistas do Caos | TaeNamJinOnde histórias criam vida. Descubra agora