Encarei a mesa do jantar posta, as velas já estavam quase na metade. Encarei o relógio do outro lado da parede, já passava da meia noite. Foi quase impossível controlar as lágrimas que começaram a escorrer pelo meu rosto quando finalmente percebi que ele não viria mais uma vez.Apaguei as velas nos castiçais e cambaleei até a sala, me jogando no sofá abraçada a uma das almofadas. Deixei o restante das lágrimas que queimavam em meus olhos começarem a cair com intensidade.
Eu precisava parar de ser tão trouxa, achando que Samuel Beker realmente me amava, sendo que ele nunca fazia o suficiente para demonstrar. Faltava em quase todos os nossos encontros e depois aparecia no dia seguinte com um buquê de flores e um pedido de desculpas barato que sempre me comprava. Eu queria acreditar que ele era o cara certo, mas não sabia exatamente se o cara certo me faria sofrer tanto quanto ele fazia.
Ouvi o som da campainha e levantei quase que num salto do sofá. Será que era ele? Estava atrasado, mas deveria ter uma explicação pra isso. Eu ao menos esperava que tivesse uma plausível.
Passei as mãos pelo meu rosto afastando as lágrimas e logo depois pelos amarrotados do meu vestido. Respirei fundo e caminhei rapidamente até a porta, na esperança de que eu não tivesse chorado o suficiente para que ele reparasse.
Mas não era o Beker quem estava do outro lado.
Uma hora da manhã e o moreno de olhos intensamente azuis, quase cristalinos, cabelos escuros que caíam até a metade de suas costas e um terno todo amarrotado, com a gravata desfeita e os primeiros botões da camisa de baixo aberta, estava parado na minha porta. Primeiro eu vi um sorriso ladino em seus lábios que rapidamente se desfez quando ele encarou bem o meu rosto. Arqueou uma sobrancelha e vi seu maxilar trincar, conforme ele já ia adentrando meu apartamento numa postura de posse pelo lugar.
— O que está fazendo aqui, Nicholas? — questionei depois de perceber que ele não diria nada sem que eu tomasse a frente primeiro.
— Eu estava na festa de casamento de um amigo... E por coincidência outra pessoa também estava lá, bebendo e dançando com outras mulheres. — O Hammer começou a ditar enquanto retirava a parte de cima do terno, deixando dobrado sobre a borda do sofá. — E eu pensei; que enquanto ele se divertia lá, alguém deveria estar chorando em casa esperando por ele. Vocês tinham um jantar hoje, não é mesmo? — Não quis responder aquela pergunta, mesmo que eu tivesse contado para Nicholas mais cedo sobre estar ansiosa para aquele jantar com o Beker. Ele nem precisou de uma resposta clara, apenas olhou para o outro lado do cômodo, onde a mesa ainda estava posta. Soltou um suspiro que pareceu de frustração e veio até mim. — Ah, pequena, eu realmente sinto muito.
Quando os braços fortes do meu amigo contornaram meu corpo e eu tive a liberdade de esconder meu rosto contra seu peitoral, deixei que novas lágrimas caíssem, agora, molhando toda a camisa branca de botões dele. Mas que ele não pareceu se incomodar, conforme afagava meus cabelos em silêncio.
— Por que ele não me ama? Eu faço tudo certinho, me dedico totalmente a ele. Por que não recebo uma pequena porcentagem de todo o sentimento que eu doei pra ele?
Funguei e logo um soluço escapou pela minha garganta. Tombei a cabeça pra trás, encontrando as íris cristalinas do Hammer que me observava com uma expressão tão afável e quente que me fez sentir segura e acolhida. Tudo o que eu gostaria de sentir com Samuel, mas só recebia frieza e indiferença.
— Porque você está se doando totalmente para a pessoa errada — ele respondeu da forma mais gentil que pôde, afagando meu rosto com as costas de suas mão destra. — Sofia, não importa quanto amor você dê para uma pessoa, não importa se você entrega sua alma para ela. Se não for a pessoa certa para você, as peças nunca vão se encaixar e os sentimentos nunca serão recíprocos.
Balancei a cabeça de forma automática, me obrigando a processar aquelas informações que no fundo eu sabia que eram verdade.
Nicholas ainda estava abraçado a mim, seus braços me acolhiam de forma tão calorosa. E só naquele momento eu percebi que ele sempre estivera do meu lado. Todas as vezes que eu me sentia sozinha, ele estava lá. Todas as vezes que eu estava em prantos por algo que Samuel havia feito ou deixado de fazer, ele estava lá. Não importava a hora, se era de manhã, tarde ou madrugada, ele sempre vinha ao meu socorro quando eu o chamava. Ele largava tudo o que estava fazendo para estar comigo, isso quando não levava o trabalho pra minha casa só para poder ficar de olho em mim e garantir meu bem-estar.
Refletindo sobre tudo isso, percebo que a maioria das minhas lembranças se resumiam ao Hammer acomodado no meu sofá ou tomando conta da minha cozinha. As minhas lembranças tinham mais imagens dele do que do Beker.
— Por que você sempre vem ao meu socorro? — questionei logo de uma vez, vendo o olhar dele mudar para algo mais intenso, um brilho maior naquelas íris quase transparentes.
— Assim como você se dedica totalmente ao Samuel porque o ama, eu me dedico a você, pequena.
— Mas amar alguém que ama outra pessoa é tortura.
— Sim, é. — Ele assentiu vagamente, segurando meu queixo com o polegar e o indicador. Notei que seus olhos estavam fixos na minha boca e me senti extremamente tensa sobre a possibilidade de ele me beijar naquele instante ou não. Mas ele me surpreendeu ao selar seus lábios na minha testa, esboçando um pequeno sorriso. — Eu não me importo de continuar amando você, não me importo de dedicar uma parte da minha vida a uma mulher que ama outro. Porque amores são feitos de sacrifícios. Mas no dia que você quiser ser realmente feliz, eu estarei aqui.
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Sacrifícios Por Amor
Cerita PendekSofia sempre foi a namorada perfeita para Samuel, pelo menos aos olhos dela, o relacionamento deles tinha tudo para ser perfeito, ainda mais pelo fato de ela se dedicar tanto a ele. Mas uma noite em que mais uma vez ela havia sido deixada de lado pe...